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    Rogério Puerta

    Engenheiro agrônomo, atuou por doze anos na Amazônia brasileira em projetos socioambientais. Atuou em assentamentos da reforma agrária no Distrito Federal por dez anos e atualmente vive em São Paulo imerso em paixões inadiáveis: música e literatura. Escreveu diversos livros

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    Superstições para o ano entrante

    A figa de sua mandinga é destra ou canhota?

    Ebó de candomblé ao ano entrante numa encruzilhada (Foto: Rogério Puerta)

    Por Rogério Puerta

    Entrante e sainte existem, formais na língua portuguesa, não são falas populares coloquiais errôneas.

    "Nunca uma seleção de futebol na Copa foi campeã após perder a primeira cobrança de pênaltis". "Nunca uma seleção foi campeã com técnico estrangeiro". "Nunca uma seleção ganhou jogo após entrar o segundo tempo com mais de 70% de jogadores reserva". Estas podem até nem serem estatísticas reais, não importa, quaisquer destas três citadas, pois não fazem diferença, havendo ou não havendo tais dados aleatórios dá na mesma.

    "Nunca na redemocratização um presidente brasileiro não foi reeleito". Quebrou-se tal tabu, isto é verdadeiro, se procurarmos dados do Congresso Nacional aparecerão outros tantos fatos inusitados dentre os assentos ocupados no Senado e Câmara Federal.

    Nos EUA Trump foi dos poucos a não se reelegerem em cem anos, muito preocupante o hábito brasileiro em imitar estadunidenses. Por um processo de imitação, amantes da teoria QAnon, os seres reptilianos satanistas pedófilos bebedores de adrenocromo, tais crentes aparecerão aqui aos montes. Siga o líder, um comportamento infantil. Mas no caso da não reeleição brasileira foi ao bem, melhor ao mundo a não permanência no poder do capitão neofascista fundamentalista-religioso.

    Tabu por si só já é bem controverso, o tabu. Que não se fale, jamais, se alguém pronunciar tal palavra ou assunto amaldiçoado sofrerá maus agouros eternos, a língua queimará de forma implacável, uma ira etérea sabe-se lá vinda de onde. O azar dominará de forma ampla tanto o corpo quanto a alma do ousado infeliz.

    A chance matemática, ciência, de você acertar a megassena, mais correto assim, palavra junta com dois esses, a chance de você ganhar com uma aposta única um, dois, três, quatro, cinco, seis, é exatamente a mesma chance de qualquer outra aposta com seis outros números completamente aleatórios. Mas ninguém é tolo de apostar de um a seis, por achar que será impossível ganhar, que a tentativa soa ridícula e ingênua.

    Você, há pouco, torceu pela seleção de futebol masculino brasileira na Copa do Catar, e não foi pouco, torceu mesmo, passou nervoso, tenso sofreu, explodiu em alegria por breves momentos. De uma forma algo pejorativa e, talvez, preconceituosa, você bem se lembra de uma piada contada por alguns: "Se macumba desse certo todo campeonato baiano terminaria empatado".

    Se a torcida, o ato de torcer funcionasse, o Brasil com 200 e tantos milhões de entusiastas, China e Índia cada qual com seu mais de um bilhão de habitantes, tais enormes contingentes de torcedores, energia e fluidos canalizados para um único objetivo, tal energia inexoravelmente influiria junto ao andamento dos acontecimentos, faria a história humana moldada por este fato, a vontade e o desejo. Mas não.

    Similares são as rezas, as orações que a sua vizinha do bairro, crente fervorosa, entoa com paixão, com fé, muita emotividade, brilho nos olhos, palpitar das veias do pescoço, uma vocalidade que demanda enorme energia e vigor vindas de uma mulher frágil de meia-idade.

    Alguns experimentos controlados houve, coleta de dados científicos, acurados, com correta estatística aplicada. Grupos numerosos de pessoas a orar com um único objetivo, um foco, a recuperação médica de um enfermo grave conhecido pelos autores das rezas.

    Em alguns experimentos, a maioria, não houve a convalescença, sequer qualquer estancamento dos sofrimentos decorrentes de determinada patologia, mas em outros casos sim, as orações de fato pareceram fazer sentido. Um jogo de probabilidades, provavelmente, assim alegam os estudiosos. O popular "Pode ser que sim, pode ser que não".

    Bem conhecida é a influência de um placebo ao organismo humano, também a somatização ao corpo de reflexões várias da mente, ação do cérebro, sejam estas positivas ou negativas.

    Porém nem tudo são pessimismos e cenários lúgubres acinzentados e gélidos. Um mesmo enfermo vitimado, num outro caso estudado com método científico, estatística aplicada, em tratamento intenso contra uma modalidade qualquer de câncer.

