Toyota fecha a fábrica: sinais de desindustrialização no ABC?
Uma economia não se desindustrializa por questão da perda ou diminuição da produção industrial, mas quando esse setor deixa de ser vetor na geração de emprego
Por Lúcio Freitas, professor de Economia da Universidade Municipal de São Caetano do Sul; doutor em Economia pela Unicamp
Antônio Fernando Gomes Alves, professor de Economia na Universidade Municipal de São Caetano do Sul e Fundação Santo André, Delegado Regional do CORECON/SP no ABC, doutor em Psicologia Social e Trabalho pela PUC/SP
Lorenzo Rea, bacharelando em Economia na Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Estagiário Econômico na Delegacia Regional do Grande ABC do Corecon/SP, bolsista PIBIC do CNPq
O anúncio da Toyota de que deixará a cidade de São Bernardo do Campo reforça a tendência já conhecida de diminuição do tamanho relativo do setor industrial nas cidades do grande ABC paulista. Esse fato evidencia um possível cenário em torno da desindustrialização porque passa a economia no Grande ABC Paulista, quiçá a brasileira. Esse termo polissêmico e dissenso entre os economistas traduz algumas características das últimas décadas da economia brasileira, como sendo a abertura econômico-financeira, a valorização dos termos de troca na economia entre os países, câmbio apreciado como os tempos atuais desde pós-real ou mesmo a alta da taxa de juros em comparação com a taxa de lucros na acumulação de capital.
Ainda, delimitando essa apreciação conceitual, desindustrialização caracteriza-se como sendo uma redução persistente da participação do emprego industrial no emprego total de uma região. Trocando em miúdos, uma economia não se desindustrializa por questão da perda ou diminuição da produção industrial, mas quando esse setor industrial deixa de ser o vetor na geração de emprego ou mesmo o valor adicionado para uma determinada atividade na sociedade.
Conhecida como o berço da indústria automotiva do país, a região viveu recentemente a saída da montadora americana Ford em (31/10/2020), que empregava mais de 2.500 pessoas, e agora perde outros 550 postos de trabalho com a saída da empresa japonesa, que na cidade fabricava peças para veículos (bielas e virabrequins). O grande ABC já acumula áreas industriais ociosas e vê os empregos industriais serem substituídos por vagas com menor exigência de qualificação e remuneração.
Os impactos da saída da Toyota vão além da perda imediata dos postos de trabalho. Ocorre que a indústria automotiva e os setores correlacionados, como a produção de autopeças e acessórios, respondem por mais de um terço do Produto Interno Bruto regional. Mas, principalmente, estão entre os setores com maiores impactos ao longo da cadeia produtiva. Para mensurar adequadamente as perdas com a saída da empresa é necessário que sejam consideradas as relações ao longo da sequência de setores fornecedores, isto é, deve-se considerar os impactos diretos e indiretos.
No debate econômico, um instrumento que permite considerar as relações entre os setores produtivos é a chamada matriz de insumo-produto. Uma matriz aproximada para a região do grande ABC paulista, pelo Grupo de Estudos de Economia, Tecnociência e Sustentabilidade da Universidade Municipal de São Caetano do Sul estima o multiplicador de emprego na região em 1,85, ou seja, para cada 100 empregos na fabricação de peças e acessórios para veículos são gerados outros 85 postos de trabalho na economia como um todo. Assim, a perda de 550 vagas na Toyota implicaria que outras 467 vagas deixariam de existir na região, totalizando uma perda de 1017 postos de trabalho no Grande ABC.
Ainda que o número não seja muito significativo, reforça-se no Grande ABC a perigosa e recente tendência de saída de empresas históricas e com alto potencial de impacto na região, tanto do ponto de vista do emprego, quanto do produto. Diante da necessidade de planejamento, investimento e reestruturação das fábricas, ocorre especificar o que é preciso para que a região mantenha atratividade, inovação para este capital, caso contrário, os riscos de perda econômica e social para o ABC tornam-se permanentes e elevados.
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