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    Walmir Damasceno

    Coordenador geral do Ilabantu (Instituto Latino Americano de Tradições Bantu), dirigente tradicional do terreiro de Candomblé Inzo Tumbansi, representante na América Latina do Centro Internacional das Civilizações Bantu (Ciciba).

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    Tempos de Luta

    "Diante do caos e das mortes que se aproximam devemos lutar com todos os meios contra não um governo, mas contra toda uma sociedade doente e racista"

    Há uma constante de exploração, invisibilização, subalternação, criminalização e genocídio da população negra, na história brasileira. Ao longo dos séculos nossa reação e insurgência se amoldou a diferentes táticas para o fim da libertação do povo negro, sem deixar de inserir os nefastos crimes contra povos e comunidades tradicionais de matrizes africanas, conhecidos como povos de terreiros (umbanda, candomblé) e outras variantes de crença e fé dos descendentes de africanos. 

    Frente à sistemática racista, temos nos organizado nos terreiros, nas favelas urbanas, nos quilombos rurais e nas prisões.  Vivos e vitais!

    Sobrevivemos a inúmeras epidemias durante todo a história do ‘atlântico negro’ a própria travessia nos provou. Nem toda a doença organizada por uma sociedade patológica pode consumar seu genocídio. 

    Contudo, hoje, mais um nome virulento nos coloca em alerta. Trata-se da Covid-19 e seus reflexos sobre as decisões políticas hodiernas. No Brasil, o esperado, à frente da presidência da república um oligofrênico vil e cruel, com seus pronunciamentos e decisões colocam em riscos graves toda a população negra brasileira. Em fala do próprio presidente “nas favelas e comunidades o comércio está a todo vapor”, ou seja, as medidas acautelatórias adotadas não atingem os estratos mais hipossuficientes da população que conforme o mesmo dignitário acéfalo “precisam escolher entre morrer de fome ou pelo coronavírus”, tal estado de coisas promove o amplamente notório. Não contamos e não podemos esperar contar com ações do Estado brasileiro na resolução dos problemas que quando não agravam eliminam nossas existências. 

    Urge a luta por todos os meios necessários contra o estado genocida que escarnece, zomba, desonra, aprisiona, nos adoece e nos mata. 

    Obviamente que a população negra será a mais afetada pelo avanço da pandemia, pois fomos adoecidos por meio de políticas públicas precárias e precarizadoras. Assim como ocorre nos Estados Unidos, onde a população negra é a mais afetada, será aqui também, com uma diferença; o número dos mortos aqui será maior pois somos umas das maiores populações negras do mundo. A omissão do Estado brasileiro não é um fato novo. 

    Somos nós por nós essa é a consciência que teremos que ter nesse momento, e diante do caos e das mortes que se aproximam devemos lutar com todos os meios contra não um governo, mas contra toda uma sociedade doente e racista. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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