Seja bem-vinda, Copa do Mundo!
“No trabalho, até semana passada, quando eu mencionava Copa do Mundo, achavam que eu me referia ao Mundial de críquete”, conta Pablo Nacer, direto da Austrália
Diferentemente das ruas do Brasil, que já estão entusiasticamente decoradas em verde e amarelo - por favor, não estou falando dos patriotas berrando o hino nacional ajoelhados na frente de pneus de caminhão ou das patriotas defensoras da liberdade declamando jogral da segunda série exigindo intervenção militar para serem censuradas, mas por conta da Copa do Mundo de futebol masculino que começa em pouquíssimos dias -, por aqui a coisa está bem devagar.
Ontem cedo, passei numa revisteria/lotérica/lojinha de papel de carta, cartões postais e souvenirs e perguntei se havia alguma publicação relacionada ao Mundial que não fosse o álbum de figurinhas. A resposta lembrou o nosso saudoso ‘tem, mas acabou’. ‘Sim, tinha cinco, mas vendeu’, disse o atendente. CIN-CO. Amigo, a gente mora no bairro que mais tem brasileiros na Austrália. Segundo o último Censo, de 2021, somos 985 Tites dividindo a mesma praia, sem contar os 359 sérvios ortodoxos - aqueles que se declararam praticantes da religião. Dee Why, nosso bairro, é praticamente o Grupo G da Copa do Mundo. Aqui só tem mais australiano e inglês do que brasileiro. E a distribuidora manda cinco míseras revistinhas da Copa do Mundo?
Aliás, quatro praias pra baixo, em Manly, tem mais uma enxurrada de Tites, além de 4652 ingleses e 926 norte-americanos. Ou seja, metade do Grupo B está lá. Perguntei na principal revisteria/lotérica/lojinha de papel de carta, cartões postais e souvenirs e a resposta foi basicamente a mesma. ‘Tinha sete, mas acabou’. SE-TE. Clima zero de Copa. O máximo que vi no caminho foi um apartamento com duas grandes bandeiras do Brasil e da Austrália, lado a lado, e um ônibus adesivado com Neymala, Messi e Cristiano Ronaldo anunciando que a SBS vai transmitir os 52 jogos ao vivo e de graça.
Sim! Saravá, SBS. Les Murray vive!
Um dos principais problemas, pra variar, vai ser o horário, e isso talvez explique o aparente desânimo aqui nos Estados Britânicos do Sul. Passando a fase de grupos, os jogos serão às 2h da manhã ou às 6h da matina. Na primeira fase, além desses horários, alguns poucos serão às 9h da noite (uma maravilha), outros à meia-noite e às 3h da manhã. Haja aditivos!
No trabalho, até semana passada, quando eu mencionava Copa do Mundo, achavam que eu me referia ao Mundial de críquete, que terminou no último domingo com a decadente Inglaterra (geopoliticamente falando, não no críquete) vencendo o recém-golpeado Paquistão (também geopoliticamente falando). E olha que trabalho num lugar absolutamente multicultural, que atende diretamente refugiados de diversas nacionalidades, incluindo vários países que tem o futebol como primeiro esporte. Pior, em Ashfield, onde fica o escritório, o espanhol é a sexta língua estrangeira (incluo o inglês, claro) mais falada e não há nenhuma referência à Copa, seja por parte de argentinos, uruguaios, equatorianos, costa-riquenhos, mexicanos, espanhois, enfim. Tô achando que é praga dos 171 mil italianos, a décima maior população estrangeira do país (australianos, evidentemente, são os forasteiros em maior número, seguidos por ingleses, indianos, chineses e neozelandeses).
Falando em 171, a minha esperança é o povo daqui estar no modo Bolsonaro, mas sem a bandidagem, evidentemente. Quem acha que o Jair anda quietinho por estar tristonho tá completamente enganado. Ele e seu milicianato estão conspirando e armando alguma coisa braba. Mas deixando a sujeira de lado, torço para que o pessoal aqui esteja quietinho para não se expor no trabalho, já que a produção nas próximas quatro semanas deve cair exponencialmente. Quero demasiadamente acreditar que estão planejando passar a madrugada em claro assistindo de Espanha x Alemanha e Uruguai x Portugal a Canadá x Marrocos e Coreia do Sul x Gana, fazendo aquele bolão na surdina em um canal exclusivo do Teams ou Slack batizado de ‘Foreign affairs 2022’, colecionando o álbum de figurinhas com a molecada e, claro, espero encontrar todos às 6 horas da manhã no pub em plena quarta-feira para assistir à estreia da Austrália contra a França, a atual campeã do mundo, e arrancar aquele empate maroto, uma vez que atuais campeões normalmente tropeçam na estreia.
Seja bem-vinda, Copa do Mundo!
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