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    Henrique Pizzolato

    Ex-sindicalista bancário; ex-presidente da CUT Paraná; ex-diretor da Previ e do Banco do Brasil; militante de Direitos Humanos e membro da Rede Lawfare Nunca Mais

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    Um grito de resistência contra a catástrofe e a mentira

    "É revoltante constatar que a tragédia poderia ter sido minorada ou até evitada"

    Enchente em Porto Alegre (Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini)

    As imagens de Porto Alegre, cidade que acolheu parte importante da minha história, submersa pela fúria das águas, me dilaceram. Ruas que um dia trilhei em passeatas pela anistia, pela nova constituinte, hoje testemunham a dor e o desespero de um povo castigado pela força da resposta da natureza. A calamidade que assola o Rio Grande do Sul, estado que também acolhe parte das minhas raízes, ecoa em mim como um grito de alerta diante da destruição e da desinformação que se alastraram feito ervas daninhas.

    Lembro-me dos debates acalorados na Universidade, nos centros acadêmicos, nas câmaras de vereadores, há mais de 30 anos, sobre a preservação da natureza, a importância das matas ciliares, os riscos da urbanização desenfreada. Alertas ignorados, vozes silenciadas pela ganância, pela arrogância daqueles que se consideram senhores do destino, donos de um poder que se curva diante da força da natureza. As águas que hoje invadem as ruas de Porto Alegre, do Vale do Taquari, da Serra Gaúcha, trazem consigo a conta da irresponsabilidade, o preço da negligência com o meio ambiente.

    É revoltante constatar que a tragédia poderia ter sido minorada ou até evitada. As comportas do dique de Porto Alegre, enferrujadas pela falta de manutenção, cederam à força da água como um castelo de areia. Mais de 200 artigos do Código Estadual, retirados para favorecer a especulação imobiliária, abrem caminho para a destruição das matas ciliares, o assoreamento dos rios, a deterioração ambiental. O Rio Grande do Sul, assim como o Brasil, se torna refém da lógica predatória que se impõe sobre a vida, que se alimenta da destruição, da mentira e do medo.

    A resposta à catástrofe, contudo, se manifesta na força da solidariedade do povo brasileiro. As doações, os trabalhos voluntários, a união de esforços para levar alimento, abrigo e esperança aos que perderam tudo, reacendem a chama da esperança. É comovente testemunhar a mobilização de brasileiros de todos os cantos do país, estendendo a mão aos irmãos gaúchos, demonstrando que a compaixão e a fraternidade podem superar as barreiras da distância e da adversidade.

    Mas a batalha pela reconstrução do Rio Grande do Sul se depara com um inimigo insidioso: a desinformação. As fake news, espalhadas por canais digitais e figuras públicas que se escondem atrás da máscara da liberdade de expressão, visam confundir, desmobilizar, semear o pânico e a desconfiança. É preciso denunciar, combater, desmascarar a mentira que se disfarça de informação, que busca se aproveitar da dor e do caos para promover a agenda da morte e da destruição.

    O desafio da reconstrução exige um questionamento profundo: onde reconstruir? Quem financiará a obra? Insistir em reerguer cidades em áreas de risco, em regiões vulneráveis aos eventos climáticos extremos, seria repetir os erros do passado, condenando as futuras gerações a reviver o ciclo de destruição. A reconstrução do Rio Grande do Sul precisa ser guiada pela lógica da sustentabilidade, da preservação ambiental, da justiça social.

    É preciso reconhecer que a reconstrução do Rio Grande do Sul não é apenas uma questão de recursos financeiros, de obras de infraestrutura, de planejamento urbano. É, acima de tudo, uma questão de valores, de escolhas, de prioridades. É preciso romper com a lógica predatória que coloca o lucro acima da vida, que se alimenta da desigualdade e da exploração. É preciso construir um futuro em que a natureza seja respeitada, onde a vida seja valorizada, onde a solidariedade prevaleça sobre o egoísmo.

    Resta nosso grito de resistência contra a destruição e a mentira, na esperança que a força do povo gaúcho, unida à solidariedade do povo brasileiro, seja capaz de reconstruir as cidades, os valores, os sonhos, a esperança de um futuro mais justo e sustentável.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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