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    Pepe Escobar

    Pepe Escobar é jornalista e correspondente de várias publicações internacionais

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    Terceira Guerra Mundial coisa nenhuma: esta é uma Guerra DE Terror

    "E a Rússia está lutando uma guerra existencial pela sobrevivência da Pátria – o que ela fez repetidamente ao longo dos séculos", escreve Pepe Escobar

    Vladimir Putin discursa no Fórum Econômico do Oriente (Foto: TASS)

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    Começou com uma ação concreta: o Presidente Putin – calmo, frio e contido – advertiu que qualquer ataque contra a Rússia com mísseis de longo-alcance da OTAN será visto como um ato de guerra.  

    Tivemos então a reação: os ratos da OTAN correndo de volta para o esgoto – apressadíssimos. Por enquanto.

    Tudo isso foi consequência do debacle de Kursk. Uma jogada desesperada. Mas a situação na Ucrânia era de desespero para a OTAN. Até que ficou meridianamente claro que o dano era irrecuperável.  

    Restam duas opções, portanto. 

    A rendição incondicional da Ucrânia nos termos ditados pela Rússia, o que equivale à total humilhação da OTAN.

    Ou uma escalada para uma guerra total (itálicos meus) com a Rússia.  As classes dominantes dos Estados Unidos – mas não as do Reino Unido – parecem ter captado a essência da mensagem de Putin: se a OTAN estiver em guerra contra a Rússia, “então, tendo em mente a mudança na essência do conflito, tomaremos as decisões adequadas em resposta às ameaças sendo colocadas contra nós”.

    O Vice-Chanceler Sergey Ryabkov foi de uma precisão mais sinistra: “A decisão foi tomada, a carta-branca e todas as indulgências foram concedidas [a Kiev], de modo que nós [a Rússia] estamos prontos para o que quer que seja. E iremos reagir de uma forma não muito  bonita”. 

    A OTAN, de fato, está em guerra com a Rússia 

    Para todos os fins práticos, a OTAN já está em guerra com a Rússia: voos de reconhecimento ininterruptos, ataques de alta-precisão em campos de pouso na Crimeia, forçando o reposicionamento da Frota do Mar Negro para longe de Sevastopol, e esses são apenas alguns casos . Com a “permissão” dada a ataques penetrando até 500 quilômetros em território russo e uma lista de diversos alvos já apresentados por Kiev para “aprovação”, Putin, claramente, nada mais fez do que afirmar o óbvio.  

    A Rússia está lutando uma guerra existencial pela sobrevivência da Pátria, o que ela fez repetidamente ao longo dos séculos.

    A URSS sofreu perdas de 27 milhões e reemergiu da Segunda Guerra Mundial mais forte que nunca. Essa demonstração de força de vontade, em si, faz com que o Ocidente Coletivo morra de medo.  

    O Chanceler Sergey Lavrov – cuja paciência taoísta parece estar se esgotando – acrescentou algum colorido ao Grande Quadro, baseando-se na literatura inglesa:

    George Orwell tinha uma rica imaginação e grande presciência histórica. Mas nem ele conseguiu imaginar o que um estado totalitário viria a ser. Ele descreveu alguns de seus contornos, mas não conseguiu penetrar nas profundezas do totalitarismo que hoje vemos no arcabouço da “ordem baseada em regras”. Não tenho nada a acrescentar. Os atuais líderes de Washington, que suprimem toda e qualquer dissensão, o “superaram”. Isso é totalitarismo em sua forma mais pura”.

    Lavrov concluiu que  “eles estão historicamente fadados ao fracasso”. No entanto, eles não têm a coragem de provocar a Terceira Guerra Mundial. Covardes como são, eles só conseguem recorrer a uma Guerra DE Terror. 

    Aqui vão alguns exemplos. O SVR – o serviço de inteligência externa russo – descobriu um plano de Kiev de encenar um ataque de mísseis russo a um hospital ou jardim de infância em território controlado por Kiev. 

    Entre os objetivos estão elevar o falido moral das forças armadas da Ucrânia, justificar a completa remoção de qualquer restrição a ataques de mísseis  penetrando profundamente no território da Federação Russa e atrair o apoio do Sul Global – que, em sua esmagadora maioria, entende o que a Rússia está fazendo na Ucrânia. 

    Paralelamente, caso essa gigantesca falsa bandeira funcione, o Hegêmona a usaria para “aumentar a pressão” (Como? Gritando a plenos pulmões?) sobre o Irã e a Coreia do Norte, cujos mísseis seriam os prováveis perpetradores da carnificina. 

    Por mais que isso pareça exagero em um nível de Estupidistão Máximo, considerando o alto grau de demência prevalente no eixo Washington- Londres-Kiev, a possibilidade permanece, uma vez que o OTANistão detém a iniciativa estratégica de fato nessa guerra.  A Rússia, por seu lado, continua passiva. É a OTAN que vem escolhendo o método, o lugar e a data para os principais  ataques de sua escolha. 

    Um outro exemplo clássico da Guerra DE Terror é o grupo jihadista e subproduto da al-Qaeda Hayat Tahrir al-Sham, que opera na Síria, receber de Kiev 75 drones em troca da promessa  de enviar um bando de combatentes experientes do espaço pós-soviético para o Donbass.

    Nada de novo no front terrorista, aqui: o chefão da espionagem ucraniana, Kirill Budanov – badalado no Ocidente como uma espécie de James Bond – está sempre em estreito contato com os jihadistas de Idlib, tal como reportado pelo jornal sírio Al-Watan.

