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    José Reinaldo Carvalho

    Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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    Rússia-Ucrânia: Cessar-fogo por uma paz duradoura

    Mais vale uma abordagem realista e objetiva do que o simplismo e a pressa para abrir caminho à paz, escreve o editor internacional do Brasil 247

    Putin aparece trajando uniforme militar durante visita ao front em Kursk (Foto: Reuters)

    Por José Reinaldo Carvalho - Em um momento de tensões geopolíticas crescentes, o presidente russo, Vladimir Putin, deu uma resposta pragmática ao apoiar, em princípio, a ideia de cessar-fogo que inspira a proposta formulada após reunião entre altos diplomatas estadunidenses e ucranianos na última terça-feira (11).

    Durante uma coletiva de imprensa no Kremlin, nesta quinta-feira (13), Putin não apenas reconheceu a validade da ideia de um cessar-fogo, mas também destacou a necessidade de abordar as causas profundas do conflito e resolver detalhes importantes para garantir uma paz duradoura. Essa abordagem, longe de ser uma mera retórica diplomática, reflete uma visão realista e objetiva.

    Putin afirmou: "Concordamos com as propostas para cessar as hostilidades. A ideia em si é correta, e certamente a apoiamos." No entanto, ele foi além, ressaltando que "há nuances" que precisam ser cuidadosamente examinadas. Essa cautela não é um sinal de relutância, mas de responsabilidade. Um cessar-fogo sem considerar as complexidades do conflito, poderia levar a uma paz frágil e temporária, em vez de uma solução definitiva.

    O presidente russo enfatizou a importância de diálogos adicionais com os Estados Unidos, sugerindo até mesmo uma ligação telefônica direta com o presidente Donald Trump. Essa disposição para o diálogo é um sinal claro de que a Rússia está aberta a negociações, mas simultaneamente tem a intenção de garantir que qualquer acordo seja justo, equilibrado e sustentável. Putin também destacou que a Rússia determinará seus próximos passos com base na evolução da situação no terreno.

    No campo de batalha, as forças russas têm avançado de forma significativa, consolidando posições e isolando unidades ucranianas. Putin mencionou o controle total da situação na região de Kursk, onde as forças ucranianas estão cercadas e sem possibilidade de fuga. Diante desse cenário, uma trégua de 30 dias, como a proposta, poderia ser benéfica para a Ucrânia, mas Putin levantou questões pertinentes: como garantir que as tropas ucranianas deponham as armas? Como lidar com os crimes cometidos contra civis? A Ucrânia continuará durante a vigência do cessar-fogo a ser armada e treinada pelas potências ocidentais? Essas são questões que exigem respostas claras antes que qualquer cessar-fogo possa ser implementado.

    Outro ponto fundamental levantado por Putin foi a dificuldade de monitorar e verificar o cessar-fogo ao longo de uma linha de frente de 2.000 quilômetros. Quem determinará as violações? Como atribuir responsabilidades? Esses desafios técnicos e logísticos não podem ser ignorados, e a insistência de Putin em abordá-los demonstra uma preocupação genuína com a eficácia e a credibilidade de qualquer acordo. O chefe do Kremlin tem sobradas razões de duvidar do engajamento de Zelensky com qualquer acordo de paz e não aceita a exigência do líder ucraniano quanto às chamadas garantias militares por meio da instalação de tropas estrangeiras em seu território

    Putin insiste na prioridade de abordar as causas profundas do conflito, o que o leva a descrer de uma mera trégua temporária. Por isso, reitera as condições para a paz, que são as mesmas que ele declarou quando lançou a Operação Militar, em 24 de fevereiro de 2022. São elas: a Ucrânia nunca deve se juntar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan): reduzir drasticamente seu exército e proteger a língua e a cultura russa para manter o país em relações plenas e amistosas com a Rússia. Além disso, também exige que os ucranianos retirem totalmente as forças que ainda se encontram nas quatro regiões que passaram ao controle da Rússia durante o conflito.

    A Rússia também pontua que qualquer acordo de paz deve envolver o descongelamento de seus ativos em bancos na Europa e nos Estados Unidos, bem como o fim das sanções contra o país.

    Como se vê, a decisão sobre o cessar-fogo não depende de propostas simplistas e açodadas, porquanto o problema é complexo.

    Assim, mais vale uma abordagem realista e objetiva como a do líder russo para abrir caminho à paz duradoura.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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