TV 247 logo
    Pedro Benedito Maciel Neto avatar

    Pedro Benedito Maciel Neto

    Pedro Benedito Maciel Neto é advogado, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007.

    152 artigos

    HOME > blog

    Sim, o Papai Noel existe

    Ou, a redescoberta do Papai Noel pela Gabriela

    Papai Noel (Foto: DALL-E/IA)

    Faltavam duas ou três semanas para o Natal quando a Celinha chegou do cabeleireiro bastante inquieta; perguntei o motivo da irritação e ela me disse: “você não sabe; a filha do Alex me disse que Papai Noel não existe”. Ela estava mesmo indignada, pois a avó da Gabriela – esse é o nome da menina – negou a existência do bom “velhinho” e disse que “é tudo comércio”.

    A menina brincava no salão e, quando passou pela Celinha, disse: “você sabia que Papai Noel não existe?”. Leitor, imagine o impacto disso para uma mãe, hoje também avó, que ainda hoje: (a) coloca as meias de Natal para o Papai Noel; (b) transforma a montagem da árvore num evento familiar, do qual todos participam; (c) ainda faz as pegadas do coelho da Páscoa no chão, com farinha de trigo, para os filhos, já adultos, acharem os ovinhos; dentre outros tantos cuidados com o lúdico, instrumento de formação dos vínculos afetivos.

    De fato, o Natal tem um significado maior do que o representado pela troca de presentes, mas impor o desencanto a uma criança de dois ou três anos tangencia a maldade, pois o Papai Noel, um velhinho barbudo e barrigudo que se veste de vermelho (menos no Balneário Camboriú, onde a palermice viceja), é um personagem bom.

    O bom velhinho é conhecido por voar em seu trenó puxado por oito renas, suas ajudantes na tarefa de entregar presentes em todos os lares. Por que negar essa imagem de generosidade a uma criança?

    A lenda diz que ele passa de casa em casa e coloca os presentes dentro de meias, que são depositadas debaixo da árvore de Natal; que reside no Polo Norte, e outras versões afirmam que ele reside na Lapônia, região localizada no extremo norte da Finlândia (quando estivemos em Vaasa e Helsinque, na Finlândia, pensamos em ir à Lapônia visitar o Papai Noel, mas nos disseram que em julho o Papai Noel viaja para o Sul Global, onde a semente do futuro foi plantada pela História).

    Bem, voltemos à Gabriela, filha do Alex, e à indignação da Celinha, que andava pela casa dizendo: “o momento certo de dizer a uma criança que Papai Noel é uma lenda é apenas quando, e se, a criança passa a questionar a existência dele; meus filhos nunca questionaram; nós nunca nos preocupamos com isso”. Ela estava realmente brava.

    Caro leitor do BRASIL 247, algumas coisas não precisam ser ditas ou reveladas, pois elas são percebidas com o tempo e, quando tratadas com delicadeza, transformam-se em sentimento definitivo, positivo e motivador. Eu penso que o Papai Noel existe de alguma forma no coração de todos que acreditam que o bem, a justiça e a igualdade são o horizonte que a civilização deve buscar.

    Mas quando a Celinha fica indignada ou decide fazer alguma coisa, “sai de baixo”; nada a faz parar até atingir o objetivo. Eu estava lendo e um silêncio divino – emoldurado pelo som da abertura sinfônica “Los Passos” de Raul do Valle – dominava a casa, até tudo ser interrompido por uma ideia (as ideias da Celinha são, geralmente, barulhentas). Ela veio até mim e, segurando uma colher grande de madeira, disse: “vou trazer a Gabriela aqui para ela ver a árvore, o presépio e conhecer o Papai Noel”. Discordar da Celinha é perda de tempo, então concordei, e o plano de reencantamento da Gabriela teve início.

    Eu não imaginava como a Celinha apresentaria o Papai Noel para a Gabriela, mas não ousei perguntar a ela e muito menos duvidar dela.

    Fato é que, passados alguns dias, a Celinha chegou em casa com a menina; não sei o que disse a ela, mas nos seus olhos brilhavam, era possível perceber que havia muita expectativa neles.

    A casa estava decorada para o Natal: cores, muitas cores, além da árvore cheia de pequenas lembranças das nossas andanças pelo Brasil e pelo mundo, dois presépios montados, cada um com sua história (aliás, cada pequeno objeto é uma lembrança materializada dos quarenta anos de união, não sem dores, lágrimas, dúvidas e distância); há sempre muitos bonequinhos, natalinos ou não, arrumadinhos num baú mágico que surge nos dezembros e desaparece no “dia de reis”. A casa toda colorida e decorada, desde a porta da frente, é uma homenagem ao nascimento de Jesus (tudo existe pelas mãos da Celinha). A Gabriela ficou encantada e, como toda menina, perguntou “o que é isso?” centenas de vezes.

    Como eu escrevi acima, ela tinha cerca de três aninhos – talvez um pouco mais, não sei, as meninas são sempre tão inteligentes. Passou algum tempo, a deixamos na sala e fomos buscar o lanche. Mas, passados alguns instantes, ela chegou correndo na cozinha, abraçou a Celinha e disse: “eu vi o Papai Noel”. Foi emocionante; então a Celinha disse a ela: “não falei para você que o Papai Noel existe e gosta de você?”.

    A imagem da Gabriela voltando para os braços dos pais, carregando os presentes que o Papai Noel e o menino Jesus deixaram para ela, é definitiva nos nossos corações. Todos os anos, alguns dias antes do Natal, a Gabriela vai lá em casa e, creiam, o Papai Noel se faz presente.

    Acredito que o Papai Noel existirá para sempre no coração de quem é capaz de amar o próximo como a si mesmo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: