TV 247 logo
    Camilo Irineu Quartarollo avatar

    Camilo Irineu Quartarollo

    Autor de nove livros, químico, professor de química, com formação parcial em teologia e filosofia.

    84 artigos

    HOME > blog

    Uh, é de morte!

    O mercado chegou aos pés da sepultura sem nenhuma misericórdia ou reverência

    (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

    No frontão do Cemitério da Saudade foi escrita a seguinte sentença: “Omnes Similes Sumus”. Ou seja, aqui somos todos iguais! Vai prefeito e vem prefeito e são 3,5 mil sepulturas em 90 quadras, com o imponente jazigo do primeiro presidente civil da República, Prudente de Moraes, do pintor Almeida Júnior e cidadãos como o Nhô Lica, o padre Galvão, a criança milagrosa, Dr. Alfredo Cardoso, o amigo do livro Pradão, a escravizada Gertrudes, cada um com sua história – sem enumerar os contemporâneos que já se foram, uh, que medo! 

    Em São Paulo, entretanto, o mercado chegou aos pés da sepultura sem nenhuma misericórdia ou reverência. Alguns cemitérios paulistanos já têm donos, concedidos por Ricardo Nunes, cujo tema veio à baila nos debates eleitorais do ano passado. Se não viu, talvez ainda estejam circulando na net do Zuckerberg e do Musk. 

    Antes o cara ferrado preferia morrer e deixar um seguro ou poupança para a família. Agora terá de continuar tropeçando na vida, pois além de morrer no cartão de crédito o “cadáver adiado” de Fernando Pessoa tem de morrer com uma taxa pela sepultura do morto consumado, seu parente. 

    Quando o aposentado Luiz Antônio Muniz de Souza e Castro foi visitar seus entes memoráveis no cemitério da Consolação... e, com o perdão do trocadilho, qual o consolo? Destruíram o sepulcro de seus familiares, sob a alegação de abandono! Esses cemitérios sob concessão têm uma taxa de manutenção anual, se não pagar às concessionárias, essas empresas tomam o jazigo para reuso e os revendem por bom preço.

    Segundo os vereadores paulistanos, tem de se pagar para morrer a um custo que varia entre R$ 1,5 mil a R$ 12 mil. Mais de 500 famílias já perderam o direito sobre uso de suas sepulturas nos cemitérios paulistanos do Araçá, Vila Mariana e Quarta Parada, segundo o UOL e, segundo este mesmo veículo, quase 18 mil famílias estão nessa condição – diria que em um purgatório em vida, pois o inferno seria ninguém lutar contra isso. 

    De repente a família descobre que os restos mortais daqueles que lhes foram tão queridos em vida, os ossos do avô, do pai ou da mãe, aguardam amontoados na recepção dentro de um saco preto, e que o parente vivo se vire como puder. E os jazigos? São revendidos por um valor em torno de R$ 150 mil. Virou um mercado lucrativo nessas concessões públicas da terra da garoa. A fiscalização é precária, e quem pode com as big?! Melhor seria trabalhar com os autônomos, como zeladores e jardineiros de cemitério.

    Aqui ainda não, mas lá em São Paulo, desde março de 2023, 22 cemitérios são geridos por quatro concessionárias, quais sejam a Cortel SP, Velar SP, Consolare e Grupo Maya. A partir daí as novas administradoras públicas definem o que é ou não abandono, convocam os responsáveis a regularizar a situação indicada. Quem não responder a esse chamado ou se não tiver bufunfa para arcar com os custos da reforma da sepultura, babau. Seus mortos são despejados na portaria. Ora, como em muitas concessões pelo país e Estado, reclamar com essas empresas é quase impossível. 

    Que Deus nos livre dessas concessões públicas infernais!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: