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    Marcia Carmo

    Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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    Uruguai: Mujica foi decisivo para eleição presidencial no primeiro turno, mas "esperança" será definida no segundo turno

    "No segundo turno, suas declarações voltarão a ser fundamentais para a possível eleição de Orsi. Tudo dependerá de sua saúde", avalia Marcia Carmo

    José 'Pepe' Mujica (Foto: Reuters)

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    A eleição presidencial uruguaia será definida no segundo turno no dia 24 de novembro. Com 99,92% da apuração, o candidato do ex-presidente Pepe Mujica, Yamandú Orsi, da Frente Ampla, de esquerda, foi o mais votado, com 43,94% dos votos. Mas sua votação foi insuficiente para a vitória no primeiro turno, realizado neste domingo (27). Para vencer, ele deveria ter recebido, pelo menos, 50% mais um voto.

    O segundo colocado na disputa para governar o país de pouco mais de três milhões de habitantes foi o governista e veterinário Álvaro Delgado, do conservador Partido Nacional (Brancos), que recebeu 26,77%. A popularidade do presidente Lacalle Pou não foi transferida nas urnas para Delgado, que foi integrante do seu governo.

    Mujica, por sua vez, foi decisivo para a votação expressiva em Orsi, que é historiador e ex-prefeito de Canelones, a segunda maior cidade do país – ou ‘paisito’ (‘paisinho’, como os uruguaios se referem carinhosamente ao próprio país). De cadeira de rodas, Mujica, de 89 anos, votou e voltou a falar que está na etapa de despedida.

    Num ato de campanha de Orsi, no fim de semana anterior à eleição, ele levou eleitores às lágrimas ao dizer que sabe que está chegando a hora da sua partida. “Estou lutando contra a morte”, disse. Mujica foi diagnosticado, neste ano, com câncer no esôfago. “Mas não estou triste porque sei que vocês vão continuar essa luta”, disse no palanque, observado por sua companheira de décadas, a ex-senadora e ex-vice-presidente Lucía Topolansky.

    No segundo turno, suas declarações voltarão a ser fundamentais para a possível eleição de Orsi. Tudo dependerá de sua saúde. O próximo presidente do Uruguai tomará posse em março. A Frente Ampla governou o país durante três mandatos seguidos por 15 anos até 2019, quando Lacalle Pou venceu a eleição no segundo turno. Sua eleição foi possível porque os partidos tradicionais (entre os mais antigos do mundo), Partido Nacional e Partido Colorado se uniram e formaram uma ampla coalizão, incluindo o então novato Cabildo Aberto, de direita, fundado por um general da reserva.

    Agora, a dúvida é se o que ocorreu em 2019 poderá voltar a ocorrer. No primeiro turno, o Partido Colorado concorreu com um candidato que declarou admiração pelo presidente argentino Javier Milei. E que já disse que apoiará Delgado. Na noite de domingo, Yamandú Orsi disse que “ganhou a esperança”. E vai trabalhar para que ela confirme a vitória no segundo turno. Com um tabuleiro político regional fragmentado e tão diferente do que vimos no início do século 21 (Lula, Kirchner, Bachelet, Evo…), a eleição uruguaia merecerá atenção.

    Em seu discurso, no fechamento da campanha de Orsi, no primeiro turno, as palavras de Mujica levaram o público às lágrimas. “Sou um idoso que está perto de partir para um lugar de onde não se retorna, mas estou feliz porque sei que quando meus braços partam, haverá milhares mantendo essa luta”, disse o ex-presidente. Na entrevista que nos concedeu este ano, em sua casa, no Uruguai, Mujica disse que não acredita na vida além da morte e que a vida é aqui.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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