Turquia no BRICS: quais as implicações desta novidade geopolítica?
Trata-se de uma mudança significativa na política externa do gigante euroasiático
Para surpresa de muitos, a Turquia oficializou em 2 de setembro o seu pedido de adesão ao grupo BRICS+ e o presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, deve participar da cúpula do fórum em Kazan, na Rússia, entre 22 e 24 de outubro.
Trata-se de uma mudança significativa na política externa do gigante euroasiático. Afinal, a Turquia é um arguto membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, nada menos que o segundo maior exército da OTAN, com uma vasta indústria bélica, uma economia pujante e situada estrategicamente entre a Ásia e a Europa. Posição que após a ascensão de Erdogan, o país soube explorar inteligentemente, não sem percalços, em benefício de seus próprios interesses.
Essa decisão também evidencia um certo cansaço com o sistema internacional pós-1945, que coordenado pelo Conselho de Segurança da ONU, não mais reflete a correlação de forças atuais. Os países não estão presos a uma política de blocos (capitalista e socialista), tampouco desejam a permanência de uma hegemonia ocidental, comandada pelos EUA, desde 1991.
Além disso, tal pedido de adesão aos BRICS, expressa um esgarçamento da própria relação com o Ocidente Coletivo, marcado pelas dificuldades em reconhecer as preocupações de segurança do país, como no caso da Suécia, que abriga lideranças insurgentes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, o PKK. Quando a Turquia decidiu pela compra dos sistema de defesa antiaéreo russo, os famosos S400, muito melhores que os caríssimos e ineficazes Patriots estadunidenses, o país foi retirado do consórcio de construção do jato F35. Projeto na qual já tinha gasto um bilhão de dólares. Isto sem contar as décadas de espera pela adesão do país a União Europeia.
No campo Ocidental, liderado pelos EUA, na verdade, só há lugar para subordinação aos desejos imperiais da ex-hiperpotência, cujo o melhor exemplo é União Europeia que abriu mão da energia barata russa e da parceria comercial com a República Popular da China, como bem demonstrou Mário Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, em um relatório, solicitado pela chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
A próxima reunião da Cúpula dos BRICS, que foi precedida de mais de 200 eventos promovidos pela presidência do grupo, poderá construir um protocolo que regule a adesão dos 34 países que desejam se juntar ao grupo, conhecido pela equidade entre os Estados, diversidade de sistemas políticos e econômicos e focado na promoção dos interesses da maioria global.
Sem dúvida, a oficialização da participação turca nos BRICS é mais uma fato do inexorável advento do Mundo Multipolar.
Fonte: Serguei Monin, Edição: Lucas Estanislau
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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