Vacilão vilipendia a vacinação
O presidente vacilão vilipendia a vacina e a vacinação. Nas últimas semanas, apareceu em vídeo fazendo voz de falsete de maneira homofóbica desdenhando de quem demonstra bom senso e inteligência ao temer a pandemia e desejar vacinar-se
Vacilão é uma gíria muito antiga que já foi dicionarizada. Segundo o site Dicionário Informalsignifica antipático, desagradável, sacana, otário. A conjuntura brasileira atual nos permite adicionar Bolsonaro como mais um sinônimo de vacilão.
O presidente vacilão vilipendia a vacina e a vacinação. Nas últimas semanas, apareceu em vídeo fazendo voz de falsete de maneira homofóbica desdenhando de quem demonstra bom senso e inteligência ao temer a pandemia e desejar vacinar-se.
No mesmo dia em que foi apresentada a segunda versão do ainda insuficiente plano de vacinação desenvolvido pela equipe do ministro “grande especialista em logística” (pobre do Brasil se, durante uma guerra – toc, toc, toc, bato na madeira –, dependermos de seu conhecimento), o vacilão declarou, no programa do apresentador “sangue, porrada e bala”, José Luiz Datena, que não tomará vacina nenhuma contra a Covid-19. O povo brasileiro já está de saco cheio do vacilão e deseja que ele, ao invés de vacina, vá tomar outra coisa.
No dia 17 de dezembro, em goleada histórica sobre o vacilão, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a vacinação é obrigatória, embora ninguém possa ser levado à força para tomá-la. Na visão deste tribunal, as necessidades de saúde pública sobrepõem-se ao direito individual. Esta decisão assegurou a governadores e prefeitos o direito de implementarem medidas restritivas para quem não tomar a vacina, mesmo que a União seja contrária à vacinação.
Não satisfeito com a derrota, o vacilão abriu a rede de saneamento básico que traz consigo para criticar o STF. Falou que isso poderia colocar o cidadão que recusa-se a vacinar-se em “prisão domiciliar”. Ele desconhece a história do país que desgoverna. Nós temos uma plêiade de vacinas obrigatórias no Brasil e nunca ninguém foi preso por não tomá-las, ainda que aquele que não imunize-se fique sujeito a sanções.
O vacilão continuou a despejar metros cúbicos de dejetos incoerentes ao afirmar que “o cara pode falar quero tomar, mas não tem”. Ei, vacilão! Se não houver vacina para todos a culpa é tua porque o teu governo é que deve prover, adquirir vacinas e insumos necessários para que todos sejam vacinados!
Mesmo o procurador-geral da República, indicado pelo vacilão, em seu parecer ao STF, afirmou que o Estado não pode coagir fisicamente o indivíduo a ser vacinado, mas pode aplicar restrições para incentivar o cidadão a se vacinar.
O vacilão sabe que está errado, mas precisa mobilizar seus seguidores falando este monte de baboseiras. Todos nos lembramos que ele afirmou que a Covid-19 era uma “gripezinha” e que o histórico dele de atleta de flexão de pescoço faria com que, se fosse infectado, tivesse, apenas, sintomas leves. Contudo, quando houve suspeita de que teria sido infectado após viagem aos EUA, o vacilão submeteu-se a exames, utilizando nomes disfarçados para não macular sua imagem de mito, de super-homem. Ele conhece, perfeitamente, os riscos da doença e tem consciência de que, tal como ocorreu com seu patrão nos EUA, a pandemia pode jogar o seu sonho de reeleição na latrina, aliás um local que seus pronunciamentos indicam que ele conhece muito bem.
Aqueles que afirmam que não irão vacinar-se devem preparar-se para tornarem-se páreas mundiais. As companhias aéreas já deram indicativos de que proibirão cidadãos não vacinados de entrarem em seus aviões. Os outros países exigirão a comprovação de vacinação de todos aqueles que demandarem vistos de entrada em seus consulados ou embaixadas ou que tenham que passar pelo controle de suas fronteiras. Sem vacina serão proibidos de entrar em outros países. Nem todo governante é tão irresponsável quanto o vacilão.
O general “especialista em logística” e o vacilão não entendem por que a população está tão “ansiosa” e tem “pressa” para vacinar-se. Para ambos, cerca de sete milhões de infectados e mais de 186 mil mortes não é razão suficiente para que o cidadão fique tão ansioso e apressado.
O Plano Nacional de Vacinação (PNV) apresentado pelo governo é mais um componente bizarro em toda esta crise da pandemia. Já foram apresentadas duas versões. O primeiro plano foi veio a público no sábado, dia 12 de dezembro. Não era nada detalhado e assemelhava-se mais a um plano de intenção sem datas precisas, sem dados precisos e deixando de fora da vacinação prioritária uma série de grupos sociais que estão entre os socialmente mais vulneráveis. Além disso, trazia as assinaturas de diversos especialistas que sequer conheciam-no. Fraude! Mais uma na conta do vacilão.
Houve uma grita geral. A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) teceu sérias críticas a este plano de vacinação, como a ausência dos povos tradicionais entre os grupos prioritários para a vacinação. Como consequência, os povos tradicionais foram incluídos no novo plano apresentado no dia 16 de dezembro.
