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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Só os fracos não reagem às ameaças de Bolsonaro

    “A nova citação do líder do golpe à ponta da praia ajuda a entender o plano para matar Lula, Moraes e Alckmin”, escreve o colunista Moisés Mendes

    Jair Bolsonaro durante participação em evento em Goiânia, 04/04/2024 (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)

    Passou por debaixo das pernas dos editores dos jornalões a nova ameaça feita por Bolsonaro, outra vez com o uso da imagem da ponta da praia. Foi mais uma frase acrescentada ao que as corporações de mídia tratam como banalidades da extrema direita.

    Como se fosse o chefe de uma facção alertando os inimigos, Bolsonaro disse em entrevista a uma TV de Santa Rosa, na zona da soja bolsonarista do Rio Grande do Sul, no dia 6:

    “Se tirar do governo a bandeira que ele defende agora, de que ‘salvamos a democracia’... salvou a ponta da praia, pô. Se tirar isso dele, o que sobra do Lula?”

    Se fosse preciso traduzir, Bolsonaro resumiu o que teria sido a grande missão de Lula: evitar que ele, Bolsonaro, cumprisse com a ameaça feita uma semana antes do segundo turno, em 2018.

    Falando pelo celular, em transmissão em vídeo para uma aglomeração na Avenida Paulista, no dia 22 de outubro, Bolsonaro avisou:

    “Perderam em 2016 e vão perder na semana que vem de novo. Só que a faxina será muito mais ampla. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós, ou vão para fora ou vão para a cadeia. Petralhada, vai tudo vocês pra ponta da praia”.

    A ponta da praia era a referência ao assassinato de inimigos da ditadura no entorno de um quartel da Marinha na Restinga da Marambaia, na zona oeste do Rio. Qualquer lugar clandestino, usado para a matança de perseguidos políticos, passou a ser a ponta da praia.

    O que Bolsonaro disse em Santa Rosa é que a única bandeira de Lula hoje seria a salvação dos que escaparam da ponta da praia. Não lá na ditadura, mas agora, se a extrema direita tivesse continuado no poder, por eleição ou por golpe.

    Lula salvou a democracia e os que poderiam, num segundo mandato bolsonarista, ver cumprida a promessa feita no discurso transmitido para a Paulista em 2018. Porque Bolsonaro 2 seria no Brasil o que Trump 2 será nos Estados Unidos.

    É assim, com a tática de conceder entrevistas ameaçadoras quase diárias, que Bolsonaro espera manter a intensidade da tática dos golpistas. Disseminar o medo e avisar que, assim como o trumpismo voltou, eles também podem voltar.

    Alexandre de Moraes deve ouvir todos os dias, pela voz de Bolsonaro ou dos filhos e de seus cúmplices, que ele pode retornar. É preciso meter medo em Moraes, em Lula, em jornalistas, no Ministério Público, nos advogados que ainda resistem dentro da OAB colaboracionista, nos professores, políticos, padres, estudantes, sindicalistas, líderes comunitários.

    E os manés que metam medo nos vizinhos, colegas, parentes e conhecidos. Bolsonaro está avisando que não desiste, porque acredita no imponderável, no fato novo, no tempo que favorece os criminosos e na interferência de Trump. Está certo de que Trump irá emparedar Alexandre de Moraes.

    A fragilização física de Lula vai encorajar Bolsonaro a ir em frente. Essa semana, por recomendação do que sobra de racionalidade, está mais quieto. Mas voltará a atacar, se sentir que Lula pode ficar fora do jogo de 2026.

    A obsessão com a ponta da praia, que Bolsonaro já citou outras vezes, além daquele 22 de outubro, explica os planos dos golpistas que pretendiam matar Lula, Moraes e Alckmin e as movimentações de fascistas que se rearticulam no interiorzão. Porque os manezinhos foram alcançados, mas os manezões continuam impunes e ativos, principalmente os endinheirados.

    Bolsonaro precisa manter a base atenta e organizada em torno dessa mensagem: a impunidade assegura, como assegurou a Trump, a possibilidade de retorno ao poder.

    Não para fazer o que fizeram no primeiro governo, mas para aperfeiçoar métodos de perseguição e para que se cumpra o aviso de que qualquer ponta da praia pode voltar a ser o cenário de assassinatos e de todo tipo de crueldade.

    Mas só os fracos continuarão recolhidos e omissos e não reagirão às ameaças de Bolsonaro e seus asseclas.  


    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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