Tornar os sonhos de Martin Luther King realidade é uma obrigação!
Hoje completam-se 57 anos do histórico discurso “I have a dream”, de Martin Luther King Jr., símbolo da luta antirracista. O discurso que ocorreu na Marcha por Empregos e Liberdade, nos degraus do Lincoln Memorial em Washington, clamava pela necessidade de união e convivência harmoniosa entre negros e brancos. Luther King ousou falar para 200 mil norte-americanos naquele dia, mas não poderia imaginar que sua voz ecoaria em corações e mentes por mais de cinco décadas com um discurso que segue vivo e pulsante em todos aqueles que lutam contra o racismo e a segregação racial.
No mundo, o discurso do jovem ativista segue atual, a luta antirracista venceu batalhas, mas segue longe de derrotar definitivamente o arbítrio e as mazelas do racismo. Este ano, no mesmo país onde Martin Luther King ecoou sua voz, um outro jovem negro, George Floyd, foi morto por forças policiais, desencadeando uma série de protestos de massas de brancos e negros unidos pedindo um basta ao racismo e à violência policial, sobretudo contra jovens negros. O vídeo do brutal assassinato do jovem Floyd causou comoção pelo mundo, inclusive no Brasil, país onde a violência policial é rotina, como vimos nas ações desastrosas em Paraisópolis recentemente, ou mesmo nas diversas violentas ações policiais que foram denunciadas recentemente.
O Brasil, país onde somente no fim do século XIX conseguimos a abolição da escravatura com a Lei Áurea, a partir de muita luta de homens e mulheres como Castro Alves, Luísa Mahin, Luiz Gama, Tereza de Benguela e o Dragão do Mar, insiste em negar os sonhos de Luther King. O país de maioria negra ou parda convive com o racismo estrutural e o arbítrio policial sistêmico, sobretudo contra jovens negros e periféricos. Segundo dados de 2019, os jovens negros e pardos são quase 80% dos mortos em operações policiais no Rio de Janeiro.
As mazelas do racismo estrutural brasileiro se demonstram ao verificarmos dados do IBGE que revelam que menos de 30% dos cargos gerenciais no mercado de trabalho eram ocupados por pessoas pretas ou pardas. O mesmo estudo mostra que a renda de uma mulher negra é um pouco mais que um terço da renda de um homem branco. Esses são apenas alguns exemplos das nossas profundas desigualdades, que são repudiadas pela Carta Constitucional de 1988.
É hora de tornarmos os sonhos de Luther King realidade. Para isso, precisamos fazer a voz das candidaturas negras ecoar nessas eleições. A decisão do TSE que garante proporcionalidade na distribuição de recursos e no tempo de TV a partir de 2022 é uma importante conquista, mas não será isso que definirá a participação de negros e negras nas Casas Legislativas.
Com esse pensamento, o PDT de São Paulo aprovou uma resolução inédita já a partir de 2020. A resolução garante a composição de chapa com um mínimo de 30% de negros e negras para a vereança e a adoção de um dispositivo de equidade que prevê um adicional de 20% no financiamento de candidaturas de mulheres negras, 15% para mulheres brancas e 10% para homens negros, se houver Fundo Eleitoral.
Mas isso ainda não basta, é preciso ampliar a voz das pretas e pretos nas comunidades, nos bairros, na construção partidária sem sectarismos. A vitória da luta para derrotar a desigualdade racial passa pela luta contra o sistema econômico desigual que deixa 800 milhões de pessoas passarem fome todos os dias pelo mundo. Afinal, da mesma forma que não seremos livres enquanto não derrotarmos a fome, nenhum branco será livre enquanto houver as mazelas do racismo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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