Sai 2017, chega 2018, a resistência continua
Pode se dizer também, que, em 2017, o estado policialesco implementado pelos artífices da operação Lava Jato perdeu força popular e caminha para a "desMOROlização", muito mais em função dos excessos cometidos pelos papa-luzes da república de Curitiba, do que qualquer ação pensada ou desenvolvida pela quadrilha que se instalou no Planalto
O ano de 2017 se configurou para a esquerda brasileira como o ano da resistência... A pergunta, aliás, as perguntas que são feitas este ano está terminando são: a resistência produziu acumulo suficiente para enfrentar os desafios que estão postos para derrotar os vendilhões do templo Brasil? A esquerda brasileira está consciente do papel a cumprir nesta quadra histórica do nosso país? Existe por parte do povo, aquele que é soberano, ou, pelo menos, deveria ser, a compreensão do que está realmente em disputa nas eleições de 2018? Será que a população compreendeu que a composição da maioria deste atual Congresso Nacional não lhe representa?
São muitas as perguntas e, certamente, não as faço todas. Embora eu tenha a certeza de que o que servirá de luz para construção da saída da encalacrada em que os golpistas e entreguistas colocaram o país, transformando-o de locomotiva soberana perante o mundo, em vagonete dos interesses dos norte-americanos, serão as perguntas mais do que as respostas.
Pode se dizer também, que, em 2017, o estado policialesco implementado pelos artífices da operação Lava Jato perdeu força popular e caminha para a "desMOROlização", muito mais em função dos excessos cometidos pelos papa-luzes da república de Curitiba, do que qualquer ação pensada ou desenvolvida pela quadrilha que se instalou no Palácio do Planalto. O que assistimos neste momento é ascensão daquele velho ditado: "quando a esmola é demais, até o santo desconfia". O que me parece em relação a aliança jurídico-midiático é que ela carregou muito na tinta, ruge grosso e alto com o PT e o Lula e mia fino e baixo com os representantes dos interesses estrangeiros que assaltaram o poder, depondo uma presidenta honesta que não fazia o jogo do capitalismo rentista.
O Santo, no caso o povo, começou a desconfiar e a perceber que o combate a corrupção por parte da Lava Jato, não é sério, pois, se transformou apenas em instrumento para destruir o PT e o Lula, e promover esses agentes públicos politicamente. Aqui, também cabe algumas perguntas. Por que os operadores da Lava Jato atuaram para criminalizar as empresas brasileiras? Por que essa atuação não se desenvolveu com a mesma ferocidade contra empresas estrangeiras envolvidas e que foram delatadas? Por que colaborar tão ostensivamente com autoridades estrangeiras contra empresas brasileiras? Por que os procuradores e o juiz Moro viajam tanto aos EUA? São muitas as perguntas como eu já disse e, para quais, não tenho todas as respostas. Mas as faço por que aprendi que perguntar não ofende.
Agora passo a tecer alguns comentários sobre as perguntas, que não pretendem ser respostas prontas e acabadas. Sobre se a resistência, construída em 2017, acumulou o suficiente para enfrentar os desafios que estão postos para derrotar os vendilhões do templo Brasil em 2018. Não posso afirmar com segurança, mas acredito que a noção de cidadania que habitará a consciência popular no próximo ano, será muito mais ampla do que aquela que assistiu ao golpe em 2016. Colabora, em muito com isso, as ações do governo usurpador de direitos e a perseguição escancarada ao ex-presidente Lula, pela justiça e pelos grandes veículos de comunicação. Para tentar explicar isso, em relação a Lula, vou transcrever aqui uma declaração de um lavrador, há alguns dias, que me disse o seguinte: "essa perseguição ao presidente Lula é por que ele é nós, os pobres, Lula é o Povo". Nesta declaração percebo que reside o fato de que a opinião pública não é mais a opinião publicada. Isso, me parece ser muito bom e importante para o desenrolar do próximo período.
Quanto se a esquerda brasileira está consciente do papel a cumprir nesta quadra histórica do nosso país. Penso que o ano que agora se finda foi muito importante para o crescimento e aproximação da esquerda brasileira, mas me parecer que a unidade da esquerda não pode e nem deve se resultar apenas de uma necessidade conjuntural, precisa ser mais do que isso. É Preciso que toda esquerda compreenda a necessidade de comungar de um mesmo projeto de país e, que dado a diversidade de percepções, ele não será o projeto dessa ou daquela porção de esquerda e nem contemplará tudo que essa ou aquela parcela ou mesmo o conjunto da esquerda defende, por que numa sociedade complexa como a brasileira, o projeto que encantará o Brasil em 2018 não será aquele com fundamentos programáticos e ideológicos rígidos da esquerda, ele precisa ir além da esquerda, precisa alcançar importantes setores de centro para se tornar viável e vitorioso. Diante disso, o que posso afirmar é que não possuo elementos suficientes para afirmar se a esquerda está ou não consciente do papel a cumprir neste momento histórico.
