Um recado da boca de urna para Guilherme Boulos
Cada voto, toda urna, terá seu efeito e sua importância -- no presente e no futuro próximo, no estado e no país
Quando faltam poucas horas para o segundo turno da campanha eleitoral de 2024, tenho a obrigação de registrar meu testemunho militante dos últimos dias.
Passei vários tardes desta semana que antecede a votação num esforço pessoal para conversar com eleitoras e eleitores que no domingo irão às urnas do país inteiro, cuja importância nem é preciso detalhar aqui.
Em companhia de um conjunto de militantes feministas, calejadas por várias campanhas políticas realizadas nas últimas décadas, acumulei horas de entrevistas com dezenas de eleitoras e eleitores a caminho do trabalho para casa, e vice-versa, na saída de uma estação da linha 2 do metro de São Paulo, que faz o trajeto entre a Praça da Sé e a Vila Sonia.
Não se trata de uma amostra com valor estatístisco, evidentemente. Nem deve ser vista como um possível retrato do pensamento dos milhões de eleitores que faziam caminho de casa para o trabalho ou vice-versa.
Seu valor imediato é muito modesto, quase simbolíco, mas nem por isso seu conteúdo político deve ser ignorado. Dias antes do segundo turno de um pleito que antecede em dois anos a próxima eleição presidencial, quando o país voltará às urnas para escolher governadores de Estado, deputados, senadores e o próprio presidente da República, as conversas daqueles cidadãos e cidadãs de passo apertado tem caráter específico e inegável.
A partir de diálogos sempre educados e até atenciosos, apesar do pouco tempo disponív\el, foi possível enxergar o rascunho de retrato vivo e à cores da opinião política de trabalhadoras e trabalhadores, funcionários públicos, estudantes, aposentados e desempregados que circulavam por um ponto de grande concentração popular de São Paulo na semana que antecede o segundo turno de 2024.
Em conversa rápidas -- algumas reduzidas ao tempo de caminhada na calçada até a entrada da estação do metrô -- eu deixava claro desde o início, meu apoio militante à candidatura de Boulos.
Nessa condição, ouvi comentários e opiniões de todo tipo. Encontrei homens e mulheres que viravam o rosto quando identificavam minha escolha política. Com mais frequencia, vivi a situação contrária.
Eleitoras e eleitores não só se mostravam felizes de conversar sobre o pleito, mas espontaneamente pediam material de propaganda para entregar a amigos, parentes e vizinhos. Sem querer fazer comparações impróprias, a partir de conversas num dos pontos tradicionais de concentração popular é possível recordar momentos importantes do ambiente político da cidade e do país.
Foi assim em 1988, por exemplo. Deliberadamente ignorada pela maioria dos analistas de plantão dos jornais e da TV, Luiza Erundina abriu caminho para uma virada fulminante na disputa pela prefeitura de São Paulo, que lhe daria projeção em todo país, ao derrotar uma candidatura construidas nas fortalezas da política paulista do período.
Foi um passo importante -- e invisível até a contagem de votos -- na grande mudança no sistema político brasileiro naquele momento.
No ano seguinte Lula seria eleito presidente pela primeira vez, no ponto de partida para uma etapa inédita de mudanças positivas na economia e nos direitos de trabalhadores que nem é preciso enumerar aqui. Trinta e seis anos depois, sabemos que o conjunto de nosso sistema político se encontra num momento de transição de personagens e papéis em plano nacional. Aprendemos assim que a disputa municipal -- muito menos de São Paulo -- está longe de envolver um palco secundário.
Cada voto, toda urna, terá seu efeito e sua importância -- no presente e no futuro próximo, no estado e no país.
Alguma dúvida?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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