Silas Malafaia e o meta-alienado
O objetivo deste texto é aludir nossas lideranças, tanto cristãs, quanto políticas, para se pensarmos uma estratégia de neutralização o quanto possível dos discursos de Silas Malafaia e outros megainfluenciadores do meio evangélico
Começo esse texto pelo que colocaria ao final: “não, Malafaia, você não é alienado; é um canalha”! Nós, brasileiras e brasileiros, fomos surpreendidos essa semana com o que há de pior em termos simbólicos ao que possa significar a anti-civilização. Começou (no 7 de setembro) com Jair Bolsonaro reunindo milhares de pessoas nas ruas e milhões a ouvir pela tevê, pelos canais diversos nas redes sociais as bravatas e estupidezes desse déspota de araque que arranjamos para presidir uma das mais importantes nações da Terra. Após tantas agressões e blefes de golpes, suas falas medíocres estimularam os donos do Agronegócio a imporem a seus motoristas (empregados) que parassem o País, bloqueando centenas de rodovias estratégicas (no dia 8) a fim de obrigar o STF e o Congresso Nacional a que cumprisse as “ordens” do fascismo ébrio do Presidente da República. Forçado pela “mão invisível” do Mercado, preocupado com a economia já abalada a colapsar ainda mais, Bolsonaro chamou o (outro) traidor, Michel Temer a fazer o rascunho de uma carta aos brasileiros, recuando de suas falas golpistas no 7 de setembro; pedindo desculpas – mesmo que por entrelinhas – aos membros do STF; e clamando aos empresários da soja, milho etc., para liberarem as rodovias.
Tal carta do Presidente foi recebida por parte de seus apoiadores como um manifesto de traição àqueles que arriscaram sua vida e liberdade (o caso do bravateiro que mais se expôs no momento, Zé Trovão, que está foragido da polícia por atentar contra o STF e a integridade física dos ministros).
A indignação com o show de horrores da semana deixou de ser apenas da parte lúcida do Brasil; agora até mesmo bolsonaristas – alguns – xingavam seu “Mito”. Novamente a República ficou à mercê da dualidade (volatilidade) mental de Jair Messias.
Sinceramente, se fosse uma série ou novela mexicana, seria possível compreender cada dia como um capítulo de revestrés, com o vilão vencendo, hora; e a mocinha tentando chegar mais cedo no episódio derradeiro, aquele que se diz “final feliz”. Mas não! Falamos de uma República, de um povo vivendo sua “realidade”; sua para-realidade. Sinto-me na Matrix grotesca temperada com folclore brasileiro (era para ser divertido), entretanto, sem sorrisos e esperanças; apenas o assustador contido nos preâmbulos do mistério. Vivemos, portanto, a aberração das instituições e seus agentes sem noção. Para completar, no dia 9, após saber da carta de arrego[1] do Bolsonaro, indignado, Silas Malafaia divulgou em sua conta no Twitter a seguinte mensagem: “CONTINUO ALIADO, MAS NÃO ALIENADO! Bolsonaro pode colocar a nota que quiser, Alexandre de Moraes continua a ser um ditador da toga que rasgou a constituição e prendeu gente inocente. MINHAS CONVICÇÕES SÃO INEGOCIÁVEIS!” (mantida a escrita original). Parei para pensar: realmente, Malafaia não é alienado. Seu poder é outro: o de alienar pessoas; seus fiéis. Vou além. Sua influência é tão, mas tão imponente que o pastor na verdade baliza o comportamento de outros pastores, seja do baixo clero (aqueles lá da cidade pequena do interior), seja do médio clero (aqueles de cidades e igrejas grandes, com números incontáveis de “ovelhas”), seja do alto clero (aqueles que possuem canais na internet, ou são cantores gospels, ou têm milhares/milhões de seguidores na “net”).
Sobre este último, dou um exemplo: o pastor Cláudio Duarte, um influenciador potente no meio evangélico que faz discursos em tom de piada e arrasta em suas pregações nas redes milhares e milhares de pessoas. É como se você assistisse a um “stand up” e louvasse a Deus ao mesmo tempo. Isto é, se morrer de rir ali já vai direto para o céu (perdão pelo meu trocadilho meio sem graça; é apenas para ter um parâmetro do estilo do preletor). Somente no Instagram esse líder religioso possui quase 6 milhões de seguidores, sem contar as outras redes que replicam seus discursos. E porque menciono o Cláudio Duarte? Ele é influenciado por Silas Malafaia. Chamou seus seguidores para participarem das manifestações do 7 de setembro último. E, nos bastidores, o que se conta é que ele se expôs dessa forma a pedido de seu mentor. Cláudio Duarte é, portanto, um alienado que aliena – logo abaixo – seus fiéis seguidores, os meta-alienados. Finalmente, o objetivo deste texto é aludir nossas lideranças, tanto cristãs (as não-alienadas), quanto políticas, para se pensarmos uma estratégia de neutralização o quanto possível dos discursos de Silas Malafaia[2] e outros megainfluenciadores do meio evangélico (e mesmo católico, com menor profusão).
Confesso que ainda não sei bem qual é o caminho. Minha proposta é avaliarmos juntos as semiologias nascentes de influenciadores cristãos, seus meios de comunicação (que não é somente para a profissão de fé, mas para a profissão política), a pedagogia antagônica ao Estado laico, o esforço de eleger mais e mais deputados e senadores (e vereadores) a fim da implantação de uma Teocracia (ou, pior, um Estado fundamentalista aos moldes do Talibã). E tudo isso somente é possível por potência dessa gente de produzir e reproduzir a alienação e a meta-alienação. Hora de nossos estrategistas em comunicação nos orientarem como prover a contra-alienação dessa pobre gente residente na necessária transcendência que amplia a justificação da existência humana, ou brotarão aos montes mais convenientes – alienados – Malafaias a destruírem nossa razoabilidade de pacto civilizatório.
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[1] Essa palavra, “arrego”, compôs uma hashtag (#BolsonaroArregou) a se tornar um dos assuntos mais comentados nas redes sociais nessa semana.
[2] Quando falo que é um canalha e que de fato não é um alienado, é porque para continuar vivendo seu mundo de luxo e riqueza, Malafaia precisa de instrumentos da política (dados por gente como Bolsonaro). Isso ajuda a esconder a fortuna de certos pastores, os patrocínios com verba pública aos megaeventos e, mais ainda, as questões tributárias dos templos religiosos (sim, igrejas devem bilhões de impostos à União).
Segundo a Revista Forbes (que serve para medir riquezas pelo mundo), Silas Malafaia possui uma fortuna avaliada em 150 milhões de dólares. Sabe quanto dá isso em reais? Conta rápida com o dólar a 5 reais = R$ 750.000.000,00 (quase não cabia neste papel o tanto de zeros nestes milhões do Silas).
Sinceramente, isso está longe de ser um servo de Deus; um seguidor dos princípios autênticos de Jesus. Não passa de um falso profeta!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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