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    Davi Spilleir

    Mestre em Sustentabilidade, pesquisador de Economia Solidária pelo CIRIEC e pela ABPES

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    Vai ter preta recebendo o título de cidadã honorária paulistana, sim!

    Dona de um enorme arcabouço cultural e com um pensamento sofisticado, Conceição Evaristo ganhou notabilidade por seus escritos que relatam principalmente as dificuldades da população negra, uma literatura verdadeiramente negra, que chega a espantar pela lucidez e vivacidade com que traz ao debate as temáticas de discriminação racial, de gênero e de classe

    Conceição Tavares (Foto: Paulo Emílio)

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    Foram poucos os momentos em que estive tão contente quanto nesta semana, em que pude prestigiar, no dia 03, numa belíssima sessão na Câmara Municipal de São Paulo, proposta pelo vereador Eduardo Suplicy (PT), a condecoração de Conceição Evaristo ao título de Cidadã Honorária de São Paulo. 

    Conceição é a própria personificação da luta pelo movimento negro no Brasil, é uma escritora respeitada e conhecida mundialmente por sua militância e livros. Mas quem vê hoje a Profa. Conceição Evaristo, colhendo os louros e prestígio de seu talento e coerência, não imagina como para se firmar foram precisos diversos passos de formiguinha, quebrando paulatinamente as barreiras da pobreza e do racismo que se impunham tão vorazmente em sua vida.

    Mineira, Conceição Evaristo nasceu em 1946 em uma família bastante pobre, e desde cedo teve que dividir seu tempo entre sua família e o trabalho de doméstica, fato que retardou sua formação no curso normal, tendo ocorrido com Conceição já adulta, em 1971. Migrou ao Rio de Janeiro ainda na década 1970, quando iniciou seus estudos em Letras, na UFRJ. De lá pra cá, não parou mais de estudar, é mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, é doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense e professora visitante na UFMG.

    Dona de um enorme arcabouço cultural e com um pensamento sofisticado, Conceição ganhou notabilidade por seus escritos que relatam principalmente as dificuldades da população negra, uma literatura verdadeiramente negra, que chega a espantar pela lucidez e vivacidade com que traz ao debate as temáticas de discriminação racial, de gênero e de classe. E mais do que isso, Conceição é uma militante importante, ativa e engajada dos movimentos de valorização da cultura negra em nosso país.

    Seu debut como escritora ocorreu ainda na década de 1990, quando começou a contribuir com textos para as antologias dos Cadernos Negros, mas seus principais livros são Ponciá Vivêncio (2003), que tem sido temas de estudos em diversas universidades e leitura obrigatória para vestibulares, Insubmissas lágrimas de mulheres (2011), Olhos D’água (2014 e finalista do Prêmio Jabuti), porém a atualidade e relevância em todos seus escritos continuam latentes.

    Conceição, no auge de seus recém-completados 73 anos, é uma inspiração para todos aqueles que lutam pela dignidade humana. Conceição representa a esperança a um sem número de pessoas que possuem hoje dificuldade de encontrar representatividade e sentido de pertencimento para com sua raça. Conceição é um norte àqueles que são constantemente bombardeados e diminuídos pela criminosa tentativa de embranquecimento em diversas searas da vida.

    Por isso, é com enorme felicidade que digo e relato: Vai ter preta recebendo o título de cidadã honorária paulistana, sim! 

    Viva Conceição Evaristo!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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