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    Henrique Fontana

    Deputado federal pelo PT-RS

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    Vacina contra a Covid-19: Brasil na contramão

    O governo brasileiro sequer definiu a compra de seringas que serão fundamentais para a realização das vacinações, apesar dos reiterados alertas de entidades ligadas à saúde. Quando se observa a verdadeira corrida de cada governante ao redor do mundo para garantir a vacina contra a Covid-19 para seus cidadãos, não resta qualquer dúvida quanto à irresponsabilidade do presidente Jair Bolsonaro,

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    O Brasil ocupa o trágico e vergonhoso segundo lugar no número de mortes por Covid-19. São mais de 180 mil vítimas fatais da pandemia desde março, ficando somente atrás dos norte-americanos – não por coincidência, os dois países nos quais os governantes, Trump e Bolsonaro, desde o início desdenharam a gravidade da doença. Mais revoltante ainda é que o Brasil será o último entre os países com maior número de óbitos a iniciar a vacinação. Reino Unido, Rússia e até os Estado Unidos já estão vacinando. México, Alemanha e Finlândia começam a imunizar nas próximas semanas. Nossa vizinha Argentina inicia a vacinação nos próximos dias. Enquanto isso, o Brasil se mantém oscilando entre o negacionismo e a incompetência. 

    Na visita recente a Porto Alegre, Bolsonaro afirmou de forma irresponsável que “a pandemia está no finalzinho”, quando todos os indicadores mostram o contrário: o aumento acelerado no número de casos em todas as regiões. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a cada dia diz uma coisa diferente sobre o início da vacinação: há uma semana, afirmou que ela seria feita entre março e junho, mas, pressionado pela opinião pública, é obrigado a se desmentir diariamente, mencionando datas aleatoriamente.

    No momento em que todas as nações se mobilizam para proteger suas populações, animadas com a descoberta de vacinas desenvolvidas por vários laboratórios científicos, recém agora, diante da pressão de amplos setores da sociedade, o governo apresenta um esboço de plano de vacinação, o qual já é contestado pelos próprios pesquisadores que assessoram o governo e denunciam que não leram a versão final. 

    Embora exista um vago posicionamento do Ministério de que nenhuma vacina está descartada, é escancarado o bullying do presidente e seus aliados mais próximos em relação à Coronavac.  Após o ministro haver anunciado a compra de 46 milhões de doses da vacina produzida por laboratório chinês, Bolsonaro afirmou que não permitiria a concretização do negócio, com base em preconceitos ideológicos que o mandatário coloca acima da vida dos brasileiros.

    Ao final de 2020, o governo federal tem apenas um acordo ainda não oficializado com a Oxford, enquanto outros países multiplicaram suas apostas em negócios fechados ou pelo menos iniciados com diferentes parceiros. Na semana passada, o governo anunciou que está em negociações com a Pfizer para uma eventual entrega de 70 milhões de doses. Acontece que os laboratórios, como é o caso da Pfizer, possuem encomendas contratadas por outros países, de modo que novas encomendas só seriam viáveis a partir do segundo semestre.

    Assim, o Brasil caminha na contramão do que faz o resto do mundo: diversificar as fontes de fornecimento das vacinas, tanto pela questão dos prazos quanto pelos volumes necessários de imunizantes. Mais previdente, a Argentina, por exemplo, já adquiriu 750 mil doses da Pfizer, 22 milhões da Oxford e 10 milhões da Sputnik. O México fez um acordo para comprar 34,4 milhões de doses da vacina Pfizer/BioNTech. Um primeiro lote com cerca de 250 mil doses deverá chegar aquele país em 17 de dezembro.

    Não se trata apenas de demora nas decisões. Basta ver como se deu a adesão do Brasil ao programa Covax Facility, uma ação internacional criada com o objetivo de promover a produção e o acesso global a vacinas contra a Covid-19. A Covax oferecia a possibilidade de que os governos escolhessem a modalidade de solicitação dos imunizantes, prevendo a cobertura de 10% a 50% da população de cada país. O Brasil optou por solicitar a menor taxa de cobertura permitida, apenas 10%. 

    O governo brasileiro sequer definiu a compra de seringas que serão fundamentais para a realização das vacinações, apesar dos reiterados alertas de entidades ligadas à saúde. Quando se observa a verdadeira corrida de cada governante ao redor do mundo para garantir a vacina contra a Covid-19 para seus cidadãos, não resta qualquer dúvida quanto à irresponsabilidade do presidente Jair Bolsonaro, que expõe ao risco de morte milhares de brasileiros que poderiam já estar sendo vacinados nos próximos dias. 

    Lutar pela vacina universal, denunciar o negacionismo e a postura criminosa do governo brasileiro, pressionar pela adoção de um plano nacional de vacinação sério e factível que contemple toda a população, tendo como base o Sistema Único de Saúde, são tarefas urgentes e necessárias, pois delas depende a vida e a saúde de milhões de brasileiros.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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