Sim, eu tenho Parkinson
Ontem, terça-feira, 11 de abril, foi “comemorado” o Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, mal que acomete cerca de 1% da população mundial acima dos 65 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A data me estimulou a escrever esse texto. Deveria tê-lo feito ontem, mas o dia foi tomado por uma lavagem de louça e a preparação de feijão e frango ensopado com aipim. No Parkinson é assim, uma coisa de cada vez e cada coisa no seu ritmo, dependendo do grau da doença.
No Brasil, estima-se que 200 mil pessoas sejam portadores da doença, causada pelo declínio contínuo das células produtoras de dopamina no cérebro, impedindo, progressivamente, a realização dos movimentos voluntários do corpo; Por causa disso, o portador de Parkinson vai perdendo a capacidade de controlar ou iniciar esses movimentos.
A doença atinge o sistema nervoso central e é caracterizada, inicialmente, por tremores nos membros e, com o tempo, no corpo todo, além de vários tipos de movimentos involuntários. Progressivamente, também, vão surgindo a rigidez, os problemas na fala, a perda do olfato, distúrbios do sono, alteração do ritmo intestinal e depressão. Pois é, depressão também.
Mas animem-se, atuais e futuros portadores da doença, pois “ninguém morre de Parkinson”, me disse meu neurologista há nove anos, em 2014, quando fui diagnosticado com a doença. Estava com 67 anos. Normalmente, a doença atinge os maiores de 60 anos, mas há casos em que ela pode se manifestar muito mais cedo, como foi o caso do ator Michael J. Fox, diagnosticado aos 29 anos.
Tudo bem, não se morre de Parkinson, mas a doença, que não tem cura, vai te consumindo aos poucos::os tremores e a rigidez muscular atrapalham, cada vez mais, na medida em que o tempo passa, os movimentos. Isso sem contar as dificuldades na deglutição e na fala. O que lhe obriga, se quiser ter uma qualidade razoável de vida, a fazer exercícios e fisioterapia o tempo todo. E fonoterapia. Isso sem falar na medicação (no meu caso a levodopa) que lhe acompanhará pelo resto da vida. Como o Parkinson é uma doença progressiva e degenerativa, a doença vai progredindo e piorando, independentemente do remédio. É só uma questão de tempo.
No momento faço hidroginástica especial para portadores de Parkinson (iniciativa da Tetê, minha esposa, e das minhas filhas, Juliana e Marina), e fisioterapia. Fonoterapia, fiz durante três anos seguidos, mas resolvi (sabe-se lá por quê) dar um tempo. Mas, prometo, vou retomar.
E também resolvi passar a tomar antidepressivo. Embora tenha resistido por tanto tempo a usá-lo, acho que chegou a hora - anteriormente, há cerca de 20 anos, fiz um tratamento com antidepressivo e ansiolítico por conta de uma crise de ansiedade (ou síndrome do pânico).
Tremer, em público, é muito desagradável, constrangedor. Mas, aos poucos, vou assumindo a doença e me mostrando mais, como nesse artigo. Fazer o quê, né?
Cozinhar, um dos meus maiores prazeres, está ficando cada vez mais difícil, mas ontem, como já registrei acima, fiz feijão e frango ensopado com aipim.
É difícil, sim, mas a gente vai tentando.
No momento estou pesquisando sobre o uso da cannabis (a popular maconha) no tratamento do Parkinson. Fiz parte, inclusive, como voluntário, de um estudo realizado pelas universidades Federal do Rio de Janeiro e Federal Rural do Rio de Janeiro, por intermédio do Grupo de Pesquisa de Cannabis no Parkinson.
Mas isso é tema de um próximo artigo.
Por enquanto, vamos em frente que atrás vem gente…
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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