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    César Fonseca

    Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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    Sanções americanas à Rússia detonam crise bancária global

    A jogada imperialista de Biden afetou grandes bancos ligados à vanguarda tecnológica

    (Foto: AYRTON VIGNOLA)

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    Vai ficando evidente que o tiro de Biden em Putin saiu pela culatra; as sanções econômicas americanas contra a Rússia pela intervenção na Ucrânia armada pela OTAN/EUA, para tentar mudança de regime em Moscou, produziram efeito contrário; não derrubaram Putin, que fez a reforma monetária nacionalista que abalou dólar e valorizou o rublo, apoiado pela China, e, com isso, fragilizou capitalismo ocidental, sujeito ainda mais às crise especulativas, como a que acaba de explodir.

    A jogada imperialista de Biden afetou grandes bancos ligados à vanguarda tecnológica, no coração dos Estados Unidos, como é o caso do Silicon Valley Bank(SVB), gerando um dominó que abala mercado financeiro internacional, fragilizando economia ocidental e seu carro-chefe, os Estados Unidos; com a queda do SVB, despencou, também, o Bank Credit Suisse, dominando pelos árabes, Saudi Nacional Bank, que se recusou a bancar sua queda acionária, colocando grana no negócio; ou seja,  foram para o sal dois grandes bancos internacionais, um americano, outro, europeu, ambos profundamente enraizados no mundo ocidental, anglo-saxão, cujas consequências são inflação e abalos na economia mundial financeirizada; os bancos perdem confiança dos clientes e contribuem para corrida bancária de modo a salvarem duas reservas ameaçadas.

    O grande emissor, o governo americano, com sua moeda, o dólar, está sendo abalado em sua hegemonia, e a palavra do imperador Biden é colocada à prova, especialmente, diante dos europeus resistentes em se unirem contra a Rússia e a China, no cenário de recessão a Europa; há os que são favoráveis a Biden salvar apenas o clientes e contribuintes do banco falido, mas a poderosa banca vem com a conversa de que se trata de negócio grande demais para deixar falir.

    O FED ficou entre a cruz e a caldeirinha; se puxa os juros para tentar conter inflação, como tem especulado, produz recessão; se eleva liquidez, como fez em 2008, pode produzir desconfiança no dólar, pois a dívida pública escalaria perigosamente; os derivativos de dólar que circulam na praça global já somam 188 trilhões de dólares, correspondentes a dois PIBs mundiais, segundo Paul Craig Roberts, do Instituto de Economia Política; juros mais altos para combater inflação podem elevar risco global; se correr o risco pega, se ficar o risco come; o governo, legalmente, banca 250 mil dólares de reembolso aos caloteados; se ficasse apenas nesse limite, diz Craig, Biden aplicaria o risco moral, mas a promessa que fez segunda feira de que não haveria prejuízo para ninguém, o que, na prática, é uma falácia, está sob pressão insuportável de Wall Street.

    NACIONALIZAÇÃO BANCÁRIA À VISTA

    A  questão central é a de que se salvar todos, o governo estaria dando largo passo na nacionalização dos bancos, diz importante empresário canadense, Kevin O’leary, apresentador de programa econômico popular, no país; a generalização da ação legal de bancos comerciais em agências de investimentos, depois de 1999, diz ele, criou distorções que levaram o mercado a cometer todo o tipo de abusos, transformando o sistema, sob a financeirização econômica global, em risco total, incontrolável; em 2008 já havia emergido o caos, que obrigou o FED a jogar na lata de lixo a política neoliberal que ainda hoje o BC Independente no Brasil insiste em praticar, para evitar que Lula governe com suas propostas sociais democratas de campanha eleitoral.

    O DESAFIO DE LULA NA CRISE

    Agora em 2023, a situação é bem pior; o FED lança dúvida atroz sobre Lula; se subir o juro nos Estados Unidos, garroteia ele no Brasil; isso obrigaria o PT e aliados da Frente Ampla buscarem outra estratégia de ação política diante de Congresso arredio à social democracia; o desafio para o presidente na crise bancária de 2023 será a busca de acomodação política com o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, na formulação de algo semelhante ao semipresidencialismo proposto pelo golpista Michel Temer, para aprovar as medidas sociais lulistas; estas exigirão redução dos juros impostos por Campos Neto, mediante apoio da bancocracia neoliberal, aliada aos conservadores de direita no legislativo; dessa forma, a crise bancaria pode ser fato novo capaz de criar condições favoráveis nesse sentido. Não é à toa que o líder do PT, deputado Zeca Dirceu, certamente, sob colaboração do seu pai, ex-ministro da Casa Civil de Lula, esteja sugerindo ao titular do Planalto aproximação mais firme de Arthur Lira, de modo a garantir governabilidade diante da crise bancária internacional que se aprofunda.

    NOVO CENÁRIO INTERNACIONAL

    No plano internacional, descortina-se aproximação mais intensa entre Putin e Jiping, relativamente, satisfeitos frente às dificuldades emergentes para Biden, que  o coloca na retranca quanto à guerra na Ucrânia; a bancarrota financeira, que se aprofunda, colocou a guerra no telhado; o presidente americano, diante de oposição interna mais acirrada, volta-se para a preservação do poder democrata, sob ataque dos republicanos, capitaneado por Trump; o ex-presidente culpa Biden pela guerra e aproveita a insatisfação popular com a corrida bancária desencadeada pela falência do SVB, para acumular forças na disputa eleitoral no próximo ano.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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