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    Maria Luiza Franco Busse

    Jornalista há 47 anos e Semiologa. Professora Universitária aposentada. Graduada em História, Mestre e Doutora em Semiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com dissertação sobre texto jornalístico e tese sobre a China. Pós-doutora em Comunicação e Cultura, também pela UFRJ,com trabalho sobre comunicação e política na China

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    Rota de mão dupla

    A viagem do presidente da China ao Sul Global segue reafirmando que o presente e o futuro da humanidade é partilhar da paz que não pode ser imposta pela força

    Presidentes Lula, do Brasil, e Xi Jinping, da China (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

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    Quem gosta de pobreza é o capitalismo. Quem gosta de desigualdade é o neoliberalismo. Quem gosta de guerra, intervenção e vassalagem, é o imperialismo. Quem não gosta de nada disso é a China. O Brasil também costuma não gostar, e assim se estreitam os vínculos que aproximam os dois países. Neste novembro de 2024, a China baixou no Brasil para acompanhar o presidente Xi Jinping em visita oficial de chefe de Estado a convite do presidente Lula, que o receberá em Brasília, além de participar da reunião anual dos chefes de Estado e governo dos 20 países mais ricos, o G20, que teve o Brasil como anfitrião e terminou nesse 19 de novembro.

    O Brasil abriu a reunião, dia 18, lançando o programa Aliança global contra a fome e a pobreza, aprovado e firmado na declaração final do evento realizado no Rio de Janeiro. A iniciativa do presidente Lula reduziu ainda mais a distância no tempo e no espaço entre China e Brasil. Há pelo menos 46 anos, o Estado chinês vem praticando o que chama de alívio da pobreza na China, desde que Deng Xiaoping declarou que o socialismo não tem nada a ver com pobreza, flagelo que condena os povos à fome. Hoje, em todo o mundo a pobreza atinge cerca de 1 bilhão e 100 milhões dos 8 bilhões e 200 milhões de habitantes do planeta, segundo a Organização das Nações Unidas. Nenhum dos atingidos está na China. Há 4 anos, o governo erradicou a pobreza absoluta, cumprindo 10 anos antes a meta do Desenvolvimento Sustentável estabelecida pela ONU para 2030.

    Nos meses e semanas que antecederam o G20 e a visita de Xi Jinping, a China promoveu e segue promovendo intensa programação cultural em cidades brasileiras, marcando a importância das manifestações artísticas como meio de abrir as sensibilidades e possibilitar melhor entendimento entre os dois povos. Houve concerto da Orquestra Sinfônica chinesa com repertório sino-brasileiro, exposição fotográfica ‘Belo Brasil, Bela China’ acompanhada de álbum impresso com o registro de similaridades, por exemplo, entre capoeira e Kung Fu, Corcovado e Muralha da China, Escola e Samba e Ópera de Pequim. Em turnê por cidades brasileiras, a Companhia Nacional da Ópera de Pequim encerrará o calendário das atividades culturais.

    Também foi lançado em português o livro ‘Superar a Pobreza’, coletânea de discursos e textos de Xi Jinping pronunciados e escritos a partir do trabalho de base que realizou em Ningde, província de Fujian, quando secretario do Comitê Local do Partido Comunista da China no período de 1989 a 1990. Xi mostra que o desenvolvimento econômico e social da cidade se deu com a governança centrada no povo, fundamentada na realidade do país, na abertura para cooperação e benefícios mútuos, e espírito de reforma e inovação.

    No ‘Seminário sobre a Governança da China e do Brasil’, realizado em seguida ao lançamento do livro, os chineses destacaram a importância de regiões empobrecidas rejeitarem ideais empobrecidos e a resignação diante das condições de pobreza. “A redução da pobreza requer mudança de mentalidade e de atitude do governo e do povo.”, o que só é possível com a compreensão do território em que se vive, laços estreitos com o povo, funcionários e autoridades estatais com competências básicas e domínio das leis objetivas presentes na prática diária das pessoas. Salientaram que os métodos e formato das iniciativas precisam ser aceitáveis a quem se destina, do contrário o trabalho de conscientização não terá nenhum efeito. Ou seja, escuta do outro e nada de relação vanguarda-massa.

    A caminho do Brasil, Xi Jinping esteve no Peru para inaugurar o porto marítimo de Chancay. A vantagem das águas profundas de cerca de 18 metros e os 15 ancoradouros recebem navios de grande calado sem risco de encalhar. O mar é o principal modal de transporte comercial de mercadorias e a rota do Oceano Pacífico por Chancay integrará América Latina e Caribe e Ásia, em viagens reduzidas em até 20 dias proporcionado menores custos. Desde então, sem precisar mais utilizar o porto de Long Beach, na Califórnia. Em relação à Venezuela, na véspera o presidente Nicolás Maduro assinou a Lei do Acordo entre China e Venezuela de promoção e proteção entre as duas nações para o progresso dos investimentos, lei aprovada pela Assembleia Nacional.

    A viagem do presidente da China ao Sul Global segue reafirmando que o presente e o futuro da humanidade é partilhar da paz que não pode ser imposta pela força. Que o destino é a sociedade planetária do ganha-ganha, em que a soma do desenvolvimento soberano, harmônico e multipolar de cada um se afasta do jogo de soma zero em que alguém tem que perder para o outro ganhar.

    O artigo do presidente Xi Jinping publicado na imprensa brasileira antecedendo sua chegada teve como título ‘China-Brasil: Com futuro compartilhado e amizade que supera distâncias é hora de navegarmos juntos sob velas cheias’.  O texto ressalta que “o presidente Lula adotou combate à fome e à pobreza como um tema principal da cúpula e propôs o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, à qual a China expressa grande apreço e apoio”, e segue dizendo aguardar “também trabalhar junto com o presidente Lula para conduzir as relações China-Brasil a entrar nos novos 50 anos dourados e formar uma comunidade com futuro compartilhado mais justo e mais sustentável”.

    Por sua vez, o presidente Lula abriu a reunião de Cúpula do G20 dizendo que fome e pobreza são símbolos máximos da tragédia coletiva que assola o planeta, e “compete aos que estão aqui em volta desta mesa a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade”.

    Falando em mesa, veio à lembrança o então diretor do escritório do Alívio da Pobreza do Conselho de Estado da China que depois de horas de reunião em evento realizado em 2005 nos Estados Unidos, perguntou aos colegas: “Os senhores estão com fome? Gostaria de saber a quanto tempo não sentem essa sensação. Pois isso é o que sofrem todos os dias os que vivem na pobreza”.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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