    Tal paciente em intenso sofrer, caso se esforce, sua mente, o fator psíquico, caso procure visualizar, imaginar, divagar por paisagens aprazíveis que lhe tragam serenidade e bem-estar, tal paciente acometido por câncer já em metástases parece de fato arrefecer a evolução maligna de seu quadro clínico. Ganha algum tempo de sobrevida.

    Em uma mente mais organizada e higiênica, o cérebro, sistema nervoso central portanto, o cérebro, a nossa mente que comanda todo o organismo, neste contexto, as metástases, o espalhamento maligno de células anormais cancerosas, tais metástases podem de fato virem a proliferar com maior lentidão.

    Recomenda-se ao paciente o focalizar e adotar uma postura mental otimista, límpida, e, mais importante, ausente de uma temática mórbida, pessimista, depressiva, sombria, que tão somente gere mais angústias, preocupações, ansiedades, mais sofrimento da alma para quem acredite em alma. Ao que consta, a ansiedade é o visualizar de situações ainda a ocorrer, o sofrer por antecipação, uma duplicação da dor.

    Muito a se pensar a respeito. Você, teimosamente, evita tanto quanto possível ir ao médico, fazer exames, tão somente para não receber notícias ruins, tão somente para que não se estrague o bom momento de contentamento que você sente pontualmente devido a um relacionamento amoroso bem-sucedido, ou devido a empolgação de uma viagem de férias iminente a qual planeja que tudo dê certo.

    Caso você abra um envelope de laboratório de exames clínicos e leia um laudo desfavorável, a sua experiência de vida assim demonstra, ao menos aquele final de semana, aqueles dias, o bom humor de um sábado matutino ensolarado, seu humor irá por água abaixo, uma má notícia inoportuna, o seu otimismo e a vontade de bem viver rapidamente se turvam, e o fazem fortemente.

    Usa-se vestir branco na passagem de ano, ao menos uma peça de roupa, mas e se forem duas as necessárias, e se não puder ser uma peça de roupa não aparente? E se a cor branca não puder ser dividida com outra cor qualquer, a sua camisa branca com uma mínima listra vermelha aos punhos, uma inocente listra de poucos centímetros de espessura?

    Fatos inegáveis. Seu tio quando menino curou-se de tuberculose quando sua avó botou um jabuti preso abaixo da cama dele. Simpatia, crença pagã da época. Funcionou, seu tio curou-se, então o jabuti absorveu todo o mal, adoeceu e morreu, ficou por um mês e meio no escuro sem água e comida, mas o mal absorveu. Ficou a história, seu tio curou-se, o jabuti faleceu abandonado, seco e tristonho.

    Usual vivenciar os primeiros segundos de um novo ano junto ao litoral, o mar energizante, água por si só de enorme magnetismo, um mineral, água salgada ainda mais, saturada de sais minerais, uma energia que muitas pessoas percebem, mesmo aquelas nem tão sensitivas.

    Há a tradicional queima de fogos de artifício, que fica mais bela quando refletida pelo espelho d’água do mar visto de uma praia, em especial de um litoral de águas calmas, um plano espelho reflexivo. É belo, duplica-se o efeito visual, o colorido dos fogos de artifício, que bem poderiam ser apenas de efeito visual, bem poderiam passar a não mais serem apenas aqueles fogos de estampidos estúpidos, uma enorme barulheira incômoda para os animais em geral, humanos inclusos.

    Pólvora explosiva difusora de energia sonora, por si só, não ornamental, alguém já pensou isto, um rojão para causar apenas um estúpido ruído, tão somente isto, o barulho repentino, que se releguem estes fogos de artifício somente de estampido bruto, dia virá de tal evolução.

    Uma saudação anual inicial à Iemanjá, aí entende-se a presença de gente aos litorais, a rainha dos mares, o Brasil de forte e importante cultura de origem africana, suas belas tradições de fé anímicas. Pular as sete ondas da maré nos primeiros momentos de um novo ano entrante, à meia-noite.

    Mas e se, por um acaso cósmico universal, o planeta Terra não tenha verdadeiramente completado um ciclo exato de transladação ao seu vizinho sol?

    Mas e se o ponto inicial no espaço sideral, a posição planetária de contagem deste movimento, for outra e não no exato ponto inicial, a primeira hora de um primeiro dia de novo ano?

    Mas e se a figa preta de mandinga, de madeira nobre vinda do Pelourinho, a figa pequena que você traz escondida por dentro da sua roupa íntima, enquanto contemplando a queima de fogos de artifício na praia, em noite de Réveillon, for uma figa destra e você for um canhoto?

    Atenção às maldições, muita cautela, canhoto é uma das denominações demoníacas, péssima energia e mandinga para a entrada cósmica de um novo ciclo terrestre por vir. Uma vibração, para quem a sinta, tanto quanto a existência de uma alma, a sua, para você que crê. Idem as superstições.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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