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    Paulino Cardoso

    Historiador, analista geopolítico e Editor do Mundo Multipolar

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    Revolução colorida em Moçambique?

    Após 16 anos de guerra civil, no início do milênio o país realizou uma série de reformas econômicas bem sucedidas

    Protestos em Moçambique (Foto: Reuters)

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    Moçambique é um país do sudoeste africano com cerca de 28 milhões de habitantes. Após 16 anos de guerra civil, no início do milênio o país realizou uma série de reformas econômicas, segundo o Fundo Monetário Internacional, bem sucedidas que levaram a um forte crescimento econômico.  O país que está a completar 50 anos de independência política, cuja capital é Maputo, tem sua economia associada à agricultura, ao turismo e possui um Produto Interno Bruto de 20,6 bilhões de dólares e uma taxa de crescimento 5% ao ano.

    Nos últimos tempos, além do retorno de empresários portugueses fugindo da estagnação econômica na ex-metrópole lusitana, Moçambique tem se associado a grandes investimentos estrangeiros, em especial do Eixo do Mal, os líderes do Sul Global, China e Rússia. 

    Recentemente, no âmbito do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), a repórter do Global Times, Yin Yeping, entrevistou Maria Gustava, Embaixadora de Moçambique na China, aventou as parcerias entre os países em especial, na Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), também conhecida como Nova Rota da Seda da China.

    Segundo a diplomata, o relacionamento entre Moçambique e a China cresceu rapidamente no setor econômico. “Temos visto investimentos e assistência significativos do governo chinês para o desenvolvimento de infraestrutura. Entre essas conquistas, uma ponte construída pela China em  Moçambique, tornou-se um novo marco como uma das maiores pontes suspensas da África, na Baía de Maputo.” Este sonho antigo custou cerca de 800 milhões de dólares, construído pela China Road and Bridge   Corporation e financiado pela China Exim Bank.

    Além disso, comenta Gustava, “estamos envolvidos em vários projetos de energia, dados os ricos recursos energéticos de Moçambique, bem como o desenvolvimento de parques industriais. As empresas chinesas estão interessadas em investir no desenvolvimento de energia, incluindo fontes renováveis ​​como a energia solar. Há muita coisa acontecendo em nossa cooperação que é interessante e emocionante.” Sem contar o forte investimento no desenvolvimento de recursos humanos.

    Quanto à Federação Russa, a insuspeita Voz da América em português, em matéria de novembro de 2023, chama atenção para as diabruras de Vladimir Putin e seus empresários no país do sudoeste africano. Nesta reportagem, de conteúdo negativo, informa-se que as elites políticas de Moçambique foram formadas na antiga União Soviética, possuindo, portanto, forte identificação ideológica. Não por acaso, o país recebeu 535 milhões de dólares do Banco VTB, e Moscou perdoou 95%da dívida do país em 2019.

    Neste mesmo ano, quando da visita de Filipe Nyusi a Putin em Moscou, foram assinados memorandos entre a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos de Moçambique e a maior petrolífera russa, Rosneft, que possibilita a presença da empresa russa na exploração de jazidas de gás natural em Moçambique, na Bacia do Rovuma, na província nortenha de Cabo Delgado, através do consórcio ExxonMobil.

    Entretanto, o que mais chama atenção dos ocidentais, é a parceria na área de segurança. O pesquisador Borges Nhamirre, ouvido pela VOA,  considera que Moçambique e a Rússia têm uma relação político-econômica muito forte, apontando para o fato da Federação Russa ter sido o primeiro país no mundo a enviar uma força externa para combater o terrorismo em Cabo Delgado, através do grupo Warner, atualmente African Corps - Corpo Expedicionário Africano.

    Além da importância geopolítica, vale a pena destacar que Moçambique possui uma posição geoeconômica vital para toda a África Meridional, por meio dos portos de Beira e Maputo,e outros corredores que permitem não só o tráfico de mercadorias moçambicanas, mas são chaves de acesso ao comércio exterior de países como Zâmbia, Zimbabwe, Malawi, Botswana e, mesmo, África do Sul.