O plano do dia 12 de dezembro informava que o governo só compraria vacinas de dois fabricantes a Pfizer e a AstraZeneca. Esta última fabrica a vacina desenvolvida pela universidade de Oxford, na Inglaterra, que será produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Não previa a compra de vacina de nenhum outro fabricante nem a Coronavac, desenvolvida na China e que será fabricada pelo Instituto Butantan, em São Paulo. O plano não explica qual o motivo de concentrar-se na aquisição dessas duas vacinas. Isso é mais surpreendente porque já foi amplamente divulgado que nenhum fabricante terá condições de suprir grandes quantidades de doses de vacina. Todos os países governados por pessoas sérias estão adquirindo doses de vacinas de todos os laboratórios que a produzem para poderem assegurar uma ampla cobertura da população. A ausência da Coronavac deste plano inicial é mais surpreendente porque ela será fabricada no Brasil e já foi testada em mais de um milhão de chineses, apresentando baixo índice de efeitos colaterais leves. Esta ausência deve-se ao fato de que o vacilão precisa obedecer às ordens do Departamento de Estado dos EUA - inimigo declarado da China e de tudo o que é chinês – que não quer que o Brasil mantenha relações comerciais com a China. Deve-se também à briga política entre João Dória e o próprio vacilão, ambos mais interessados em cacifarem-se para a corrida eleitoral de 2022. A população brasileira é um mero e desimportante detalhe nesta briga política.
O novo plano assegura que serão compradas as vacinas que conseguirem a autorização provisória ou definitiva da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A decisão do STF acima mencionada, assegura a governos estaduais e prefeituras a aquisição de vacinas que tenham sido autorizadas por órgãos reguladores de outros países, mesmo que a Anvisa negue a autorização. Isto está previsto na Lei Federal 13.979/2020.
Segundo o último formato do PNV, a data de início da vacinação dependerá da autorização da Anvisa. Está previsto que as primeiras doses das vacinas sejam aplicadas cinco dias após esta agência autorizar seu uso.
O governo prometeu uma ampla campanha de informação sobre a importância da vacinação, necessária diante das atitudes inconsequentes do vacilão que já declarou que não se vacinará. Um dos motivos principais que impulsionou a Revolta da Vacina em 1904 foi a falta de esclarecimento para o povo sobre a importância da vacinação. Não foi difundida eficazmente para a população carioca informações sobre a vacinação em massa, quais os efeitos da vacina, porque vacinar-se e outras informações fundamentais que poderiam ter evitado ou enfraquecido a revolta popular.
A vacinação ainda tem muitos obstáculos a vencer, sobretudo no que concerne à logística (nosso general especialista ainda não teve oportunidade de nos brindar com todo o seu conhecimento a este respeito), à fabricação e à aquisição da quantidade de doses necessárias para vacinar os cidadãos brasileiros, à distribuição rápida e eficaz das doses das vacinas e à aquisição dos insumos e equipamentos necessários, entre outras questões. Da maneira como os fatos estão desenvolvendo-se, tudo indica que o governo do vacilão não tem competência para resolver estas questões. Devia deixá-las a cargo dos funcionários de carreira do Ministério da Saúde e dos cientistas brasileiros. Mas isso seria valorizar a ciência, os cientistas e os conhecimentos científicos, algo que não faz parte do perfil negacionista deste governo.
Outro problema a ser superado é a estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS). Subfinanciado ao longo dos 30 anos de sua existência, na atual conjuntura as equipes responsáveis pelo atendimento à família estão com carência de pessoal treinado para a execução da vacinação.
De positivo em toda esta crise temos o fato de que a pressão popular fez o vacilão recuar em alguns pontos importantes. Contudo, ele continua a manifestar-se contra a vacinação. Após o lançamento do segundo PNV, o vacilão abriu sua rede de particular de esgoto de onde saiu uma série de bobagens eivadas de ideias homofóbicas e preconceituosas. Afirmou que o governo não será responsável se, ao vacinar-se, o cidadão apresentar efeitos colaterais que o transformem em “jacaré” ou “super-homem”, que o façam “falar fino” ou façam “nascer barba em alguma mulher aí”, talquei?
Durante a pandemia, o vacilão cometeu vários crimes de responsabilidade que poderiam levar ao seu impedimento. Isso, contudo, não é do interesse da burguesia neocolonial brasileira. Seu impedimento poderia colocar em risco a aprovação das reformas entreguistas e humilhantes que ela deseja implementar no Brasil e ainda poderia levar à anulação da chapa eleita em 2018. A partir de 2021, em um possível impedimento ou anulação da chapa, quem assumiria a chefia do Executivo seria o Presidente da Câmara dos Deputados. Para esta burguesia, Rodrigo Maia, atual ocupante deste cargo, seria o nome ideal para assumir o Executivo. Por isto ela lutou para que ele fosse reconduzido ao cargo. O STF não o permitiu. Devido a esta decisão do tribunal, desenvolve-se uma luta acirrada pela presidência da Câmara dos Deputados. A vitória do candidato do vacilão é uma garantia de que nenhum processo de impedimento será aberto e analisado até 2022. A vitória de um nome indicado por Maia colocaria o governo do vacilão nas mãos do presidente da Câmara dos Deputados, assegurando as mudanças legais que permitiriam a implementação dos projetos entreguistas e antipopulares sem maiores problemas.
O Brasil não é para principiante. Como diria o Barão de Itararé, “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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