    Preparando a remixagem da Operação Barbarossa 

    Paralelamente, vimos o Secretário de Estado Adjunto dos Estados Unidos, Kurt Campbell – o russófobo/sinófobo que inventou o “pivotar para a China” durante o primeiro mandato de Obama – instruindo burocratas de primeiro escalão da União Europeia e da OTAN sobre a cooperação militar do novo Eixo-do-Mal inventado pelo Império: Rússia-China-Irã.

    Campbell focou principalmente o fato de Moscou fornecer a Pequim submarinos avançados, mísseis e tecnologia de espionagem em troca de produtos chineses. 

    É óbvio que o combo por trás do zumbi que não consegue sequer lamber um sorvete não faz ideia do grau de entrelaçamento da colaboração militar  das parcerias estratégicas Rússia-China-Irã.

    Cego como mil morcegos, o combo interpreta o fato de a Rússia compartilhar com a China seu ferreamente  guardado know-how militar como “sinal de sua crescente imprudência”. 

    A verdadeira e preocupante história por trás desse misto de ignorância e pânico é que nada se origina do zumbi que não consegue sequer lamber um sorvete. É o “combo Biden” que, de fato, vem dando duro para determinar a trajetória da guerra por procuração na Ucrânia para além de 25 de janeiro   – independentemente de quem venha a ser eleito presidente. 

    A Guerra DO Terror deveria ser o paradigma geral – enquanto prosseguem os preparativos para a verdadeira guerra contra a Rússia, cujo horizonte de tempo é 2030, segundo as deliberações internas da própria OTAN. Eles acreditam que, nessa data, eles estarão no auge de seu poderio para dar início a uma versão remixada da Operação Barbarossa de 1941.    

    Esses palhaços são congenitamente incapazes de entender que Putin não blefa. Se não houver outra opção, a Rússia partirá de fato (itálicos meus) para uma guerra nuclear. No pé em que as coisas andam, Putin e o Conselho de Segurança – apesar da retórica incendiária de  Medvedev – estão mergulhados na dura tarefa de absorver golpe após golpe para evitar o Armagedon.

    Isso exige uma ilimitada paciência – por parte de Putin, Lavrov e Patrushev – aliado ao fato de que Putin joga o go japonês muito mais que o xadrez, e que ele é um  tático consumado. 

    Putin lê o imbecilizado manual de estratégias da OTAN como se fosse um livro de histórias infantis (que de fato ele é). No momento fatal de benefício máximo em todo o espectro para a Rússia, Putin irá ordenar, por exemplo, a necessária decapitação da serpente de Kiev. 

    O incessante e estridente debate sobre o uso de armas nucleares pela Rússia depende, essencialmente, de até que ponto o Kremlin irá ver um ataque dos mísseis da OTAN como uma ameaça existencial. 

    Os neocons e os siocons , bem como os vassalos da OTAN, talvez desejem  - teoricamente - uma guerra nuclear, porque seus efeito gerariam um despovoamento maciço. Não devemos jamais nos esquecer que a gangue do Fórum Econômico Mundial/Davos deseja e advoga uma redução da população humana da estarrecedora ordem de 85%. A única maneira de atingir esse objetivo, é claro, é uma guerra nuclear. 

    Mas a realidade é bem mais prosaica. Os covardes neocons e siocons – espelhando o exemplo dos genocidas talmúdicos de Tel Aviv – na melhor das hipóteses querem usar a ameaça de guerra nuclear para amedrontar, principalmente, a parceria estratégica Rússia-China. 

    Muito ao contrário, Putin, Xi e outros líderes importantes da Maioria Global  continuam a demonstrar inteligência, integridade, paciência, presciência e humanidade. Para o Ocidente Coletivo e suas assustadoramente medíocres elites políticas e financeiras, tudo gira em torno de dinheiro e lucro. Bem, isso talvez esteja prestes a mudar drasticamente em 22 de outubro, na cúpula dos BRICS de Kazan – quando grandes passos rumo à construção de um mundo pós-unilateral deverão ser anunciados.  

    Só se fala disso em Moscou 

    Uma discussão acalorada, envolvendo todos os setores, ocorre em Moscou, quanto a como por fim na guerra por procuração na Ucrânia.

    A paciência taoísta de Putin é fortemente criticada – não necessariamente por observadores informados com conhecimento privilegiado sobre geopolítica barra-pesada. Esses críticos não entendem que Washington jamais aceitará exigências de importância crucial para a Rússia. Paralelamente, quando se trata da plena desnazificação da Ucrânia, não há possibilidade de Moscou acabar se contentando meramente com um regime “amigável” em Kiev.

    Parece haver consenso quanto a que o Ocidente Coletivo jamais reconhecerá a soberania russa sobre a Crimeia, nem sobre as terras conquistadas nos campos de batalha da Novorossiya.

    No final das contas, a principal evidência é que todas as nuances do plano de negociação russo serão decididas por Putin. E isso muda o tempo todo. O que ele propôs – com grande generosidade – às vésperas daquela patética cúpula de paz na Suíça, em junho, não está mais sobre a mesa após Kursk.  

    Tudo depende, mais uma vez, do que ocorre nos campos de batalha. Se – ou melhor, quando – o front ucraniano entrar em colapso, a piada que correrá em Moscou será: “Pedro [o Grande] e Catarina [a Grande] estão esperando”.  Bem, eles não precisarão mais esperar porque foram esses dois Grandes que de fato incorporaram à Rússia o que hoje é o leste e o sul da Ucrânia. 

    E isso irá selar a cósmica humilhação da OTAN. Daí a perpetuação do Plano B: não haverá Terceira Guerra Mundial, e sim uma implacável Guerra DE Terror.

    Tradução de Patricia Zimbres

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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