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    Rodrigo Lamore

    Rodrigo Lamore é cantor, músico e compositor. Possui trabalho autoral e atualmente vive de shows voz e violão em barzinhos do Rio de Janeiro. É oriundo da cidade de Guanambi - BA e tem quase trinta anos de carreira musical.

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    Setembro amarelo, Crowhead e o rock underground consciente

    Vamos nos conscientizar e tratar, assim como faz a banda Crowhead. Expor os problemas e, incluir também nesse processo, a busca por soluções e ajuda

    Crowhead (Foto: Divulgação)

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    Já se foi o tempo em que o rock era apenas rebeldia desprovida de propósito. Na verdade, esse propósito chegou a existir de fato, nos primórdios, na década de 50, quando a população afro estadunidense se utilizava deste estilo musical para se expressar, num contexto de racismo generalizado, até ser engolido pelo capitalismo, simbolizado por Elvis Presley, se tornando depois o ritmo do sexo, drogas e rock n roll (e dinheiro). Mas o cerne do protesto contra o status quo ainda permanecia, apesar de tudo. Porém, a verdadeira consciência de que a arte deve estar a serviço não apenas do entretenimento, mas também em contribuir para uma sociedade melhor, mais justa, igualitária nos direitos e com respeito as individualidades, está nas novas gerações, principalmente aquelas nascidas a partir da década de 80 e 90. E no caso do rock, essas características são mais significativas na cena autoral underground. Um desses exemplos é a banda carioca Crowhead, que se dedica a elaborar canções que abordam assuntos ligados aos problemas da depressão e todos os sintomas e ocorrências decorrentes dessa enfermidade, como o suicídio, tema lembrado todos os anos no mês de setembro.

    Artistas que se inspiram em situações pessoais para comporem suas músicas sempre existiram. Na música, nas artes plásticas, no cinema; são bastante comuns. E a simpatia do público por obras desse gênero é bem forte pois, as pessoas se sentem ligadas a isso, já que a depressão atinge milhões de pessoas pelo mundo, muitas nem tendo a compreensão da sua existência. E as coisas só pioram, pois os familiares e amigos que deveriam oferecer apoio, descarregam ignorância e brutalidade em frases do tipo: “pare de frescura”, “vai trabalhar que a depressão some”, etc. No fim das contas, obras artísticas que tocam em determinados assuntos espinhosos não vão trazer soluções a esses tais assuntos. E é aqui que reside a grande diferença entre as gerações. Enquanto no passado tudo era apenas exposto, agora tudo é exposto e também resolvido (ou pelo menos se tenta resolver).

    Há agora uma espécie de militância natural, resultante do grande e facilitado acesso à informação, onde as pessoas se engajam na procura de soluções para problemas pessoais e coletivos, uma vez que ocorre o discernimento de que nada pode ser mudado ou superado se não houver a participação de todos, diferentemente da noção ultrapassada do egoísmo e individualismo selvagem. A banda Crowhead é fruto desse novo paradigma; da arte como forma de expressão, diversão e, ao mesmo tempo, caminho para a transformação. Por aqui você não irá encontrar um trabalho devoluto e despropositado. Adjunto as produções musicais, há o discurso do incentivo a busca de atendimento profissional qualificado, da importância do setembro amarelo, da ideia de que a depressão tem solução e o suicídio não é o caminho, de que a vida é o único meio em que podemos viver e resolver nossos problemas, sobre a desconstrução da identidade tóxica e errônea montada a partir de erros do passado e trazendo à tona o novo eu verdadeiro e limpo, etc.

    Apesar das letras em inglês das suas músicas, característica corriqueira no underground, é límpido a presença das questões apresentadas nesse artigo, no trabalho musical da banda Crowhead. Músicas como “Crank The Noise”, “Living Hell” ou “Judged By Time” discorre poeticamente as circunstancias de quem é acometido pela depressão, para então nos presentear com a luz e o calor do sol da esperança, de que tudo vai ficar bem e que há mais pessoas que sabem e estão dispostas a ajudar e dar a mão, pois a vida é o nosso maior dom e devemos vive-la ao máximo.

    Esse mês do setembro amarelo, que tem como lema em 2024 “Se precisar, peça ajuda”, serve como uma lembrança, como conscientização e como tentativa de quebra de tabu que ainda persiste na sociedade, mesmo com um número elevado de casos de suicídio no continente americano. Segundo o site setembroamarelo.com “...praticamente 100% de todos os casos de suicídio estavam relacionados às doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente. Dessa forma, a maioria dos casos poderia ter sido evitada se esses pacientes tivessem acesso ao tratamento psiquiátrico e informações de qualidade.

    Portanto, vamos nos conscientizar e tratar, assim como faz a banda Crowhead. Expor os problemas, e incluir também nesse processo, a busca por soluções e ajuda. Setembro amarelo. Se precisar, peça ajuda.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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