    Uma rápida consulta ao Banco Nacional de Investimentos,(BNI), informa que na lista de projetos prioritários em discussão com parceiros, principalmente, chineses, está a modernização desses dois portos e a criação de um porto de pesca em Beira.

    O então, embaixador de Moçambique em China, Aires Ali, em entrevista no site do BNI, afirmou que Moçambique pretende construir novas infra estruturas ferro-portuárias, como é o caso do projeto de porto de Macese e Techobanine, ligando o Botsuana, África do Sul, Suazilândia e Moçambique e da linha férrea Beira-Machipanda, que liga Moçambique e Zimbabwe.

    É contra esse quadro que precisamos compreender a atual crise política no país do saudoso Samora Machel. Uma gigantesca violência pós-eleitoral foi deflagrada em Moçambique e que já levou a morte de várias pessoas, desde de que a autoridade eleitoral deu a conhecer a estrondosa vitória da Frente de Libertação Popular de Moçambique, a FRELIMO, partido que liderou a luta contra o colonialismo português, nas eleições presidenciais por mais de 70% dos votos, derrotando a antiga guerrilha, que nasceu apoiada pela PIDE portuguesa e a Africa do Sul do Apartheid, Resistência Nacional Moçambicana.

    O roteiro é o clássico já testado em toda parte, do Bangladesh à Geórgia, passando por Ucrânia, Brasil e Venezuela. Diante da recusa em aceitar o veredito das urnas, as forças de segurança entraram em  confronto com milhares de manifestantes na capital, Maputo, e em outras regiões do país, até o momento, duas ondas de protestos.

    Protestos organizados pelo principal candidato da oposição Venâncio Mondlane, 49 anos, que fugiu do país feito a venezuelana Maria Corina Machado, alega fraude eleitoral, pois seu partido, o Podemos, terminou em segundo lugar na eleição presidencial com apenas 20% dos votos. 

    Seguindo o roteiro, temos as manifestações das famosas ongs, segundo as quais, “uma demonstração brutal de repressão estatal” aos protestos resultou em pelo menos 34 mortes e centenas de feridos, de acordo com o Centro Moçambicano para a Democracia e Direitos Humanos (CDD). Mais de mil prisões foram feitas, informou a organização.

    Em seguida, vemos a repercussão nas mídias ocidentais, escolham à vontade, informando que os protestos pacíficos não são apenas contra o resultados das eleições, mas igualmente, fruto do desengano da população com um governo corrupto há quase cinco décadas no poder, que fere o princípio liberal-democrático ocidental de alternância no poder político.Eles deveriam estar felizes com a vitória de Donald Trump, não?

    Esperamos que o novo governo a ser chefiado por Daniel Chapo, que já recebeu as congratulações de Xi Jinping e dos parceiros de sempre, consiga tomar posse, atender  os reclamos legítimos da população e manter o país neste processo de crescimento econômico com inclusão social.Quem sabe, em breve, se reúna ao BRICS+.

    Fontes:

    Global Times:

    https://www.globaltimes.cn/page/202410/1321056.shtml

    VOA:

    https://www.voaportugues.com/a/rela%C3%A7%C3%B5es-mo%C3%A7ambique-r%C3%BAssia-de-influ%C3%AAncia-pol%C3%ADtica-a-interesses-econ%C3%B3micos/7337065.html

    Banco Nacional de Investimentos

    https://www.bni.co.mz/mocambique-discute-com-china-projetos-prioritarios-para-financiamento/

    Sputnik Brasil:

    https://noticiabrasil.net.br/20241109/brasil-acompanha-com-preocupacao-escalada-de-violencia-apos-eleicoes-em-mocambique-37286908.html

    RFI

    https://www.rfi.fr/pt/%C3%A1frica-lus%C3%B3fona/20241116-a-informa%C3%A7%C3%A3o-vai-continuar-a-passar-apesar-dos-ataques-%C3%A0-liberdade-de-imprensa

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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