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    Marcelo Zero

    É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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    Triunfo da democracia brasileira depende da derrota do bolsonarismo

    O bolsonarismo, força política antidemocrática, violenta e golpista, precisa ser definitivamente enterrado como alternativa de poder

    Alexandre de Moraes e seus agressores (Andreia Mantovani, AAlex Zanatta e Roberto Mantovani) (Foto: Reprodução | TSE)

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    A agressão ao Ministro Alexandre Moraes e a sua família demonstra que o bolsonarismo continua a ser uma séria ameaça à democracia brasileira e à civilidade.  

    É preciso considerar que o bolsonarismo é uma forma de neofascismo.

    Sei que muitos relutam em usar esse conceito, dadas às singularidades históricas do fascismo e do nazismo. Mas, em sentido lato, o bolsonarismo tem inquietantes similitudes com aqueles fenômenos políticos históricos.  

    A mobilização de milícias armadas, o recurso “goebbeliano” às reiteradas e sistemáticas mentiras, o discurso de ódio contra supostos inimigos internos, a estratégia de enfrentamento permanente, a identificação de  adversários como inimigos a serem eliminados, o moralismo conservador expresso na luta contra corruptos, pedófilos, etc., o credo num ideal de pureza racial e cultural, o nacionalismo xenófobo, o darwinismo social, o racismo, o culto à antipolítica e, sobretudo, o desprezo à democracia e suas instituições e a valorização da força como instrumento legítimo de ação política constituem quadro comum que perpassa momentos históricos diferentes e sociedades distintas.  

    Dê-se o nome que se quiser dar, protofascismo, ur fascismo (Umberto Eco), fascismo neoliberal, neofascismo etc., o fato evidente é que Trump, Bolsonaro e outros fazem parte, mutatis mutandis, da mesma ampla turma política de Mussolini e Hitler.

    O bolsonarista julga ter o direito de difamar, de agredir, de reprimir, de calar todos os que dele divergem. Julga-se o único patriota e todos aqueles com os quais não se identifica não são brasileiros. Deixado sem amarras, tende a prender, exilar ou matar os que são por ele identificados como “inimigos”. Tal como foi feito na ditadura, que ele tanto admira.

    E o bolsonarismo já demonstrou sistematicamente que não tem compromisso algum com a democracia e suas instituições. Ao contrário, seus confessados e públicos compromissos são com as intervenções militares, as ditaduras, a tortura, a violência, o golpismo, o armamentismo, o negacionismo científico, as mentiras etc.  

    Assim, o bolsonarismo não é uma força política que pode conviver pacificamente com a democracia. Há incompatibilidade última entre bolsonarismo e instituições democráticas.  

    Quando o Ministro Barroso, ao fazer um discurso em defesa da democracia, afirmou que “derrotamos o bolsonarismo”, ele foi bastante criticado.

    Mas a questão persiste; a democracia pode prevalecer sem que o bolsonarismo seja derrotado ou consideravelmente enfraquecido?

    Provavelmente, não. Disputar eleições não torna uma força política democrática. Hitler também disputou exitosamente eleições e se tornou muito popular. Foi assim que ele destruiu a democracia alemã, com a conivência dos partidos tradicionais da República de Weimar e da imprensa da época.

    Havia e há, no Brasil, uma tendência perigosa de “normalizar” o bolsonarismo. De considerar que ele é um movimento político como qualquer outro. Uma alternativa respeitável, civilizada e democrática. Não é. Há também uma tendência ainda mais perigosa de “normalizar” o 8 de janeiro e de vitimizar os golpistas. De forma surpreendente, agora todos eles são grandes democratas e defensores intransigentes dos direitos humanos.  

    Tirando eventuais exageros, os principais culpados pela evidente tentativa de golpe precisam ser identificados e exemplarmente punidos. Civis e militares.  

    O bolsonarismo, força política antidemocrática, violenta e golpista, precisa ser definitivamente enterrado como alternativa de poder, ainda que isso leve muito tempo. Como na conhecida fábula, o escorpião bolsonarista sempre picará a rã da democracia. É da sua natureza.

    O triunfo da democracia brasileira depende da derrota do bolsonarismo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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