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    Umberto Martins

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    Sanções à Rússia: a montanha imperialista pariu um rato

    Desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, que completou dois anos, as potências imperialistas impuseram mais de 16,5 mil sanções à Rússia

    Joe Biden e Vladimir Putin (Foto: Reuters | Reprodução)

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    Por Umberto Martins - Há poucos dias, Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido anunciaram novas sanções à Rússia. O presidente Joe Biden falou em 500 novas sanções, tendo por alvo quase cem empresas e indivíduos que terão suas exportações restringidas.

    O Reino Unido impôs novas proibições às exportações russas de metais, diamantes e energia, enquanto a União Europeia anunciou sanções a 200 organizações e pessoas alegando que ajudaram a Rússia a adquirir armas.

    16,5 mil sanções

    São notícias corriqueiras, que já não surpreendem nem despertam maior atenção na opinião pública.

    Desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, que completou dois anos, os EUA, o Reino Unido e a UE — juntamente com países com Austrália, Canadá e Japão — impuseram mais de 16,5 mil sanções à Rússia.

    Entre outras coisas, reservas russas em moeda estrangeira no valor estimado de US$ 350 bilhões — aproximadamente metade das reservas totais do país — foram congeladas, assim como cerca de 70% dos ativos dos bancos russos. Alguns foram excluídos do Swift, um serviço de telecomunicações financeiras internacional manipulado por Washington.

    Proibiram exportações de tecnologia, bem como a importação de energia da Rússia. Centenas de multinacionais, incluindo McDonald’s, Coca-Cola, Starbucks e Heineken, pararam de vender e fabricar produtos no país governado por Putin.

    O imperialismo também usou o dólar como arma para chantagear Moscou, assim como já tinha feito com a Coreia do Norte, o Irã e a Venezuela, com o propósito de impedir o acesso desses países ao sistema financeiro internacional.

    Um tiro pela culatra

    Quando Washington impôs as primeiras sanções a Moscou, arrastando as potências europeias para a mesma política, a mídia ocidental comparou as medidas a uma bomba atômica lançada sobre a economia russa e alardeou que a nação euroasiática seria precipitada numa grande crise.

    Previsões de um colapso econômico, com o PIB russo desabando em torno de 10%, orientaram os editoriais e comentários da mídia convencional no chamado Ocidente.

    Mas, supreendentemente para muitos, não foi o que ocorreu. O conflito inaugurou o seu terceiro ano e o resultado objetivo do desenvolvimento econômico mundial sugere que a montanha imperialista pariu um rato.

    Abusando dos ditados populares é possível afirmar ainda que o tiro saiu pela culatra.

    O que se viu, desde então, foi um progressivo isolamento do chamado Ocidente, conceito geopolítico criado pelos estadunidenses que não guarda maior relação com a geografia.

    Países asiáticos, africanos e latino-americanos não embarcaram na aventura americana e quem parece ter saído mais prejudicado nesta história foi a Alemanha e outros países europeus dependentes da energia fornecida pelos russos.

    Previsões sombrias

    De acordo com o Banco Mundial, o PIB da Rússia ultrapassou em 2022 os US$ 5 trilhões pela primeira vez, o que a colocou à frente das três maiores economias europeias pelo critério de paridade de poder de compra (PPP) – uma medida bem mais confiável que o dólar, cuja sobrevalorização é indicada pelo déficit comercial dos Estados Unidos, que fechou no ano passado em US$ 773,4 bilhões .

    O presidente russo, Vladimir Putin, comemorou. “Apesar, para ser franco, das previsões sombrias que às vezes soavam e continuam a soar por parte de alguns especialistas, principalmente, é claro, ocidentais, a Rússia, no final de 2022, ingressou no grupo das cinco maiores economias do mundo”.

    Os primeiros quatro colocados são a China, que se transformou na maior economia do mundo, os EUA, Índia e Japão. Ou seja, entre as cinco maiores economias do mundo três pertencem ao Brics.

