Um gosto de fel - a derrota anunciada
CPI do MST apareceu plena de intenções. No fim, restou um ‘gosto de fel’, de uma derrota anunciada
Há expectativas que começam boas, promissoras, carregadas de augúrios positivos, alimentando planos e projetos. Outras, surgem grávidas de sombras, prevendo infelicidades ou, pelo menos, decepções ou desastres fragorosos. A CPI do MST, na Câmara dos Deputados, na ótica dos que conseguiram instalá-la, apareceu plena de intenções. A maioria, pouco louváveis: tinham o propósito de eliminar, na sociedade brasileira, as organizações que se dedicam à reforma agrária, entendidas sob a perspectiva de uma agricultura familiar. É, digamos assim, um contraponto animador, se a comparamos ao chamado agronegócio, responsável por boa parte das nossas exportações, mas concentrada sobretudo nas plantações de soja, milho e gêneros semelhantes. Não se pode falar mal de suas atividades, porque rendem dinheiro e, de certa maneira, nos sustentam aumentando o PIB, mas o que põe comida na mesa é mesmo a atividade familiar na terra.
Expectativas quanto à CPI amanheceram contaminadas por preocupações, uma vez que os que a comandavam pareciam menos ocupados com a verdade e conduzidos por preconceitos, entre os quais se destacava o programa deliberado de difamar e derrubar o movimento dos sem-terra. A cada passo, a cada sessão, manipulavam os debates usando os regimentos em seu favor, enquanto as falas dos participantes lutavam para se afirmar e erguer verdades. Houve gente corajosa e disposta a ir até os dentes para não permitir que a reforma agrária se desfizesse, pela vontade de alguns, esfarelando-se como realidade criminosa. Com idas e vindas, vitórias e derrotas, ao longo de sua jornada, de parte a parte, os grupos não desistiam, numa queda de braço que deveria legitimar os interesses dos primeiros ou as defesas dos últimos que, diga-se passagem, não entregavam os pontos.
No fim, sob o ângulo de seus dirigentes, sem aprovar relatórios, restou um ‘gosto de fel’, de uma derrota anunciada, porque se punham no lado errado da História. A agricultura familiar impõe-se como uma realidade flagrante, mesmo para quem não aceita a sua existência. Discretamente, nos mercados, selecionam-se entre os produtos uma vez que, orgânicos, contrastam com os outros, acrescidos de inseticidas e transgênicos para aumentar a produção e o volume dos lucros. Fel e derrota é o mínimo que se pode dizer a respeito daqueles políticos engajados em campanhas visando votos e se esquecendo de que cadeiras do parlamento, além dos benefícios pessoais e uma carreira política, devem objetivar o país como um todo, com suas dificuldades a resolver.
Não espanta que, do outro lado, reunindo os contestadores que se aninharam contra a mesa diretora e enfrentaram as disposições feitas para silenciar o murmúrio opositor, outro tipo de comemoração, agora com ‘um gosto de mel’, se anunciava em defesa dos sem-terra. Não haviam logrado embaraçá-los. Podemos continuar tranquilos, se o desejarmos, alimentando-nos com seus produtos orgânicos de qualidade. A campanha para a prefeitura de São Paulo continuará sem “réuslatores”, o mesmo ocorrendo no Rio Grande do Sul, cujas inundações causaram imensos prejuízos. Diante deles, não há lugar para contribuições de outro tipo, com ou sem patente de tenente coronel.
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