Tamanho da imprensa
Com a imprensa diminuta, o espaço fascista aumenta de forma clara
O Estadão já virou estadinho mesmo antes de adotar o formato Berliner, de tamanho de página menor que o convencional até então, e a Folha segue o mesmo caminho, tornando-se folhinha. O tamanho do papel é menos importante do que seu conteúdo e a propaganda diz que muito mais será escrito em menos espaço. Nem aqui a lógica matemática funciona. Mas continuemos a ler o material impresso, útil em tempos nos quais a desinformação é cada vez mais evidente, elegendo prefeitos e governadores; até um presidente assim ganhou o pleito.
Assim, a Folha segue sua frutífera e abençoada – pela Faria Lima – cruzada contra o estado social. Tem uma tara privatista sem igual, enaltecida por editorial de capa no dia 25 de agosto. É de direito do jornal ter sua posição política e econômica, bastando deixar claro quem a está financiando. Assim é no jornalismo norte-americano. No entanto, ao defender a privatização de tudo no Brasil, a Folha o faz em seu próprio nome, não no da população que é a legítima dona das empresas. Além disso, peca por dar dados incompletos sobre a eficiência e omitindo o papel social das citadas estatais. Também por conveniência, os recentes apagões da Enel ficaram de fora do libelo. Em relação à telefonia, por exemplo, o bom jornalismo poderia entrevistar quem trabalhava na Telesp à época para saber que a expansão do número de telefones nos anos 1990 estava pronta, apenas aguardando a privatização para fazer a ligação entre o poste e a residência. O jornal também não gosta do servidor público, mas aprecia o serviço que ele faz, especialmente se for para manter as benesses estatais para si.
Dias antes (16/8), se meteu a questionar os vencimentos dos servidores. Novamente, tomou a parte pelo todo e generalizou os altos salários de um pequeno e específico grupo de servidores para todos os que atuam no serviço público. Por que não faz uma análise mais detalhada, nem precisando ser de todos os setores, e restrinja à carreira docente? Verá o quanto é exigido de formação (doutorado, na maior parte das posições) com recebimento de salário muito aquém dos reportados. O tamanho do jornal já não permite grandes reportagens com profunda investigação. Ela e outros jornalões se diminuem quando compram e publicam desinformação. Uma delas foram as ações “denunciando” Alexandre de Moraes e reivindicando anistia a criminosos, que constituem mais uma das evidências que comprovam ser urgente a devida condenação dos autores das tentativas de golpe e atentado ao Estado brasileiro.
A imprensa tenta fazer seu papel, mas precisa ter elementos mais claros e robustos que filtrem o fato do crime, pois a ênfase dada à questão pareceu que, no popular, comprou gato por lebre. Um dos que deram a letra quanto a essa questão foi José Dirceu, cujo espaço foi franqueado no jornal dentro da cota de “pluralidade” avocada. Ele mostrou o que realmente “está por trás da denúncia contra Alexandre de Moraes” (20/8), em artigo surpreendente, claro e preciso em seus argumentos. Sim, a extrema-direita, representada localmente pelo bolsonarismo, não deixou de existir. E com a imprensa diminuta, o espaço fascista aumenta de forma clara, especialmente com eleições municipais se aproximando.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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