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    Evilázio Gonzaga Alves

    Jornalista, publicitário e especialista em marketing e comunicação digital

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    Sete de setembro não vai definir o futuro do Brasil

    Ato bolsonarista na avenida Paulista (Foto: Reprodução (Redes Sociais))

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    O cenário indica que, quem mais pode perder com exageros do feriado da independência é Bolsonaro. Qualquer atitude que extrapole – a julgar pelas ações duras do STF e, mais recentemente, da PGR – pode resultar no afastamento do miliciano. Porém, dada à incompetência estratégica do gangster na presidência e dos que o cercam, tudo pode acontecer.   

    O dado mais importante da véspera do Sete de Setembro é a pesquisa do Instituto Atlas, divulgada pelo site Poder360. Segundo apurou o instituto, 30% dos PMs do país pretendem “ir com certeza” aos protestos a favor do miliciano instalado da presidência da República. Mais 5% afirmaram que “talvez” participem e 15% declaram que provavelmente não irão. Apenas 44% garantem que não pretendem ir às manifestações. 

    Na semana anterior ao feriado da independência foi também divulgada uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. De acordo com este estudo, 27% dos Oms do país interagem com os perfis do bolsonarismo radical. 

    Em 2019, o Globo somou 430.817 PMs em todos os estados. O índice apurado pelo instituto Atlas, portento se refere a um exército de 129.245 mil soldados treinados. Para comparação, o exército conta com 334.500, boa parte composta por recrutas, com menos de um ano de treinamento. 

    O contingente bolsonarista das PMs nem precisa mais contar com os arsenais das instituições, visto que Bolsonaro promove um verdadeiro derrame de armas no Brasil. Em 2018, eram 46 armas registradas por dia no país. Em 2021, são 387. Os registros de armas de fogo já haviam aumentado 120%, em 2020. Mesmo com o aumento registrado em 2020, a compra de armas privadas por policiais aumentou 116%, considerando somente no 1º trimestre de 2021. 

    Com isso, no começo de 2021, os policiais passaram a contar com 535.569 armas pessoais, crescimento de 4,9% em relação ao ano anterior, 510.578. é mais do que o efetivo total dos PMs em todos os estados. 

    As medidas tomadas por Bolsonaro permitem que os cidadãos comprem seis armas. No caso dos policiais a permissão chega a oito, incluindo duas armas de uso restrito, ou seja, armamento de guerra, que antes era exclusivo para as Forças Armadas. Para cada arma de uso restrito, podem ser compradas mil munições e cinco mil unidades para outros modelos.

    As regras para os Clubes de Tiro foram flexibilizadas. Além da liberação para a aquisição de armas de uso restrito, foi eliminada a exigência de um teste psicológico na Polícia Federal, passando a ser suficiente um atestado de um profissional de psicologia. 

    As liberalidades de Bolsonaro levam o país a uma situação aterradora, são 2.077.126 armas de todos os tipos nas mãos da sociedade civil, aqui incluídas as armas pessoais de policiais e militares e milhões de unidades de munição. Em alguns estados, como Alagoas o cenário é assustador, pois o crescimento do número de registros de novas armas chegou a 691% de 2020 para 2021, conforme o El País.  ano para o outro. De acordo com o jornal, a tendência é acompanhada —ainda que com menor força— pelos demais Estados.

    O veículo de origem espanhola ressalta que nos últimos anos dos governos petistas e, mesmo, no início do período golpista estava ocorrendo uma lenta redução no índice de assassinatos por arma de fogo no país, porém a partir de 2020, os números voltaram a crescer 4%. Os alvos, no entanto, mudaram. Houve a redução generalizada dos crimes patrimoniais, enquanto a violência contra a população LGBTQI+ aumentou. Nesta população, os homicídios cresceram 24,7% no ano passado.

