Uma mentira a menos sobre o funcionalismo
Em lista com 16 países que participam de levantamento que compara tamanho da população e quantidade de funcionários do Estado, Brasil encontra-se no 12º lugar
Diversas gerações de brasileiros e brasileiras nascem, crescem e morrem ouvindo a lenda de que o grande problema de nosso serviço público reside no excesso de funcionários públicos -- no plano federal, estadual e municipal.
Engano, informa reportagem de Alexa Salomão, da Folha de S. Paulo (30/7/2023). Os números estão lá, tabulados pelo Atlas do Estado do Brasileiro, plataforma do IPEA que reúne dados sobre o funcionalismo do país, e permitem comparações instrutivas.
O levantamento compara dois números essenciais, que mostram a relação entre o tamanho da população e quantidade de funcionários do Estado -- critério indispensável para se comparar a oferta de serviços públicos oferecidos em cada país, em atividades onde o contato pessoal segue uma referência básica e universal, seja nos guichês de atendimento, no serviço médico, na rede escolar, na segurança pública e assim por diante. Os dados são chocantes.
Numa lista com 16 países que participam do levantamento, o Brasil encontra-se num remoto 12o. lugar. Atrás do Chile (11o lugar) que carrega a herança de Augusto Pinochet, da África do Sul (10o) e seu histórico do apartheid e também a Argentina (9o) vizinho que uma fatia de brasileiros insiste em olha de cima para baixo.
Quando se examina o conjunto de 23 países da OCDE como um bloco único, descobre-se que, em média, 23,48% da população está empregada no setor público. No Brasil, são 12, 46%, número que ajuda a mostrar que aqui o problema é básico: simplesmente faltam funcionários para atender uma população de 211 milhões.
Os números de países conhecidos pela qualidade de seu serviço de bem-estar social são eloquentes. Dinamarca (com 30,22%), Suécia (29,28%) constituem glórias universais do serviço público, ocupando os primeiros lugares. Reino Unido (22,63%), Canadá (22,64%) e França (20,68%) também se destacam.
Ao lado do México, Peru, Bolívia e Colômbia, o Brasil é o destaque negativo. Assim fica fácil entender por quê os hospitais públicos vivem lotados, onde falta médicos, atendentes e enfermeiros, enquanto a classe média e profissionais liberais são levados a pagar mensalidades a peso de ouro para receber serviços de qualidade discutível no atendimento privado.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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