Terceira guerra mundial impõe novo projeto nacional
"A nova guerra afetará os mercados globais"
O alerta do presidente Vladimir Putin de que um novo conflito global eclodiu, com a decisão do presidente Joe Biden de autorizar o presidente fantoche Volodimir Zelenski, da Ucrânia, a disparar mísseis americanos contra a Rússia, exigirá do Brasil uma nova estratégia desenvolvimentista, que dependerá de união nacional.
A nova guerra afetará os mercados globais.
As incertezas e os juros, como aconteceu, por exemplo, na pandemia, tendem a subir.
A circulação mundial de mercadorias sofrerá empecilhos de toda sorte, sem falar em bloqueios, chantagens e conflitos que poderão se generalizar.
A polarização ideológica vira fato consumado.
De um lado, a potência americana, que inicia as agressões à Rússia por meio de procuração à Ucrânia, armada pela OTAN, deverá apelar para o que o futuro presidente Donald Trump promete, isto é, protecionismo.
As ações protecionistas desencadeiam guerras comerciais.
O resultado é a alta de preços, inflação e deterioração nos termos de troca comercial entre as potências e seus satélites, como demonstram guerras passadas.
A América Latina – que os Estados Unidos consideram seu quintal, baseados na Doutrina Monroe, criada em 1823 justamente para proteger o mercado sul-americano das agressões externas, de modo a favorecer os Estados Unidos e sua expansão territorial no continente – sofrerá pressões imperialistas.
Trump pretende apropriar-se do petróleo latino-americano, mercado mais próximo dos Estados Unidos do que o do Oriente Médio e, para tanto, intensificará esforços para ter governos a seu favor, como o de Javier Milei, da Argentina, e outros.
Governos como os de Lula da Silva, no Brasil, e Nicolás Maduro, na Venezuela, tidos por Washington como de esquerda e contrários às determinações do império, são candidatos a sofrer as maiores pressões.
A orientação de Trump para a região, por meio de seu futuro secretário de Estado, Marco Rubio, um cubano radical de direita, propenso a golpes – como o que ajudou a aplicar na Bolívia –, promete ser uma pedra no sapato de Lula e Maduro.
A Venezuela, maior reserva de petróleo do mundo, e o Brasil, igualmente um poderoso produtor de óleo, condenados pela geopolítica a se aproximarem cada vez mais contra o inimigo comum imperialista, serão os alvos das corporações petrolíferas americanas, que receberam de Trump, durante a campanha eleitoral, a promessa de ajudas fiscais para explorarem o petróleo sul-americano.
Negacionista climático, Trump descarta apostar em alternativas energéticas para focar na exploração do petróleo como seu objetivo central.
PROTECIONISMO E DESINDUSTRIALIZAÇÃO
Ao mesmo tempo, o novo presidente americano promete protecionismo cujas consequências, para a América do Sul, serão temporadas de desindustrialização.
Mais de 50% das exportações de produtos manufaturados brasileiros têm nos Estados Unidos seu principal mercado.
Se Trump elevar tarifas de importação para proteger a indústria americana em tempos de provável terceira guerra, para evitar concorrência internacional, especialmente de produtos chineses, os demais produtores industriais sofrerão as consequências.
Certamente, a industrialização brasileira não encontrará mercado satisfatório na China como alternativa ao fechamento do mercado americano e também europeu, pois o protecionismo de Trump produziria reações generalizadas.
Tenderia a predominar a Lei de Murici: cada um cuida de si.
Os chineses, que mantêm com o Brasil comércio bilateral de 150 bilhões de dólares por ano, importam produtos primários e semielaborados e exportam produtos industrializados.
Estariam desinteressados nos produtos manufaturados brasileiros.
Haveria tendência à deflação se, por acaso, tais manufaturas não fossem exportadas.
FORTALECER MERCADO INTERNO
Para serem consumidas, seria necessário o governo estimular o mercado interno consumidor com maior valorização dos salários e consequente elevação dos gastos públicos nas áreas sociais, responsáveis por puxar a demanda global.
