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    Pedro Augusto Pinho

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    Trump fala para o Fórum de Davos que hoje não é o amanhã de ontem

    Para onde se dirigirá a nova geopolítica?

    Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - 27/02/2025 (Foto: Carl Court/Pool via REUTERS)

     Para o bem ou para o mal, efetivamente, a eleição do republicano Donald Trump para Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) está abalando muito mais os tradicionais aliados do domínio unipolar ocidental do que seus designados inimigos.

    O Fórum Econômico Mundial (20 a 24 de janeiro), que se realiza anualmente na cidade suíça de Davos, conhecida estação de esportes de inverno, recebeu, com o gelo que o cerca, um balde de água fria nas palavras de Trump, enviadas por vídeo.

    Na revista mensal do Movimento de Solidariedade Ibero-Americano (N.09, Vol. XXXI, fevereiro de 2025), há matéria da redação com título: “Em Davos, globalistas admitem: Trump nos venceu”. Mas não foi propriamente o globalismo, senão um modelo de governança que terminou. E terminou pela exclusão da população dos países que agora buscam eco na extrema direita, e que Trump também representa.

    Os temas de cooperação internacional, direitos humanos e questões ambientais, do elenco do Fórum de Davos, já não estão na pauta ocidental, envolvida com catástrofes como o genocídio israelense, a falta de energia, desindustrializando a Europa, e a miséria e fome que o neoliberalismo financeiro espalhou nos EUA e Europa, nos últimos 40 anos, associada à questão das migrações do mundo pobre para o rico.

    Isso não significa que a extrema direita que alimenta Trump seja melhor, mas o arraigado conservacionismo da numerosa classe média europeia, e da pequena na América Latina, não veem saída na China ou na Rússia que aprenderam, desde sempre, a ter estes países como inimigos.

    Os diálogos Trump-Putin são vistos com extrema desconfiança pelos dirigentes europeus que tramam a terceira guerra mundial. Nesta última quarta-feira, 19 de março, a “Comissão Europeia” emitiu de Bruxelas seu brado de guerra: “O Livro Branco” (Joint White Paper) para as linhas mestras da defesa europeia. Defesa contra quem? Ora, explicitamente dizem ser ao agressor da Ucrânia, que deseja mudar as fronteiras.

    Faz este documento, indiretamente, referência à origem da Guerra Fria, assumidamente estabelecida por Harry Truman e Winston Churchill, que hoje estão substituídos até por quem nem voto popular tem: Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia), Keir Stmer (primeiro ministro britânico), Friedrich Merz (homem da BlackRock que disputa a função de premier alemão), Robert Bauer (chefe do Comitê Militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN) e Emmanuel Macron (presidente da França).

    Da Europa só resta a arrogância de um passado de massacres, dominações e espoliação dos povos da África, Ásia e América Latina. Hoje a França é expulsa da África por seus antigos colonizados, pois tem a apoiá-los a República Popular da China (China).

    Os EUA pretendem dominar a comunicação, como se viu com a numerosa presença dos proprietários e Chief Executive Officer (CEO) das plataformas e empresas de informações na posse de Trump. Tendo consciência que seria derrotado militarmente pela Federação Russa e/ou pela China, resta-lhe dominar as mensagens para doutrinar e confundir, se não lhe for possível convencer, os próprios estadunidenses e os habitantes de países aliados: Argentina, Austrália, Israel, Colômbia, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Japão, Equador, Peru, Catar, Marrocos, entre outros poucos.

    A GEOPOLÍTICA DE 2025

    A geopolítica da bipolaridade, que ainda domina a mente de muitos políticos e militares brasileiros, foi profundamente transformada com a entrada da China no rol das grandes potências mundiais.

    A atual era chinesa teve início com Hu Jin Tao na presidência, de 2002 a 2012, e prossegue com Xi Jin Ping, desde 2012.

    Surge explícita no 16º Congresso do Partido Comunista Chinês de 2003, como objetivo de se alcançar uma “Sociedade Harmoniosa e Moderadamente Próspera”. Esta é definida por seis princípios: (1) democracia e império da lei; (2) equidade e justiça; (3) integridade e fraternidade; (4) vitalidade; (5) estabilidade e ordem; e (6) harmonia entre o homem e a natureza. Também constituíam princípios da Sociedade Harmoniosa: construir a democracia socialista de massas que garanta a participação política da população e os seus direitos; diminuir, senão eliminar o espaço de diferença no desenvolvimento e renda entre o campo e a cidade; melhorar e ampliar os serviços públicos, a seguridade social e os programas sociais; promover uma sociedade criativa garantindo condições de competitividade econômica, segurança jurídica e direito de propriedade intelectual, além de impulsionar a economia sustentável, que racionalize o consumo de recursos naturais e garanta um ambiente saudável para a população.

    Certamente o prezado e culto leitor já identificou neste projeto da China as contribuições de Mao Tse Tung, de Deng Xiaoping e de Confúcio. Uma união só possível na cultura do povo chinês, o que não a torna exportável.

    Na excelente análise sobre a China encontrada em “Revoluções e Regimes Marxistas”, organizado por Paulo Fagundes Visentini, com a colaboração dos professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Analúcia Pereira, José Miguel Martins, Luiz Dario Ribeiro e Luiz Gustavo Gröhmann) (Editora Leitura XXI, Porto Alegre, 2013, com apoio do SindBancários e da UFRGS-NERINT), encontra-se a síntese que bem demonstra estarmos diante de uma novidade, como a China já dera ao mundo quando da Idade Média europeia.

    “Colocar a vida das pessoas em primeiro lugar representa um projeto de consolidação da China como um polo de poder no Sistema Internacional”, contudo “arrefecem mais uma vez as relações da China com a Rússia”, “representam um retorno à sabedoria tradicional e uma superação da Revolução Permanente de Mao”. “Sua perspectiva está mais próxima do Presidente estadunidense Franklin Dellano Roosevelt”. Um país nacionalista e pacifista, construtor de muralhas protetoras não para conquistas.

    Um país que aprovou Constituição plutocrática que permanece desde 1787, criou a Doutrina Monroe, em 1823, para lhe dar poder sobre as nações latino-americanas que se libertavam, naquele início de século, do domínio colonial europeu, divulgam, em 1845, um tal Destino Manifesto, para justificar irem além das Américas destituindo e apoiando governos, de acordo com sua sujeição aos interesses estadunidenses, inventa pretexto para guerrear países asiáticos – Coréia, Vietnã, Afeganistão – mesmo só colhendo derrotas, atira em seu próprio povo (11 de setembro de 2001) para criar a “Guerra ao Terror” e invadir nações islâmicas, e não ficou um só momento, desde a II Grande Guerra, sem ocupar militarmente ou declarar guerra a países aliados ou que eles entendessem como hostis, não é definitivamente uma nação pacífica. Havendo guerra, é certa a presença dos EUA.

    A Rússia é uma incógnita neste cenário. Pode se aliar aos EUA contra a China que já alcançou pelas conquistas tecnológicas, sociais, ações internacionais, um mais elevado patamar civilizacional. Ou pode se aliar à China para buscar também as reformas que a levarão ao mesmo patamar.

    Porém tem-se como certo que o mundo conhecerá muito brevemente a nova geopolítica. Lamentavelmente seremos vítimas e não atores, pela sujeição do Brasil às forças financeiras, nacionais e internacionais, representadas no Comitê de Política Monetária (COPOM), verdadeiro governante do País. Assim não participaremos da formulação dessa nova geopolítica, malgrado nossa dimensão territorial, nossa riqueza natural, energética e cultural do povo miscigenado.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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