Saudação aos jovens que foram às ruas lutar por democracia
"A mobilização que ocupou as grandes capitais do país foi uma benvinda demonstração de apego a democracia e maturidade política", escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
Mobilizados em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e outras cidades, a juventude brasileira que foi às ruas neste domingo fez um movimento que ajuda a devolver o Brasil aos brasileiros e brasileiras.
Sim. Nas últimas semanas o bolsonarismo chegou a produzir uma encenação tenebrosa por todo país.
Com faixas inaceitáveis pelo caráter politicamente criminoso -- Intervenção Militar, fechamento do STF e outras barbaridades -- sua desenvoltura pelo espaço público produzia uma inquietante sensação de impunidade.
Exibindo-se por ruas e avenidas sem serem incomodados, até ameaçavam atingir o objetivo final de todo movimento que deseja implantar uma ditadura -- transmitir a noção de que nem vale a pena resistir, pois sua vitória seria uma fatalidade.
Desde as dez da manhã de ontem, quando já era possível acompanhar as primeiras imagens e ouvir as palavras de ordem de uma animada coluna de brasileiros e brasileiras pela Esplanada dos Ministérios, ficou claro que outra voz fala pela maioria da nação e não abre mão do direito de definir seu destino.
Num país que até então ruminava muitas incertezas e mesmo temores, surgiu uma mensagem clara daquela juventude que quer democracia, exige mais escolas e melhores empregos, e mira o exemplo dos protestos contra o assassinato de George Floyd, em Minneapolis, para lembrar que o racismo com farda policial comete crimes hediondos também no Brasil.
São exigências e reivindicações que o bolsonarismo não quer nem pretende resolver -- pelo contrário.
Num país onde a irresponsabilidade do governo Bolsonaro deu à Covid-19 a condição de escândalo mundial, os protestos poderiam ter sido enfraquecidos pelos temores em relação à saúde pública -- a ameaça de contaminação, que atinge toda a população, mas é particularmente grave junto aos 30 milhões que têm mais de 60 anos ou mais, integrando o chamado grupo de risco.
Reunindo uma massa capaz de tomar o caminho da luta num fim-de-semana carregado por adversidades, inclusive um lamentável ambiente de divisão política entre adversários do bolsonarismo, o país assistiu a um protesto de jovens e jovens adultos, que deixaram um exemplo de maturidade política e competência para travar a luta que o país precisa.
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