    Na questão específica das PMs, diversos especialistas, segundo matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, consideram que o problema mais grave das instituições estaduais é a virtual autonomia. Até o golpe de 1964, as PMs e similares mantinha fortes vínculos com as oligarquias regionais. Foi com base no controle das PMs, que Getúlio Vargas marchou sobre o Rio de Janeiro (com apoio das forças policiais mineiras e paranaenses) e Leonel Brizola pode resistir, em 1961, na Campanha da Legalidade. A ditadura militar quebrou essa ameaça ao seu poder, definindo que as PMs e similares seriam formas auxiliares do exército. Entretanto, na prática o exército deixou os fios soltos, fazendo com que as polícias militares evoluíssem para o formato de instituições autônomas, com lealdade corporativa. 

    A inibição dos governadores contribuiu para cristalizar a autonomia das PMs. A Folha de SP registra que “as polícias militares e civis são estaduais, sob o comando de governadores. Na prática, no entanto, poucos deles exercem cotidianamente esse controle, em um jogo de acomodações e intimidações que já favorece uma autonomização excessiva das forças de segurança”.

     O cenário do sete de setembro

    O perspicaz analista Breno Altman, do portal Ópera Mundi, avalia que no Sete de Setembro pode acontecer tudo, inclusive nada. 

    Ele tem razão. Não é bom método de análise de conjuntura desprezar possibilidades. Por um lado, é evidente que Bolsonaro perde o apoio dos dois extremos econômicos da sociedade. Os mais pobres, lutando com dificuldades para sobreviver; e o primeiro degrau do capitalismo, descontente com as dificuldades para seus negócios globalizados, com a desmoralização do país, provocada pelo gangster na presidência. 

    O isolamento do governo dirigidos pelos milicianos e seus aliados cresce a cada dia, conforme as pesquisas registram. 

    Como apontou bem o jornalista Luís Nassif, em um dos seus últimos artigos da sensacional série “Xadrez”, o que resta ao bolsonarismo é a escória da sociedade. Segundo ele, ruralistas e garimpeiros, de olho nas terras indígenas; evangélicos e terraplanistas em geral; e as milícias propriamente ditas e as bases de policiais militares estaduais. 

    Eu acrescentaria ainda o lumpesinato do empresariado, com figuras como os donos da Havan, Riachuelo, Madero, Coco Bambu, além de outros predadores econômicos, aos quais devem ser acrescentados Paulo Skaf e as diretorias das federações industriais de Minas Gerais e 

    Bolsonaro tem plena noção do seu isolamento e dos perigos que o cercam. Além da possibilidade da prisão de pessoas no seu entorno (inclusive seus filhos), o gangster pode ser apeado do poder antes das eleições de 2022, que ele inexoravelmente irá perder.

    Como Bolsonaro e nem os militares, que ainda mentem apoio a ele, sabem governar, não é pela governabilidade que eles tentarão virar o jogo. A tentativa de escapar do cerco provavelmente ocorrerá através de canhestras estratégias, que misturam pensamento militar de baixa qualidade com práticas milicianas.

    O futuro do Brasil não será definido no Sete de Setembro. É mais um capítulo da série de terror, que ocorre no Brasil. No entanto é preciso atenção. O bolsonarismo, com todo o esforço de mobilização e o dinheiro, que está sendo investido, além do discurso histriônico do miliciano na presidência, tem algum objetivo nos eventos do feriado da independência. 

    Pode ser apenas uma foto, para medias as manifestações. Talvez seja o início de mobilizações concentradas em datas associadas ao falso patriotismo deles, sendo a próxima 15 de novembro. Ou é um evento destinado a reunir as bases, para mantê-las mobilizadas.

    Ninguém fora do núcleo duro de Bolsonaro tem como saber qual é o objetivo do Sete de Setembro bolsonarista. Não pode ser descartado que nem mesmo eles saibam, pois possuem imensas dificuldades cognitivas, portanto fazem as únicas coisas que sabem fazer: barulho e ameaças.

    Porém, como diz Breno Altman, pode acontecer tudo, inclusive nada. Mas se pode acontecer tudo, pode também ocorrer o pior.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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