Uma injustiça contra Paulo Guedes
"Que não se tente transformar uma pilha de excremento moral em monstro. Ele é apenas cúmplice do Genocida. Isso e nada mais", escreve o jornalista Eric Nepomuceno
Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia
Paulo Guedes, o ex-funcionário de Augusto Pinochet que tem no currículo brasileiro um e apenas um destaque – sua bem sucedida atuação como especulador no mercado financeiro – disse que os que o acusam por ter dito que qualquer filho de porteiro com zero no vestibular entra em universidade estão querendo “criar um monstro” às custas do Estado.
Uma injustiça, disse ele. E concordo plenamente, apesar de ter dado prova inconteste de sua ignorância radical: há, sim, nota mínima para ser aprovado em vestibular.
Mas quem quer que seja que tenha o projeto de transformá-lo em um monstro está, na verdade, sendo um usurpador no melhor estilo de Temer.
Contei num texto, repito aqui.
Em novembro de 2002, poucas semanas depois da eleição de Lula, eu estava em São Paulo. E resolvi almoçar numa cantina italiana do bairro de Higienópolis, onde costumava me encontrar com meu pai quando ia do Rio para visitá-lo.
Escolhi uma mesa de canto. E, ao lado da minha, uma meia dúzia de engravatados comentava a eleição de Lula.
Pareciam advogados, agentes do mercado financeiro, enfim, gente de dinheiro. Os paletós estavam pendurados no respaldar da cadeira, as gravatas afrouxadas, dando sinais de um certo relaxamento.
Falavam alto, impossível não pescar uma frase aqui, outra acolá. Até que começaram a falar de Lula, e resolvi prestar atenção.
As menções iam de “pau-de-arara analfabeto” a “operariozinho de merda”, até que um – que achava natural comer enquanto bebia uísque com água – soltou a pérola: “Não serve nem para porteiro do meu prédio”.
Pois Paulo Guedes poderia perfeitamente estar naquela mesa, e certamente aplaudiria. Ninguém pode querer transformar semelhante besta em “monstro”: ele mesmo se transformou de filho de funcionária pública, que estudou em escola pública, que cursou universidade pública, no monstro que quer a qualquer e todo custo destroçar as instituições públicas. E, se tudo der certo, destroçar o próprio Estado.
Afinal, quem que não possa pagar um plano de saúde milionário acha que pode ter o direito de querer viver muito? Ter direito de, se ficar doente aos 88 anos e não tiver plano caríssimo de saúde, ser atendido às custas do Estado? Absurdo.
Em qualquer governo decente essa abjeção ambulante só passaria pela Esplanada dos Ministérios para tirar fotos e ponto final.
No pior governo da história da República ele se juntou a todas as nulidades indecentes e cúmplices: virou ministro.
Guedes é legítimo representante não apenas dos especuladores do mercado financeiro: também representa, e com brilho, gente como os cavalheiros daquela mesa de cantina em Higienópolis.
Continua, embora com intensidade muitíssimo menor, a contar com o apoio a classe asquerosa e daninha dos agentes dessa sacrossanta entidade invisível mas infinitamente poderosa, o tal de “mercado”.
Que não se tente transformar uma pilha de excremento moral em monstro. Ele é apenas cúmplice do Genocida. Isso e nada mais.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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