Já quanto a compreensão da população do tamanho da sua força e do exercício de sua soberania sobre os seus dirigentes, o que posso dizer é na esfera do sentimento. Sinto que existe um descontentamento calado e individualizado que ainda não encontrou uma amalgama capaz de unir cada indivíduo e transformar esse descontentamento em um vigoroso movimento de protesto contra o descalabro imposto pelo governo usurpador-entreguista que está em curso. Percebe-se muito bem esse descontentamento, através das pesquisas de opinião.
Então, nos cabe aqui perguntar: Ocorrerá um fato que será a "gota d'água" "como ocorreu na Tunísia, quando um jovem teve sua banca de frutas e legumes confiscada pela polícia e ateou fogo em seu próprio corpo em protesto às condições de vida a que era submetido" para ser a liga capaz de transformar esse descontentamento calado e individualizado, como o que desencadeou a "primavera árabe"? Seria a condenação do ex-presidente Lula na segunda instância um fato motivador para a maioria de a população romper silêncio e balançar o País numa grande onda de protestos? Embora seja prematuro, da minha parte, afirmar isso, mas acredito que não, penso que a resposta a tudo isso poderá vir nas eleições 2018, com muito mais vigor do que o que ocorreu nas eleições de 1974 com a ditadura militar, quando o MDB elegeu 16 Senadores dos 22 cargos em disputa e 161 deputados federais das 364 vagas a serem ocupadas. Acredito que isso poderá ocorrer com a oposição tendo uma grande vitória sobre a situação em 2018, por que como disse inicialmente, a noção de cidadania, hoje é muito superior e, se, por um lado, não se pode contar com o apoio dos grandes veículos de comunicação - como instrumentos de mobilização - por outro, tem-se as redes sociais que equilibram um pouco esse jogo e, ainda, contamos com o fato de que a opinião pública não ser mais a opinião publicada.
Já em relação se a população compreende que a atual composição do Congresso Nacional não possui uma correlação de forças que lhe seja favorável. Penso que esta é uma questão um pouco mais complexa. Na verdade, do meu ponto de vista, a maioria da população não compreende bem a importância do papel exercido pelo poder Legislativo, bem como, não compreende o sentido dessa sanha desmoralizadora da política, perpetrada pelos meios de comunicação em muito corroborada por alguns agentes políticos. O cidadão, embora sinta na pele os efeitos das decisões legislativas, em sua maioria, a população, não faz essa ligação com o Parlamento, transferindo a cobrança de tudo ao Poder Executivo. E com a difusão deliberada de que a política é coisa de ladrão e bandido, torna-se natural, para o eleitor, que na hora da eleição ele precisa é mesmo tirar suas vantagens.
E, ainda, se hoje não temos o efeito da troca do pé de botina - prática dos coronéis donos de currais eleitorais antigamente - temos a compra legalizada de votos, através da contratação de pessoal, o que faz com que uma grande parte do eleitorado, passados apenas 6 meses, já nem se recorda em quem votou para deputado federal. Por que isso ocorre? Ocorre porque o eleitor não escolheu o seu deputado, em virtude do contrato de trabalho por uma quinzena para algum candidato, votou em número apresentado pelos gatos eleitorais, que intermediaram essa contratação. Diante disso, penso que os partidos, sobretudo, os de esquerda, alinhados com os movimentos sociais, precisam mover grandes esforços em defesa da política e na conscientização dos eleitores sobre a importância da escolha dos deputados e senadores para vida nacional e sua em particular.
Resta, ainda, comentar a questão se o povo percebe o que está em disputa nas próximas eleições. Embora eu não tenha levantamentos para afirmar que não. O que percebo, de senso comum, é que para a maioria do povo, seja de partido A ou B, de Esquerda ou Direita, governo é governo e tudo é quase a mesma coisa. Abro um parêntese aqui, para dizer que, a meu ver, os governos do PT, com o discurso do republicanismo, não contribuíram em nada para demarcar a diferença do que é um governo de esquerda de um governo de direita. Por isso, acredito que diante do exposto e da atual conjuntura nas próximas eleições, a esquerda brasileira tem uma grande oportunidade para demarcar essa diferença, se for capaz de marchar unida, já no primeiro turno, para se fazer perceber como um campo político ideológico portador de um projeto de governo que reúna um conjunto de propostas que vá ao encontro dos anseios e necessidade da população.
Encerro me comprometendo comentar as perguntas do terceiro parágrafo deste artigo em um outro, a ser publicado, brevemente.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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