A reaparição de Temer
Os tempos são outros, não dá mais pra nos empurrar goela abaixo personagens dantescas com o único propósito de apaziguar seus impostos atrasados e evitar que os anunciantes abram mão de farelos para equilibrar um pouco o jogo para o lado do “pessoal dos movimentos sociais”
Temos vivido do avesso, convivido com fatos cada dia mais surreais, como os últimos seguidores do presidente embarcando na fake news de um suposto estado de sítio e negando, mais uma vez, a realidade: um áudio de seu próprio líder.
É nesse cenário que ressurge Michel Temer para “mediar a paz” entre Executivo e Judiciário, garantindo a frágil cabeça de Bolsonaro (o que também é um espanto, pois pedido de desculpas até hoje não havia livrado ninguém da cadeia).
E vamos lembrar que “Xandão”, o herói da vez , é aquele mesmo nomeado por Temer, o usurpador, um dos maiores arquitetos e beneficiados pelo golpe contra Dilma e a Democracia – nas palavras dos próprios, o “grande acordo nacional, com Supremo e tudo”.
Xandão é aquele acusado de plagiar o trabalhinho de escola do colega, aquele que, ontem, a esquerda não queria de jeito nenhum no Supremo e cuja nomeação chegou a causar desgaste político a Temer, que mesmo assim manteve-se firme na tarefa de fazê-lo Ministro. Foi esse status de tutor e pupilo que conferiu a Temer o papel de moderador do babado todo (a perigosa e vexatória situação em que o próprio Bolsonaro se colocou, ao ameaçar nominalmente um Ministro do Supremo e - ainda mais grave - e desafiar a Constituição).
“Ah, mas esse raciocínio, nesse momento, enfraquece a Democracia, é mais um argumento para os bolsominions atacarem o STF”. Tá, mas eu reflito sobre fatos.
E os bolsominions estão se extinguindo, ao mesmo tempo em que sempre existirão e usarão qualquer coisa para comprovar suas teorias, sejam delirantes ou baseadas em fatos. Estão em extinção porque Bolsonaro vai deixando seu papel de líder à medida que deixa de vociferar, como um velho cão de guarda que perde a utilidade junto com os dentes. É certo que sua essência viverá eternamente em cada seguidor, pois seu grande feito na vida dessa gente vazia e ressentida foi autorizar o racismo, o machismo, a homofobia, a xenofobia, a inveja e todos os ódios que habitavam de forma mais ou menos secreta em cada um. Mas logo acharão outro profeta – um Zé Trovão, uma Sara Winter, um absurdo qualquer – para seguirem ladrando. E, nesse sentido, bolsominions sempre existirão.
Não dá só pra rir dos memes (hilários) que fazem pilhéria das maldades e trapalhadas de Bolsonaro, pois enquanto ele enlouquece a plateia e distrai as câmeras, Guedes pratica seu jogo ainda mais perverso de nos dilapidar e Mourão segue, ao lado dos três mil militares nomeados, se prepara sem estardalhaço para substituir oficialmente o bobo da corte, sem demonstrar qualquer vontade de descer a rampa tão cedo. A hora é decisiva demais, não dá pra confiar todo o heroísmo a Xandão. Apostemos nossas fichas na luz dos fatos e na pressão que podemos fazer em todas as instituições, ao invés de simplesmente replicar os memes de um único herói de momento ou apostar somente no Supremo como instituição salvadora. Arthur Lira deve escolher com urgência entre sair de cima dos 130 pedidos de impeachment ou responder por coautoria nos crimes de genocídio e desacato à Constituição.
E o restante do Congresso, que lute também. Que dê um basta, faça pressão, deixe de lado suas bases e jetons pra cumprir seu papel. E a imprensa omissa, que faça a sua parte sem ressalvas. Essa imprensa que ignora as torturas nos presídios e o ecocídio do Cerrado, perpetrado pelos “agro é tech, agro é tudo”, esses mesmos ruralistas que mantém Lira e toda a base bolsonarista na Câmara e no Senado, que bancaram os eventos de 7 de setembro e anunciam na Globo.
A Globo, que assim como Xandão, é agora defensora da Democracia. Que bom, embora seus motivos não pareçam republicanos, embora eu considere de grande ousadia e risco confiar em “aliados temporários”, como, infelizmente, temos historicamente praticado – como é que se luta contra o fascismo ao lado de fascistas?
Jamais devemos nos dar ao luxo de esquecer que essa mesma Globo, que hoje nos arrebata com seus editoriais anti-bolsonaristas, foi responsável pelo golpe, pra falar somente da história recente. Oi, dona Globo, você que tem essa dívida imensa com o Brasil, por favor, não promova para o lugar recém-desocupado de Bolsonaro mais um Zé babão. Um Sérgio Moro iletrado e quase tão limítrofe como o próprio presidente. Os tempos são outros, não dá mais pra nos empurrar goela abaixo personagens dantescas com o único propósito de abater seus impostos atrasados e evitar que seus anunciantes abram mão de migalhas dos seus zilhões que os levam à Lua para equilibrar um pouco o jogo para o lado do “pessoal dos movimentos sociais”. Esse pessoal é o Brasil, uma nação inteira que não tem mais como sangrar!
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Em tempo: Bolsonaro nunca quis o voto impresso "auditável”. Sempre foi cortina de fumaça, uma pauta vazia para 2022, uma deixa pra levar seus apoiadores às ruas. E eles foram. Adesivaram suas SUVs, encheram o tanque com gasolina a R$ 7 reais o litro, depois de esbravejar e fazer aquele adesivo desonroso da Dilma, pela gasolina a R$ 2,5. Pense! Pra quê tanta falta de vergonha na cara e burrice?
PT – Saudações aos interessados em reconstruir o Brasil depois que o furacão passar (e falo com os jovens, as mulheres e o movimento negro jovem, pois também é chegada a hora dos velhos esquerdo-machos pararem para pensar e ouvir sobre respeito e espaço de direito na política).
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