#TransfobiaNão
No dia 27 de julho, a hashtag #NaturaNão figurou entre os trending topics do Twitter. Nela milhares de pessoas, robôs ou não, usavam os 240 caracteres que dispunham para explicar o motivo de ser uma afronta à família a marca Natura colocar um homem trans (Thammy Miranda) como garoto propaganda de seu comercial dos dias dos pais
No dia 27 de julho, a hashtag #NaturaNão figurou entre os trending topics do Twitter. Nela milhares de pessoas, robôs ou não, usavam os 240 caracteres que dispunham para explicar o motivo de ser uma afronta à família a marca Natura colocar um homem trans (Thammy Miranda) como garoto propaganda de seu comercial dos dias dos pais.
De fato Thammy tem sido tema frequente de tabloides, seja por piadinhas sexistas com relação à sua imagem, mostrando um “antes e depois” com suas fotos em ambos gêneros, seja por temas totalmente irrelevantes, como uma legião de críticos bombardeando Thammy e sua esposa sobre a cor do quarto de seu filho, Bento, se seria “coisa de menino”, além das incisivas tentativas de fazê-lo contar se já passou por processo de redesignação sexual. Fato é, Thammy Miranda tem sido tema popular.
Os argumentos preconceituosos agora variam em sua redação, mas querem todos dizer a mesma coisa: uma pessoa que foi designada mulher ao nascer, não pode ser a homenageada em pleno Dias dos Pais. Ora, esse argumento revela além de enorme desconhecimento entre sexo e gênero, dois pontos que são fundamentais para a constituição brasileira: a violência e a indignação seletiva.
Sim, seletiva e retrógrada, pois exprime o que há de mais atrasado em termos sociais e ignora todas as peculiaridades das outras formas de constituição familiar, que não uma família formada por héteros cisgêneros. A representação de pai encrustada na mente destas pessoas obedece unicamente a uma ordem falocêntrica, machista e que ajuda a enraizar os papéis sociais e de reprodução que estão intrinsecamente embutidos em cada um dos sexos. Na mente destes, esta designação paterna é do homem macho, do pai provedor e, cabendo à mãe o papel de cuidadora. É uma fala perpetuadora do patriarcado.
É essa visão patriarcal que normaliza o fato de haver milhões de crianças com os nomes de seus pais ausentes em suas certidões de nascimento e que culpabiliza as mães pela concepção, como se estas engravidassem sozinhas. É esse apego ao retrógrado e ao reacionário que torna um inferno a vida de milhões de pessoas que não conseguem se assumir e que não se enquadram no gênero compatível com seu sexo e que tenta reduzir as pessoas em suas searas mais íntimas a papéis pré-fabricados, pequenas caixinhas, cujo um dos subprodutos é o fato do Brasil ser o país que mais mata transexuais no mundo.
Não à toa citamos como uma das características principais a violência. A forma como nos portamos, as pautas que levantamos como luta, dizem muito sobre a violência atávica do povo brasileiro e ajuda a desmistificar a ideia caricata de que este é um povo não violento. Justificadas alegando a defesa de instituições como a família, a moral e os bons costumes, seguimos cultuando o atraso e tentando apagar e deslegitimar todos aqueles que nos são diferentes.
A constituição família e consequentemente o desenho das figuras de pai e mãe tal como defendidas pelo patriarcado são responsáveis por grande parte das atrocidades em nossos termos de sociabilidade e de disparidades de oportunidades entre os sexos. Entender essa concepção ajuda a dar razão às infindáveis lutas de grupos feministas, transfeministas e humanistas. Em um cenário obscurantista, é necessário que reverberemos mais a lucidez de Amanda Palha, do que os esgotos dos preconceitos.
A única hashtag coerente nesse momento seria #TransfobiaNão.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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