Velhas amigas
A esquina nua esconde uma árvore que já foi sua
Quem desce uma de nossas ruas, num dos bairros de Piracicaba, se vê num abraço ancestral pelas árvores centenárias ali enraizadas. Espreitam-nos de cima com seus ramos altos e troncos enormes, mas numa esquina o flamboyant gigante desapareceu! Cimentado como uma lápide a esquina nua esconde uma árvore que já foi sua. É de chorar. Quanto demora para crescer uma árvore dessas?!
Existe, contudo, algo mais duro que a lápide sobre um flamboyant imolado, é a frieza de um coração empedernido. Omito a rua e o bairro da mencionada alameda onde estive anônimo como elas, pois há matadores de árvores, mal cuidadores e a administração provê mais os cortes que manutenção e plantios. Contrariando os princípios mais comezinhos, destruíram uma praça toda em Piracicaba, de mais de vinte árvores frondosas, a praça central Antônio Pádua Dutra, para pôr carros para... quem não sabe?!
Oxalá cuidássemos das árvores e praças como de igrejas, sem destruí-las para fazer as tais. São Francisco ainda assombra o mundo da natureza e do serviço da Igreja chã, desde a capelinha São Damião, a qual o santo era um gari mui alegre e livre de palácios e mosteiros.
Muitos rezam para São Francisco, reformador do catolicismo no século XIII, o qual aniversariou dia quatro deste mês e considerado o santo da Natureza. Mais que santo de altar e dos bichinhos, Francisco foi um jovem apaixonado pelas questões sociais e humanas. Aventurou-se na luta contra os mouros, numa das Cruzadas católicas ao Oriente. Lá estando, caiu em si das mentiras medievais que lhe contavam sobre os árabes, retorna doente à Europa e busca sentido concreto nos evangelhos. Consta que Francisco ainda voltou ao Oriente como peregrino e foi recebido pelo Sultão do Egito Malek al-Kamel, durante a quinta Cruzada, em 1219.
Atualmente, quanto ao genocídio sobre os palestinos, a voz do papa ressoa abstrata e circunscrita à praça São Pedro. A ONU está enfraquecida e sem forças para deter essa barbárie que nos envergonha, assim também o Catolicismo, o Judaísmo, o Hinduísmo, o Budismo e o Confucionismo. Todavia, grupos em todos os povos se levantam, mesmo entre os judeus, contra o sionismo predatório.
Nos países tropicais, contudo, matam-se árvores, queimam-nas. Daqui não podemos mais deter a devastação da Amazônia, a destruição do Pantanal, nem conter as geleiras da Antártida, mas podemos fazer a lição de casa, intransferível. Arborização consciente ou replantio de espécies propícias a calçadas, fiscalização adequada ou orientativa, denúncias, vídeos, pois cada árvore é muitas vidas microscópicas e polinizadores, bichinhos, aves, insetos, flores, beija-flores, chás curativos, frescor, umidade, aromas, matizes, beleza e saúde. São verdadeiras oferendas celestes galhadas como altares a céu aberto.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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