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    Robson Sávio Reis Souza

    Doutor em Ciências Sociais e pós-doutor em Direitos Humanos

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    Sobre guerra e paz

    "Além de tanques, armas, mortos e destruição, toda guerra é guerra de narrativas", escreve Robson Sávio Reis Souza

    Militares ucranianos caminham perto de um prédio escolar destruído por um bombardeio em Zhytomyr, Ucrânia, em 4 de março de 2022 (Foto: REUTERS/Viacheslav Ratynskyi)

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    Além de tanques, armas, mortos e destruição, toda guerra é guerra de narrativas. Cantar vitória, produzir imagens, sentimentos, emoções e crenças sobre um conflito é uma das mais eficientes estratégicas de  ação numa guerra, desde sempre.  

    No momento atual presenciamos uma guerra de narrativas: os Estados Unidos e seus aliados do chamado "ocidente" sendo, literalmente, apresentados como os bonzinhos, os protetores da "civilização". E a escolha de Putin como a encarnação do mal. Que mundo maravilhoso para os Estados Unidos se a Rússia tivesse um líder pífio, como foi Boris Iéltsin. Portanto, pintar Putin como o demônio, personificando-o como a encarnação do mal,  faz parte das narrativas bélicas. Mostrar mulheres, velhos e crianças ucranianas morrendo e chorando e esconder os grupos neonazistas, os grupos paramilitares e as guerrilhas armadas, os aliados de Zelensky, também é estratégia. Aliás, há analistas que afirmam que os Estados Unidos impedem o presidente ucraniano de negociar a paz. Existiria maior perversidade? 

    Para um país que desde a Segunda Guerra se considera o império mundial não há limites. Os Estados Unidos não têm compromissos com a democracia, a paz e a autonomia de nenhum país. Só tem interesses econômicos na relação com os demais países. 

    Obviamente, isso não justifica a invasão da Ucrânia pela Rússia.  

    Mas, é preciso ficar bem claro que numa guerra não há mocinhos e bandidos. Todos têm seus interesses e nem sempre os interesses são democráticos, humanitários e louváveis. 

    Aliás, são interesses expansionistas, religiosos, intervencionistas e econômicos que motivam toda guerra.  

    Mas, os papagaios de pirata do Tio Sam, ou seja, a mídia ocidental, contam uma versão das histórias de guerra; não, necessariamente, a verdade sobre a guerra. Assim, um dos erros mais crassos de qualquer analista é reproduzir as narrativas da guerra produzidas pela mídia ocidental como se verdade fossem.   

    É claro que Putin também tem interesses imperialistas; é óbvio que a Igreja Católica  Ortodoxa Russa tem seus interesses expansionistas; é claro que a Europa, acéfala de lideranças, prefere se capitular aos Estados Unidos a construir uma política de integração (e não de exclusão) com a Rússia.  

    Porém, é fato que a Rússia estava sendo cercada e acuada pelos Estados Unidos desde a queda do muro de Berlim e nenhum país que deseja ser autônomo (e não uma republiqueta de banana como o Brasil) quer que seu quintal seja cercado pelos mísseis e ogivas nucleares do inimigo, sempre ávido de petróleo, riquezas naturais alheias, etc. 

    Portanto, é óbvio que os Estados Unidos produzem narrativas sobre guerras para justificar seus interesses econômicos, expansionistas e imperialistas. Justificada a guerra, tratam de produzir a destruição e a devastação do "inimigo de ocasião". Assim, atendem em primeiro lugar sua indústria bélica, razão de ser, e depois suas demais indústrias e empresas que vão "reconstruir" os países que eles mesmos destruíram, além de roubarem as riquezas locais e o maior ativo de uma nação, a sua honra, deixando as nações invadidas destroçados e de joelhos.  

    Nesse sentido é preciso ficar bem claro. Os ucranianos, por serem europeus, não são mais humanos que outros humanos destruídos pela sanha imperialista estadunidense em tantas outras guerras.  

    Ou seremos contra toda guerra, portanto anti-guerra e sempre pela paz, ou estamos fadados às narrativas do bem e do mal produzidas, sob medida, pelos senhores da morte: os donos das indústrias bélicas, do petróleo, dos minerais, da energia, da construção, das telecomunicações etc. que são os grandes vencedores das guerras.

     Uma última nota: para aqueles "democratas empedernidos" desta "terra de Santa Cruz" que achavam que o Partido Democrata dos EUA seria melhor para o Brasil que os Republicanos, não esqueçam: o golpe de 2016 no Brasil foi urdido durante o governo Obama. Alguém crê que Biden quer a restauração da democracia de fato no Brasil?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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