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    Ronaldo Lima Lins

    Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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    Um gosto de fel - a derrota anunciada

    CPI do MST apareceu plena de intenções. No fim, restou um ‘gosto de fel’, de uma derrota anunciada

    Ricardo Salles (Foto: Agência Câmara )

    Há expectativas que começam boas, promissoras, carregadas de augúrios positivos, alimentando planos e projetos. Outras, surgem grávidas de sombras, prevendo infelicidades ou, pelo menos, decepções ou desastres fragorosos. A CPI do MST, na Câmara dos Deputados, na ótica dos que conseguiram instalá-la, apareceu plena de intenções. A maioria, pouco louváveis: tinham o propósito de eliminar, na sociedade brasileira, as organizações que se dedicam à reforma agrária, entendidas sob a perspectiva de uma agricultura familiar. É, digamos assim, um contraponto animador, se a comparamos ao chamado agronegócio, responsável por boa parte das nossas exportações, mas concentrada sobretudo nas plantações de soja, milho e gêneros semelhantes. Não se pode falar mal de suas atividades, porque rendem dinheiro e, de certa maneira, nos sustentam aumentando o PIB, mas o que põe comida na mesa é mesmo a atividade familiar na terra.

    Expectativas quanto à CPI amanheceram contaminadas por preocupações, uma vez que os que a comandavam pareciam menos ocupados com a verdade e conduzidos por preconceitos, entre os quais se destacava o programa deliberado de difamar e derrubar o movimento dos sem-terra. A cada passo, a cada sessão, manipulavam os debates usando os regimentos em seu favor, enquanto as falas dos participantes lutavam para se afirmar e erguer verdades. Houve gente corajosa e disposta a ir até os dentes para não permitir que a reforma agrária se desfizesse, pela vontade de alguns, esfarelando-se como realidade criminosa. Com idas e vindas, vitórias e derrotas, ao longo de sua jornada, de parte a parte, os grupos não desistiam, numa queda de braço que deveria legitimar os interesses dos primeiros ou as defesas dos últimos que, diga-se passagem, não entregavam os pontos.

    No fim, sob o ângulo de seus dirigentes, sem aprovar relatórios, restou um ‘gosto de fel’, de uma derrota anunciada, porque se punham no lado errado da História. A agricultura familiar impõe-se como uma realidade flagrante, mesmo para quem não aceita a sua existência. Discretamente, nos mercados, selecionam-se entre os produtos uma vez que, orgânicos, contrastam com os outros, acrescidos de inseticidas e transgênicos para aumentar a produção e o volume dos lucros. Fel e derrota é o mínimo que se pode dizer a respeito daqueles políticos engajados em campanhas visando votos e se esquecendo de que cadeiras do parlamento, além dos benefícios pessoais e uma carreira política, devem objetivar o país como um todo, com suas dificuldades a resolver.

    Não espanta que, do outro lado, reunindo os contestadores que se aninharam contra a mesa diretora e enfrentaram as disposições feitas para silenciar o murmúrio opositor, outro tipo de comemoração, agora com ‘um gosto de mel’, se anunciava em defesa dos sem-terra. Não haviam logrado embaraçá-los. Podemos continuar tranquilos, se o desejarmos, alimentando-nos com seus produtos orgânicos de qualidade. A campanha para a prefeitura de São Paulo continuará sem “réuslatores”, o mesmo ocorrendo no Rio Grande do Sul, cujas inundações causaram imensos prejuízos. Diante deles, não há lugar para contribuições de outro tipo, com ou sem patente de tenente coronel.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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