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    Paulo Henrique Arantes

    Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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    Se for fiel ao próprio pensamento, Galípolo trocará a receita ortodoxa contra a inflação

    O futuro presidente do Banco Central sabe que a solução ortodoxa para a pressão inflacionária costuma ter efeitos colaterais terríveis

    Gabriel Galípolo (Foto: Lula Marques/ Agência Brasil)

    Já fizemos isto neste espaço. Rememorar o pensamento econômico de alguém que está prestes a comandar o Banco Central será sempre salutar, pois imagina-se que essa pessoa não irá contradizer seus princípios apenas por ter assumido um cargo importante. Gabriel Galípolo vem aí. Do alto do seu novo posto, mandará esquecer que escreveu, junto com Luiz Gonzaga Belluzzo, o ótimo livro “Manda Quem Pode, Obedece Quem Tem Prejuízo” ?

    O capítulo intitulado “As Notícias do Mercado ou O Mercado das Notícias” é excepcionalmente bom, daqueles que fazem o leitor pensar: “poxa, que bom se um dos autores fosse presidente do Banco Central!”

    Referindo-se às colunas especializadas na mídia, cujos titulares são chamados de “discutidores de bonds”, Galípolo e Belluzzo mencionam o bate-bate na insistente tecla da “imperatividade da elevação da taxa de juros básica da economia como forma de contenção do processo inflacionário, que estaria prestes a fugir do controle no Brasil”. 

    Como o livro é de 2017 (Editora Facamp), percebe-se que o terrorismo com a inflação não vem de hoje, bem como a receita única anti-inflacionária da elevação dos juros. Para sorte de todos nós, o futuro presidente do Banco Central, ao lado do colega Belluzzo, sabe que a solução ortodoxa para a pressão inflacionária costuma ter efeitos colaterais terríveis. Confira o trecho a seguir, de Galípolo-Belluzzo:

    Está claro como a elevação das taxas de juros contém a elevação dos preços (inflação) decorrente de uma alta na demanda. Mas, ainda assim, não causa estranheza ao leitor que, ao longo de 2015 (nada mudou), a outra parte do caderno de economia do seu jornal, aquela que não fala sobre a inevitabilidade  da elevação nas taxas de juros, se dedique a expor a crise e o desaquecimento da economia, materializado justamente na queda da demanda?”

    Mas pérola do capítulo em tela encontra-se no seguinte parágrafo, uma micro-aula de lucidez econômica:

    “O estabelecimento automático de uma relação causal determinística entre inflação e ‘excesso de demanda’ (sempre!) faz paralelo ao diagnóstico de virose com recomendação de analgésico, antitérmico e anti-infamatório de alguns plantonistas de pronto-socorro. Ante as inevitáveis evidências de que a economia brasileira não passa por um cenário de ‘excesso de demanda’, não caberia uma investigação se o processo inflacionário teria outra causa?”

    A resposta é sim, cabe investigação. E cabe ao Banco Central, que estará a partir de janeiro sob a batuta de um dos autores desse belo livro. Que Gabriel Galípolo não repita Fernando Henrique Cardoso, dono da famigerada frase “esqueçam o que escrevi”.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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