Restou o (bom) futebol
O desfile da Paraíso do Tuiuti deste ano foi praticamente um Pato Amarelo Gigante de Troia enviado à Rede Globo. Quando os atônitos comentaristas se deram conta, o exército de escravos, de manifestoches com camisas da CBF e as carteiras de trabalho rasgadas já haviam tomado a avenida
O desfile da Paraíso do Tuiuti deste ano foi praticamente um Pato Amarelo Gigante de Troia enviado à Rede Globo. Quando os atônitos comentaristas se deram conta, o exército de escravos, de manifestoches com camisas da CBF e as carteiras de trabalho rasgadas já haviam tomado a avenida.
Era o Carnaval denunciando o golpe midiático-jurídico-parlamentar de 2016 pela primeira vez em rede nacional, ao vivo e com muitas cores. Justamente o Carnaval, a festa popular que os intelectuais e pseudo-intelectuais do viralitismo tanto chamam de alienante ou ópio do povo.
Se com a Tuiuti o golpe havia atravessado a bolha da esquerda e invadido a sala de jantar do cidadão de bem, há duas semanas, no auge da greve/locaute dos caminhoneiros, o golpe ficou completamente nu, escancarando que o cobertor é curto e não há como cobrir, ao mesmo tempo, a rapinagem do tal Deus-Mercado e as necessidades do povo.
Tanto que se o governo mantivesse por muito mais tempo Pedro Parente e sua política de preços que só interessa aos patrocinadores do golpe, aqui embaixo o prolongamento da paralisação poderia agravar a crise de abastecimento, a insatisfação de diversos setores - incluindo a própria classe média batedora de panela - e, quem sabe, levaria a uma revolta de maiores proporções.
Soma-se a isso outros efeitos do golpe como o desemprego na casa dos 13%, a economia estagnada sem sinais de recuperação, o dólar tentando disparar, a inflação de terra arrasada e a perspectiva de eleições fraudulentas, e temos aí uma sociedade adoecida, rachada, com seus nervos expostos, os esqueletos fora do armário e uma Copa do Mundo começando com 53% da população desinteressada, o maior índice desde que o Datafolha fez a pergunta pela primeira vez, em 1994.
Se a Seleção Brasileira ainda fosse comandada por Dunga e tivesse se classificado aos trancos e barrancos, com atuações sofríveis e vitórias nada convincentes, o desinteresse provavelmente seria ainda maior. Mas nesta Copa temos algo que não tínhamos desde 2006: uma seleção com jogadores de frente acima da média; e algo que não tínhamos desde 2002: uma seleção muito forte defensivamente, mas sem se limitar a isso, como em 1990 e 1994. Ou seja, pode ser campeã jogando bem.
Eu sei, amigas e amigos, a Copa do Mundo de 2018 não vai fazer o brasileiro esquecer seus problemas, não vai tirar o Lula da prisão, não vai unir o povo em torno de um “sonho” comum, como tentam os publicitários vendedores de cerveja de milho, muito menos aflorar o espírito patriótico em torno da “amarelinha”, como a imprensa tradicional vai forçar nos próximos 30 dias.
Mas a partir de amanhã, quando a bola rolar na Rússia, aquela chavinha Copa do Mundo que só aparece de quatro em quatro anos (me persegue desde 1982) vai virar. Na medida em que a seleção vença seus jogos, avance para as fases seguintes e, acima de tudo, jogue bem, tenho certeza de que o interesse vai aumentar. E, deixando de lado qualquer ufanismo, ainda estamos falando do país do futebol, que nesta Copa tem todas as condições de resgatar o futebol do país e aplacar um pouco a vergonha do eterno 7 a 1.
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