    No ano passado, o PIB russo cresceu 3,6% e a renda da população avançou 4,6%, segundo informações do governo. Em contraste, a zona do euro estagnou, com uma variação próxima a 0,5% do produto interno. Os EUA cresceram 2,5% em 2023.

    Alemanha e Inglaterra estão hoje em recessão.

    Uso da “bomba-dólar” e desdolarização

    As autoridades russas salientaram em mais de uma ocasião que o país seria capaz de resistir às sanções que o Ocidente começou a impor a partir de 2014 e continua a intensificar.

    Verificou-se, na realidade, um deslocamento das relações econômicas da Rússia para países considerados em desenvolvimento, em particular para a Ásia e para a China, o que também ocorreu em detrimento do Ocidente.

    Segundo Xu Poling, diretor do Departamento de Economia Russa da Academia Chinesa de Ciências Sociais, de 2022 até agora o comércio entre Rússia e Europa teve uma queda de 70% e da Rússia com a Ásia um aumento de 70%.

    Aproximadamente 60% do fundo soberano da Rússia está em ativos denominados em yuan (RMB), e 40% das suas reservas cambiais também são ativos em RMB (renminbi, nome oficial da moeda chinesa).

    Neste e em outros sentidos, a realidade histórica indica que as sanções funcionaram como um tiro no pé.

    O uso do dólar como arma contra a Rússia ajudou a abalar a confiança da comunidade internacional na moeda estadunidense e precipitou os movimentos por alternativas, entre elas a criação de uma moeda própria do Brics, tema que foi pauta de sua última e exitosa cúpula, quando seis novos membros (Argentina, Irã, Egito, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes) foram admitidos (cabendo ressalvar que após a vitória do neofascista Javier Milei nas eleições realizadas em novembro do ano passado, embriagada pela ideologia anticomunista e antichinesa do seu novo presidente, a Argentina se retirou do Brics. .

    A tendência à desdolarização da economia mundial avança a passos largos, embora este seja um processo lento, que demanda anos. O valor da corrente comercial entre Rússia e China superou a ousada meta de US$ 220 bilhões estabelecida pelas duas potências para o ano passado e nada menos que 95% do intercâmbio de mercadorias entre China e Rússia já ocorrem sem a intermediação da moeda estadunidense.

    O Brics, que reúne um PIB maior do que o do G7, avança no debate sobre a criação de uma moeda própria, ao passo que o yuan vem sendo utilizado cada vez mais nas transações comerciais dos chineses com Mongólia, Filipinas, Malásia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Irã, Tailândia, Japão, Tajiquistão e Singapura.

    “Acrescentando o Irã, outro país às voltas com as sanções dos EUA, em breve os ‘petrodólares’ poderão ser substituídos na discussão pelos ‘petroyuanes’”, afirmou o economista Otaviano Canuto, ex-Diretor Executivo do FMI e ex-vice-presidente do Banco Mundial.

    O Brasil também fechou acordos com a China com o objetivo de viabilizar transações comerciais usando o real e o renminbi (RMB), descartando o dólar.

    Transição geopolítica

    A relativa impotência das 16,5 mil sanções aplicadas contra a Rússia ao longo dos últimos anos, assim como da “temível e poderosa” bomba-dólar e congelamento de metade das reservas russas, compõem em cores fortes o desenho do declínio dos EUA, bem como do chamado Ocidente, e da decomposição da ordem internacional alicerçado na hegemonia do dólar.

    É um sinal muito claro e convincente de que o mundo atravessa um momento de transição geopolítica e de que uma nova ordem mundial está a caminho. O parto histórico em evolução tem caráter objetivo para desespero dos imperialistas estadunidenses, cuja estratégia de conter a qualquer custo a ascensão da China e enfraquecer e dividir a Rússia revela-se ineficaz do ponto de vista econômico, mas pode transformar em realidade a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial.

    A respeito deste tema cabe lembrar as sábias palavras de Albert Einstein, que certamente conhecia bem os potenciais efeitos de uma bomba nuclear.

    “Não sei como será a Terceira Guerra Mundial, mas sei como será a quarta: com pedras e paus”.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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