Tal tendência levaria a uma nova estratégia de desenvolvimento nacional, totalmente incompatível com a orientação neoliberal que os credores da dívida pública impõem por meio de restrição orçamentária que eleva taxas de juros e bloqueia investimentos.
Seria necessário – em um cenário de guerra mundial, se for mesmo desencadeada, como alerta Putin, agredido pelo império americano – renegociar a dívida interna nacional para permitir uma reanimação econômica vigorosa proporcionada pela diminuição significativa das taxas de juros, resistentes às quedas frente às incertezas que as guerras trazem.
O garrote econômico externo, advindo provavelmente do protecionismo americano, somado à agressão sobre as fontes de matérias-primas nacionais para sustentar a reprodução ampliada capitalista imperialista, como a exploração de matérias-primas e o sufocamento da industrialização, criariam ou não circunstâncias políticas emergentes cujas consequências seriam pressões populares irresistíveis por mudanças internas?
A necessidade de acelerar a demanda interna resultaria ou não em apressar a reforma tributária capaz de redistribuir a renda nacional, taxando mais os ricos, para sobrar mais para os pobres, de modo a incrementar o mercado interno capaz de compensar a perda do mercado externo?
Tudo ganharia maior velocidade no ritmo acelerado dos acontecimentos desencadeados por conflitos bélicos e espaciais, sinalizando perigo de guerra atômica, entre outros.
NOVAS ALIANÇAS EMERGENTES
Portanto, o governo brasileiro tem pela frente – se for detonada uma nova guerra mundial, antevista pela irracionalidade imperialista americana, que reage à possibilidade de perder hegemonia fiscal e monetária – a tarefa de rever sua política econômica e sua estratégia internacional no sentido de escolher novas alianças.
Os acordos comerciais que acabam de ser firmados entre Brasil e China, na sequência imediata da 19ª reunião do G20, já sinalizam novos rumos, com participação brasileira na Rota da Seda, proposta pelos chineses, visto que atrativos de investimentos nesse sentido não se podem esperar da parte do império americano protecionista, em sua luta desesperada para derrotar seus principais concorrentes, expressos no socialismo de mercado chinês.
Detentor de fontes das principais matérias-primas e de biodiversidade infinita das quais depende a manufatura global, o Brasil, como expressão econômica e política do Sul Global, estaria diante da oportunidade de dar um salto econômico quantitativo e qualitativo histórico.
Tal possibilidade, no contexto do BRICS, pode colocá-lo na vanguarda do desenvolvimento no cenário de uma nova guerra mundial, sabendo que será alvo de todos que dependem das riquezas nacionais que tenderão a ser disputadas com unhas e dentes por poderosos oligopólios no cenário da financeirização, valorizando-as exponencialmente.
Essa dependência mundial de matérias-primas seria ou não oportunidade de negociar vantagens comparativas disponíveis para exploração das riquezas nacionais?
MOBILIZAÇÃO DOS TRABALHADORES
A revolução brasileira desponta no horizonte com uma nova guerra mundial à vista, porque já leva os trabalhadores brasileiros a se movimentarem de forma politicamente organizada para enfrentar a exploração capitalista que empobrece a força de trabalho.
Movimentos como o de defesa da redução da jornada de trabalho (6x1), para barrar a superexploração da mais-valia, aprofundada pelo modelo neoliberal, tendem a crescer no cenário de crise mundial.
Tal batalha político-ideológica eleva as contradições e empurra os trabalhadores à luta pela organização política, única arma pela qual poderão, por exemplo, chegar aonde a China, parceira brasileira, chegou.
Foi por meio dela que os chineses alcançaram, com o fortalecimento do Estado como agente econômico fundamental, o socialismo de mercado como tarefa indispensável para conquistar justiça social por meio da melhor distribuição da renda nacional.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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