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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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The Economist descobre que as maravilhas do capitalismo liberal estão no fim

"A miséria e a fome grassam nos países ditos periféricos, que The Economist enxerga como beneficiados pela ordem econômica ora agonizante"

Notas de dólar (Foto: Kim Hong Ji - Reuters)

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The Economist publicou artigo alarmado e alarmante sobre o “desmoronamento do liberalismo”. Disse a revista que o colapso pode ser “repentino e irreversível”. A bíblia do liberalismo econômico está preocupada com o fim de um modelo que, no seu entender, levou o mundo a um histórico ciclo de prosperidade.

No mundo real, a queda dos dogmas liberais antevista por The Economist pode significar o avanço da humanidade em direção a uma realidade menos cruel. 

A revista atribui o risco de colapso do liberalismo às seguintes situações possíveis: o retorno de Donald Trump à Casa Branca, com sua volúpia de destruição institucional; uma segunda onda de importações chinesas baratas; uma guerra aberta entre Estados Unidos e China por causa de Taiwan; uma guerra entre o Ocidente e Rússia. A revista não explica quem é “o Ocidente”, mas supõe-se que sejam os Estados Unidos e seus aliados incondicionais.

The Economist esqueceu a maravilha que a ordem econômica liberal – neta de Hayek, filha de Friedman e afilhada de Reagan e Thatcher – causou à economia mundial em 2008, sua apoteose. E enalteceu o falso êxito do modelo no seguinte parágrafo, pérola de cinismo: 

“Está na moda criticar a globalização desenfreada como a causa da desigualdade, da crise financeira global e da negligência em relação ao clima. Mas as conquistas das décadas de 1990 e 2000 – o ponto alto do capitalismo liberal – são incomparáveis na História. Centenas de milhões escaparam da pobreza na China à medida que esta se integrava na economia global. A taxa de mortalidade infantil em todo o mundo é menos da metade do que era em 1990. A porcentagem da população global morta por conflitos travados entre estados atingiu o mínimo do pós-guerra de 0,0002% em 2005; em 1972, era quase 40 vezes maior. Pesquisas mais recentes mostram que a era do ‘Consenso de Washington’, que os líderes de hoje esperam substituir, foi aquela em que os países pobres começaram a desfrutar de um crescimento, de recuperação, diminuindo o abismo em relação ao mundo rico.”

Já se cansou de demonstrar que o capitalismo liberal, com sua ignóbil defesa da austeridade em detrimento de gastos sociais – sempre pelo carreamento dos recursos do Estado para os detentores das dívidas públicas –, aprofunda a desigualdade, nunca a diminui. Se houve uma redução da distância entre países ricos e pobres, foi por filigranas estatísticas; dentro dos países, a desigualdade aumentou, a renda se concentrou. Especialmente nos Estados Unidos, é notório o empobrecimento da classe média desde que o estado de bem-estar social, iniciado no Pós-Guerra, foi substituído pelo capitalismo da Escola de Chicago. A miséria e a fome grassam nos países ditos periféricos, que The Economist enxerga como beneficiados pela ordem econômica ora agonizante.

O capitalismo enaltecido por The Economist é um fiasco socioeconômico, é causador de tragédias humanitárias por concentrar riqueza em nível escandaloso. Dois terços de todas as novas riquezas produzidas no mundo ficam nas mãos de 1% da população, segundo relatório da Oxfan divulgado às vésperas do Fórum Econômico Mundial de 2023. Os repórteres da revista britânica estavam lá?

Já o trecho sobre a população global morta por conflitos entre estados é de arrepiar pelo descolamento da realidade. The Economist, sempre recorrendo à matemática, compara percentuais de 1972, época da Guerra do Vietnã, e 2005. Esquece-se de que hoje os palestinos estão sendo dizimados, numa contenda em que um país, sob a vista grossa e até a ajuda bélica dos Estados Unidos, mata populações civis sem a menor cerimônia. Certamente, trata-se de mais uma consequência espetacular do capitalismo liberal apregoado pela revista britânica. Um capitalismo cego, desumano.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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