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    Joaquim de Carvalho

    Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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    Um bandido em Nova York: com visto vencido, Allan dos Santos desafia autoridades de dois países

    Fugindo da Justiça no Brasil, Allan dos Santos entrou nos EUA com visto de turista, que venceu em fevereiro do ano passado

    (Foto: Reprodução)

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    Allan dos Santos invocou o princípio da liberdade de expressão para agredir um homem que andava pela calçada em Nova York, mas nem lá — e talvez principalmente lá —. esse tipo de comportamento não é admitido.

    Se o homem agredido quiser — ele fala português, provavelmente é do Brasil —, pode acionar Allan dos Santos na Justiça dos EUA e, dificilmente, o bolsonarista que se diz jornalista deixaria de pagar indenização e talvez sofresse até alguma condenação penal.

    A prova do crime ou dos danos morais foi postada na rede pelo próprio bolsonarista. 

    O homem, de óculos e com terno, sai de uma porta quando Allan pergunta:

    — O que o senhor tem a dizer sobre as manifestações aqui?

    — Eu não sei nada — responde a vítima.

    — Não sabe nada? O Brasil não está vivendo uma tirania?

    O homem tira o óculos e pergunta a Allan:

    — O senhor mora onde?

    Allan fica mais agressivo:

    — A pergunta … Eu sou o jornalista aqui!

    — Qual é o problema? — questiona a vítima, aparentemente sem saber por que estava sendo abordado.

    Allan dos Santos gagueja, aparentemente surpreso pelo homem lhe olhar nos olhos: “O sen, o sen, o senhor. Não, eu só estou perguntando para o senhor. O Brasil não está vivendo uma tirania?”

    O homem repete a pergunta: “O senhor mora onde?”.

    Foragido da Justiça no Brasil, Allan grita:

    — Responde o que estou perguntando, rapaz. Seja homem! 

    A vítima, sem perder a calma e sem alterar o tom de voz, comenta:

    — Você vai me bater?

    Seu questionamento é próprio de quem se dirige a um bandido, que poderia ser traduzido assim: “Você vai me assaltar?”

    O agressor comenta, como se não fosse bandido:

    “Não, não vou bater nada, não”. E acrescenta, como se fosse um jornalista:

    “Eu só tenho a liberdade de perguntar o que eu quiser”.

    A vítima usa argumento que é claro para quem exerce com dignidade o jornalismo:

    “E eu tenho a liberdade de não responder”.

    O agressor Allan dos Santos parte para a agressão criminosa:

    “Então pronto. Não responde. Fica calado, seu covarde. Então fica calado, seu covarde. 

    A vítima se vira, encara o agressor e faz alguns comentários, pertinentes. Dá para ouvi-lo dizer: "Você me abordou, não sei o que está acontecendo”.

    O agressor tenta se fazer de vítima: “Não bota a mão em mim, não bota a mão em mim”. A vítima levanta as duas mãos, para mostrar que não encostou no agressor, dá as costas e vai embora.

    Allan dos Santos revela toda a sua natureza criminosa quando o homem está alguns metros adiante:

    “Seu covarde, vagabundo, vagabundo, va-ga-bun-do”.

    O que o bolsonarista foragido da Justiça brasileira fez não é jornalismo aqui e em nenhum lugar do mundo. O que ele fez foi um ataque criminoso, tentando se passar por jornalista para agredir o que ele considera adversário. No caso, este aparentemente nem sabia de quem se tratava.

    Se a vítima processar Allan dos Santos, será ótima oportunidade para saber sua situação legal no país onde ele acredita poder fazer o que quiser, inclusive agredir pessoas na rua.

    Quando teve sua prisão decretada no Brasil, por organizar atos contra o regime democrático, Allan dos Santos fugiu do Brasil. No inquérito, há fartas provas, inclusive diálogo dele com o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, a quem dá orientação sobre como Bolsonaro deve agir, para promover a intervenção militar, com o atual presidente no comando.

    Allan foi primeiramente para o México e, em agosto de 2020, depois da quarentena exigida na época pelas autoridades em razão da covid, entrou no território dos Estados Unidos, com visto de turista, o B1.

    O visto expirou em fevereiro de 2021, e não há notícia de que tenha sido renovado ou que ele tenha obtido outro status de permanência nos EUA, como asilado. Portanto, é possível que Allan dos Santos esteja em território norte-americano de maneira irregular.

    O procedimento protocolar, neste caso, é detê-lo e deportá-lo ao Brasil, onde seria preso tão logo deixasse o avião. 

    Como é um militante do governo Bolsonaro, certamente o Executivo não informará os EUA de que o homem que agride pedestre pode estar clandestinamente no país.

    Mas isso não impede que o Supremo Tribunal Federal, um dos três poderes da república, tome essa providência.

    Se o governo dos EUA fará cumprir a própria lei, é outro assunto. Talvez já saibam - e se não sabem, precisam ser informados - de que Allan dos Santos deixou o Brasil posivelmente com ajuda de Eduardo Bolsonaro.

    O deputado e filho de Jair Bolsonaro foi citado na investigação da Câmara dos Representantes sobre a tentativa de invasão do Capitólio como participante de reunião suspeita com trumpistas, na véspera do maior atentado contra a democracia da história dos EUA.

    Se Allan dos Santos é, como tudo indica, um operador de Eduardo Bolsonaro — já morou em casa alugada por ele em Brasília —, precisa ser monitorado como potencial terrorista.

    O comportamento dele na rua de Nova York é indicador de que se trata, no mínimo, de pessoa perigosa. A extrema direita que inferniza o Brasil tem conexões com a extrema direita que ameaça o regime democrático nos EUA.

    Se o governo de Biden permitir que um brasileiro, talvez em situação irregular, promova atos criminosos à luz do dia e ainda divulgue o vídeo impunemente, não estará defendendo a liberdade de expressão, mas se desmoralizando, por permitir o banditismo como se fosse manifestação democrática.


     

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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