Temos ódio e nojo da ditadura
O que deve ser entendido sobre o conjunto de ditaduras militares na América Latina é que todas elas representaram coisa odiosa e nojenta
O doutor Ulysses Guimarães entrou para história do Brasil por diversos fatores. Ele foi, no ano de 1973, anticandidato à Presidência da República opondo-se ao general Ernesto Geisel, “candidato” do regime de exceção (1964-1985), Participou e, em muitos casos liderou, os movimentos que pleiteavam a redemocratização no País. Ulysses Guimarães foi também protagonista de episódios que demonstraram sua coragem frente aos militares. Uma das histórias que se conta sobre esse trágico período ocorreu em 1978, quando o doutor Ulysses estava em Salvador, na Bahia, e ao se dirigir para a cede de seu partido, o MDB, policiais obstruíam a passagem. Diante dos agentes da repressão que estavam fortemente armados com fuzis, baionetas e cães de guarda, ele não se intimidou e conseguiu entrar. A sua postura combativa diante da ditadura, sua liderança em prol da queda do regime, a busca por eleições livres e por nova Constituição, lhe rendera o qualificativo de Sr. Diretas. Ulysses Guimarães também ficou conhecido por suas frases contundentes e, a mais importante delas foi dita no dia cinco de outubro de 1988, momento da promulgação da Constituição democrática: “Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”, disse ele.
Na semana em que se faz necessário lembrar e refletir sobre os cinquenta anos do golpe militar no Chile é também importante pensar que, como no Brasil, os regimes ditatoriais por toda a América Latina foram sanguinários, brutais, selvagens e contaram com o apoio internacional, especialmente, dos Estados Unidos. No caso estadunidense, três foram os aspectos principais: dinheiro, armamento e a capacitação de agentes para que pudessem aplicar com eficiência o sistema de tortura. As aulas eram ministradas na Escola das Américas. Mais ainda: a violência extrema perpetrada por Humberto Castello Branco, Arthur da Costa e Silva, Emílio Gastarrazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo foi de igual teor e desumanidade da exercida por Augusto Pinochet e outros líderes de extrema direita nos países vizinhos ao Brasil. O que deve ser entendido sobre o conjunto de ditaduras militares na América Latina nas décadas de 1970 e 1980 é que todas elas representaram coisa odiosa e nojenta, como nos ensinou Ulysses Guimarães. Ou seja, tal monstruosidade não pode ser mais admitida, a pena é a do retrocesso absoluto em todos os âmbitos do corpo social. Que as últimas palavras de Salvador Allende ecoem para sempre: “Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores! Tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição”.
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