Silvio Almeida sucumbiu ao capitalismo
Ex-ministro simbolizava um lindo sonho de Brasil. Homem negro e intelectual no alto escalão do governo federal. Mas nesse sistema, o super-herói falhou
Sabe aquela pessoa especial? Caráter ilibado, valores morais fortes e altruísmo ao discorrer sobre o povo brasileiro. Defensor incansável das pautas progressistas, com discursos de proteção aos povos indígenas e à comunidade LGBTQIAP+. Sobre a questão racial negra, então, Silvio Almeida é um baluarte. Sem dúvida, um intelectual brilhante, com análises profundas e robustas. Silvio Almeida mostrou elegância e firmeza ao enfrentar a extrema direita durante o período em que esteve no governo. Ele sempre se posicionou como um homem musicalmente sensível, que conhece e valoriza, como poucos, os ritmos nacionais, a música negra brasileira e mundial. Literatura, cinema e fotografia também fazem parte do seu vasto cabedal de conhecimentos. Ou seja, ele tem inúmeras qualidades, ninguém duvida. Mas esse "super-herói", que acendeu a chama de importantes mudanças na comunidade negra, caiu. E sua queda foi triste, vergonhosa, vexatória. Calou fundo em muitos corações. Como alguém tão sábio, um jovem expoente da política nacional, pode ser acusado de assédio sexual? Pois é. Pode.
E pode porque o machismo que tomou conta do cérebro do ex-ministro nesses atos de agressão atroz contra mulheres é um elemento que fortalece o capitalismo. Contribui para manter a estrutura em que o homem, bem colocado na sociedade, se dá o direito de realizar seus desejos, mesmo sem consentimento. Tanto é que machistas empedernidos sempre estiveram no topo da hierarquia, inclusive à frente da nação. O inominável, aliás, se vangloria de tal postura. Não se pode esquecer que foi durante o capitalismo que impressionantes mazelas sociais surgiram ou se agigantaram: o colonialismo, a escravidão, o racismo, a fome. O machismo, vigorosamente presente na história do Brasil, permanece em nosso cotidiano capitalista, e o assédio sexual o integra. Não se pode negar que, no capitalismo, mesmo com as muitas formas de coerção, a objetificação das mulheres é algo comum. Mais: o sistema determina que as mulheres têm de estar sempre “disponíveis”.
É por termos ciência dessa conjuntura que as muitas mulheres que denunciaram Silvio Almeida não podem ser deslegitimadas em suas acusações. Elas devem ser protegidas de abusadores, isso sim. Essa é a pauta política nessa discussão: a proteção das mulheres em meio à exacerbação do capitalismo.
O Brasil e muitos outros países, na verdade, têm de amadurecer e ultrapassar o bê-á-bá: as mulheres integram a humanidade e são dotadas de inteligência. Elas, e apenas elas, devem decidir o que fazer com seus próprios corpos. Nenhum homem tem o direito de tocá-las sem a devida permissão.
Todas as pessoas que, há dois anos e meio, observavam o governo das trevas com repúdio viam em Silvio Almeida um sonho lindo de Brasil, especialmente a comunidade negra. Mas, neste momento, Silvio Almeida sai, acertadamente, do governo e da cena pública. A gestão Lula continuará forte na pasta de Direitos Humanos, em meio ao capitalismo e suas iniquidades, que atingem sobretudo as mulheres, especialmente as negras.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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