Trump, o difusionismo e a estratégia lá e cá
"Trump cria distrações para ganhar tempo na implementação de sua agenda interna", avalia Oliveiros Marques
O receituário se repete. Donald Trump inicia uma estratégia clara: criar distrações para ganhar tempo na implementação de sua agenda interna. Mais do que retomar o Canal do Panamá, renomear o Golfo do México, anexar o Canadá ou tomar na mão grande a Groelândia, seu objetivo é lançar nuvens de fumaça sobre a política interna americana e suas ideias para o governo. No entanto, parece improvável que a imprensa americana independente, bem como a mundial, caia nessa armadilha. As respostas à altura já vieram, tanto da presidenta do México quanto do primeiro-ministro do Canadá.
Dentro desse debate, recebi do amigo Carlito Merss um artigo de James Carville, estrategista do Partido Democrata, no qual ele analisa os próximos quatro anos sob a gestão Trump. Além de traçar diretrizes estratégicas para os democratas, Carville destaca as pautas que o trumpismo deve priorizar, as mesmas que essa retórica inflamada busca camuflar antes da posse.
Carville chama a atenção para temas que impactam diretamente a vida cotidiana dos americanos, especialmente na economia e no social. Ele sugere que os democratas ignorem a figura de Trump e foquem no conteúdo de suas políticas, considerando que ele provavelmente não será candidato daqui a quatro anos. Essa estratégia, com os papéis invertidos, é claro, me parece também ser válida para o Brasil.
Entre as medidas previstas para o governo republicano estão cortes de impostos para os mais ricos, aumento do custo de vida com novas tarifas, enfraquecimento da Lei de Cuidados Acessíveis — prejudicando milhões de americanos sem acesso a planos de saúde — e a ausência de políticas para reduzir os custos de medicamentos. Essas ações, claramente desfavoráveis à maioria da população, são o que Trump tenta ocultar com sua pirotecnia discursiva. Carville sugere que a oposição democrata enfrente diretamente essas questões.
E como fazê-lo? O experiente e vitorioso estrategista propõe uma receita clara: posicionar os democratas como uma oposição firme e consistente ao que o trumpismo representa. Ele defende a construção de uma agenda econômica criativa, popular e ousada, com propostas como o aumento do salário mínimo, para se conectar com a base da população.
Trazendo essa reflexão para o Brasil, acredito que as ideias de Carville podem servir de inspiração. O governo Lula deve defender seu projeto de País de forma clara e objetiva, fazendo a disputa política com base em sua visão de sociedade. Travar o embate com o conteúdo que é a base de sua construção histórica é necessário para enfrentar os desafios rumo à construção de um país mais inclusivo e justo. Trata-se de um confronto direto, com um diálogo claro com a população, evidenciando as diferenças entre os projetos de País — e, por consequência, os impactos que essas diferenças terão na vida das pessoas.
Bolsonaro não será candidato em 2026. Contudo, o que ele representa terá, sim, seus porta-vozes. O desafio do campo governista é confrontar desde já esse conteúdo e essa visão de mundo, colocando-os em seu devido lugar no debate público. E isto se faz com muito mais do que propaganda. É tarefa para todos os agentes políticos.
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