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    Vitor de Pieri

    Geógrafo, mestre em Relações Internacionais, Doutor em Geografia. Professor Associado do Instituto de Geografia da Uerj, onde ocupa o cargo de vice-diretor

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    Uma outra visão sobre o que está acontecendo com a UERJ

    Já é tempo da nova reitoria da UERJ descer do palanque eleitoral, esquecer a gestão anterior e começar a governar,

    Estudantes voltam a ocupar prédio da Uerj (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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    Causa surpresa aos que acompanham de longe, a atual crise na UERJ, em que os estudantes ocupam vários prédios da Universidade em protestos contra o chamado Aeda da Fome, ato da reitoria que restringiu os auxílios concedidos aos estudantes cotistas e em vulnerabilidade social.

    Quem acompanha mais perto sabe que, desde 2022, a Universidade foi "sequestrada" por uma onda lavajatista que cresceu com base nas fake news e nos ataques difamatórios aos adversários, a partir da construção de narrativas baseadas em realidades paralelas. 

    Atualmente, a tática é reproduzida pelos aliados da reitoria que procuram atacar pessoalmente os que defendem os estudantes, acreditando que assim os calarão e interditarão o debate sobre a permanência estudantil na Universidade. 

    Essa cartilha até serviu para ganhar uma eleição. Mas não basta para gerir uma universidade grande e complexa como a UERJ, e nem resolver os seus problemas atuais. 

    Mas a tática surrada, que criminaliza a política e as relações institucionais que a Universidade precisa manter com os poderes constituídos para se desenvolver, agrava a crise pois promove o maior isolamento institucional da Uerj a partir de posturas sectárias e arrogantes e acusações levianas em relação à gestão passada e, pasmem, às autoridades estaduais com quem deveriam ter a preocupação de negociar o orçamento da UERJ. 

    A partir de uma lógica partidária que não deveria pautar as relações Estado-Universidade, atribuem um juízo de valor negativo a respeito das necessárias articulações com um governo de outro campo político, condenando a estratégia que era anteriormente utilizada. Mudança de caminhos não seria um problema se tivesse sido construído um outro para viabilizar o regular funcionamento da Universidade. 

    Afinal, se não estavam dispostos a negociar com o governo a suplementação orçamentária, cuja necessidade era de conhecimento público revelado no Conselho Universitário há mais de dois anos, qual o caminho que iriam adotar para o prometido aumento da permanência estudantil? Pelo visto, não havia outro senão criticar a gestão anterior caso tudo o que ela estruturou desabasse diante da falta de articulação, para depois aderir ao discurso da austeridade seletiva, esperando que os estudantes, docentes e técnicos aceitassem pacatamente a renúncia de direitos. 

    E o pior é que, mesmo diante do absoluto fracasso da estratégia, que diariamente contribui para o aumento do caos, a reitoria dobra a aposta na tentativa de uma vez mais convencer a comunidade sobre suas versões fantasiosas da realidade, criminalizando os estudantes, maiores vítimas de suas políticas desastrosas. 

    Acusam os estudantes do uso da violência, mas atacam violentamente o movimento pacífico deles que luta pela sobrevivência do sonho que a reitoria está destruindo. 

    É justa a indignação dos estudantes diante do abismo que separa os compromissos de campanha e o que está sendo realizado pela gestão. O que esteve em debate nas eleições de 2023 era a manutenção do maior programa de permanência estudantil da América Latina criado pela gestão anterior. A chapa que venceu prometeu que as conquistas seriam mantidas e ampliadas. 

    Hoje a nova gestão diz que essa política era indevida e demasiada. Quem ganha as eleições governa. Mas ir em sentido contrário ao das promessas de campanha não costuma dar bons resultados, e é isso também que tem dificultado o diálogo com os estudantes, que se sentiram traídos. 

    Por isso, já é tempo da nova reitoria da UERJ descer do palanque eleitoral, esquecer a gestão anterior e começar a governar, pois os problemas atuais não podem ser atribuídos senão a ela própria. 

    A crise não é externa. As dificuldades são as de sempre. Mas a gestão revela-se inflexível em seguir com soluções que já foram rejeitadas por toda a comunidade que vá além da sua bolha de fiéis apoiadores, cada vez mais reduzida. 

    Assim, em meio ao caos instaurado, não resta alternativa à reitoria senão a revogação do Aeda da Fome, e trabalhar para unir a Uerj em torno de um modelo alternativo ao da austeridade, que honre a sua história de lutas e de inclusão. É hora de mostrar que a palavra autoridade não rima com autoritarismo, mas com liderança de uma comunidade universitária de estudantes, técnicos e docentes, que esperam participar da reconstrução do modelo de universidade pública, gratuita, socialmente referenciada, laica e de excelência.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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