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    Pedro Maciel

    Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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    Um mundo ridículo e cheio de idiotas?

    O homem idiossubjetivado crê no discurso neoliberal que demoniza as evoluções das políticas econômicas e sociais dos estados

    (Foto: ABr)

    A maioria das pessoas não lê, não reflete, “informa-se” pelas redes de WhatsApp e através de conteúdos nas redes sociais, tudo raso e fluido; essas pessoas, para serem aceitas em ambientes que lhes foi dito serem os corretos, vivem vidas ridículas, egoístas, vazias superficiais; normalizam a barbárie e se afastam de toda forma de espiritualidade genuína.

    Há quem afirme que vivemos num mundo ridículo e cheio de idiotas. Será?

    Não conheço o oriente, sua História e cultura, razão pela qual quando me refiro ao “mundo”, trata-se do mundo que conheço, o ocidental, o qual torna-se cada dia mais egoísta, vazio e violento, talvez precisemos de outra missão civilizatória do oriente, como aquela que permaneceu por oito séculos na península ibérica e legou à Europa, a partir da Espanha, arte, arquitetura, medicina, matemática, além de ensinar hábitos de higiene aos europeus.

    Aparentemente os europeus não curtem tomar banho, tanto que quando chegaram ao Brasil, em 1500, os portugueses, comandados por Pedro Álvares Cabral, não tomavam banho todos os dias, há quem diga que eles, como o Cascão, criação do genial Mauricio de Sousa, fugiam da água e só começaram a se lavar diariamente por influência dos povos originários, aliás, o incentivo à higiene e vários outros hábitos, além de comidas, palavras e até nomes de pessoas fazem parte da herança da cultura dos nativos.

    E não venham os donos de passaporte de país europeu dizer que estou exagerando, pois, em pleno 2024 a influenciadora Monique Escapeti fez um story no Instagram no qual comenta sobre o mau cheiro das pessoas nos transportes públicos no Velho Continente, Monique se surpreendeu com o odor dos europeus, ou, nas suas palavras: "Se tem uma coisa impressionante em qualquer lugar da Europa é o fedor de cecê. O pior é que é inverno, está todo mundo de casaco, e mesmo com a galera usando casaco está um fedor absurdo. Quando a gente viaja para a Europa no verão, é ainda pior. É desumano. A galera não toma banho".

    Antes de voltar ao tema principal do artigo, creio que é prudente lembrar que “mouro” é a designação do homem europeu à cor escura da pele dos povos que chegaram à Península Ibérica (Espanha e Portugal) por volta do séc. VIII e ali permaneceram vários séculos deixando, como dito acima, importante legado na cultura e no idioma; palavras “guitarra”, “azulejo”, “alface”, “chafariz” pertencem à língua árabe e foram trazidas pelos mouros, assim como o fado, estilo de música portuguesa, e o canto flamenco, têm sua origem na maneira de cantar deste povo.

    Em Lisboa, o bairro habitado pelos mouros foi denominado como "mouraria" e o nome permanece até hoje; há traços da influência moura na culinária portuguesa em pratos como os bolinhos de amêndoa e os ensopados de carneiro, entre outros.

    Muitas vezes usa-se “mouro” como sinônimo de árabe, contudo, (a) “mouro”, se refere aos povos berberes e aos muçulmanos que viviam na Península Ibérica e que não eram árabes; (b) os “árabes” são aqueles que nascem nos países como o Egito, Arábia Saudita, Iêmen, Líbano etc (ser árabe, portanto, tem mais a ver com a identidade cultural e idioma do que com a religião) e, (c) “muçulmano” é aquele que pratica o Islã e , o maior país muçulmano do mundo, a Indonésia, não é um país árabe.

    Voltemos à questão proposta – A maioria das pessoas não lê, não reflete e, essas pessoas, para serem aceitas em ambientes que lhes foi dito serem os corretos, vivem vidas ridículas, egoístas, vazias superficiais; uma forma de viver que normaliza toda espécie de violência e o pior: se afastam de toda forma de espiritualidade genuína.

    Fiquei muito impactado com a entrevista do juiz de direito do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e escritor Rubens Casara, concedeu à TV 247, na qual ele fala do seu livro "A construção do idiota: o processo de idiossubjetivação", especialmente quando ele afirma que: "a idiossubjetivação é uma ferramenta usada pelo neoliberalismo para formatar pessoas que naturalizam o absurdo", o que fez, pelo menos para mim, todo sentido, pois, se tomarmos a categoria “idiota” como aquela pessoa incapaz de refletir com liberdade genuína e não propriamente no sentido psicológico ou psiquiátrico.

    Casara explicou que o conceito de idiossubjetivação se refere a um processo no qual o sujeito se torna incapaz de perceber que está agindo contra os próprios interesses. "O sujeito idiossubjetivo se torna incapaz de perceber que ele está atuando no sentido contrário aos seus interesses, aos interesses dos filhos, e não faltam exemplos de pessoas que cometem esse vício de pensamento, muito mais próximo do vazio de pensamento do que de reflexão".

    Ele destacou que este é um fenômeno global, associado a uma mudança subjetiva provocada pelo que alguns autores denominam de "racionalidade hegemônica, racionalidade neoliberal". Casara mencionou que a motivação para escrever seu livro foi tentar entender por que tantas pessoas aceitam como naturais convicções que, até dez anos atrás, seriam inaceitáveis, ao ponto de eleger representantes dessa barbárie como presidentes.

    Para combater o processo de idiossubjetivação, Rubens Casara sugere uma abordagem firme: “Não se negocia com vidas, não se pode aproveitar de uma desgraça, de uma tragédia que é política, ecológica, ambiental para que isso venha a ser percebido pelo sujeito como oportunidade de levar uma vantagem.”

    O homem idiossubjetivado crê no discurso neoliberal que demoniza as evoluções das políticas econômicas e sociais dos Estados; considera o Estado o responsável por todos os conflitos e as crises passadas e presentes; para esse idiota contemporâneo a ideologia liberal de mundo é “o caminho, a verdade e a vida”, sobretudo para o homem de classe média; o idiossubjetivado tem horror ao Estado, menospreza qualquer análise que não seja de caráter liberal sobre o Estado e a sua composição de classes e as interpretações sobre a história da formação da burguesia e da consolidação do modo de produção capitalista.

    São as reflexões.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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