Vende-se o Brasil
Vivendo nos dias de hoje, Raul Seixas poderia perfeitamente compor uma nova versão para aquele sucesso de 1980. E ele nem precisaria se valer da ironia que usou, quando utilizou a imaginação e tratou o Brasil como um imóvel à disposição para os “gringos” alugarem
Exatamente no dia em que a morte de Raul Seixas completou 30 anos – 21 de agosto de 2019, 4ª feira da semana passada – o governo Jair Bolsonaro anunciou a lista de mais estatais que o governo pretende privatizar. Imediatamente me veio à lembrança um grande sucesso que o roqueiro baiano gravou em 1980, composição sua em parceria com Cláudio Roberto Andrade de Azevedo. A canção, “Aluga-se”, apresenta uma solução para a grave crise econômica que o nosso país vivia naquela época.
“A solução pro nosso povo eu vou dar / Negócio bom assim ninguém nunca viu / Tá tudo pronto aqui, é só vir pegar / A solução é alugar o Brasil”. A indústria estava parada. O PIB não crescia: era negativo ou apresentava crescimento baixo. As taxas de juros internacionais subiam, aumentando o déficit público brasileiro. A dívida interna dizimava o orçamento da União. As desigualdades sociais eram gritantes. O regime militar agonizava.
Se não tivesse morrido de forma precoce, aos 44 anos, e continuasse sua carreira como ídolo do pop-rock nacional, Raul teria hoje 74 anos. Vivendo nos dias de hoje, ele poderia perfeitamente compor uma nova versão para aquele sucesso de 1980. Inspiração não faltaria. E ele nem precisaria se valer da ironia que usou em 1980, quando utilizou a imaginação e tratou o Brasil como um imóvel à disposição para os “gringos” alugarem.
Lamentavelmente, agora bastaria a Raul Seixas apelar para a triste realidade de que Bolsonaro e sua equipe econômica estão realmente pondo o nosso país à venda. Em cerca de oito meses de gestão, o atual governo já vendeu o controle acionário da BR Distribuidora e privatizou a Transportadora de Gás (TAG), responsável por operar a rede de gasodutos nas regiões Norte e Nordeste. Também anunciou a decisão de vender oito das treze refinarias da Petrobras.
Em outra frente, o Ministério da Educação lançou um programa, o “Future-se”, que na prática representa a tentativa, ou o primeiro movimento, para privatizar a educação. Enquanto isso, discutimos no Senado a proposta de emenda Constitucional que destrói a Previdência Social brasileira, e a privatiza parcialmente para o sistema financeiro. No anúncio feito na semana passada, foram divulgados os nomes de nove companhias, que se somaram às oito que haviam sido anunciadas anteriormente, para serem vendidas.
A liquidação prometida por Bolsonaro e equipe inclui, entre outras, empresas como a Telebras, os Correios, o Serpro, a Dataprev, a Eletrobras e a Casa da Moeda. Também foi anunciado que a equipe econômica está autorizada a vender mais de 20 milhões de ações do Banco do Brasil, o que permitirá que o governo perca o controle acionário da instituição. Mais: o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, declarou que está sendo analisada uma possível privatização da Petrobras.
Foi também no dia do 30º aniversário da morte de Raul Seixas que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, manifestou seu apoio à intenção do governo de privatizar também a Eletrobras e suas subsidiárias. Privatizar o setor elétrico seria dar mais um passo largo na direção desse processo de desindustrialização do país que está em curso. A energia elétrica é um monopólio natural de caráter vital para qualquer Nação.
A indústria, as comunicações, a saúde pública, a segurança, a educação, o comércio, a conservação dos alimentos, ou seja, quase tudo depende desse setor. Vou lutar para que o Congresso Nacional não se dobre bovinamente aos caprichos do Palácio do Planalto e encare o assunto com a gravidade que ele merece. O Brasil tem que exercer a sua soberania. Que o governo venda uma parte das ações até pode ser considerado legítimo, porém, sem se desfazer do controle acionário da empresa. É nossa obrigação não permitir que os brasileiros percam o controle de uma empresa tão estratégica quanto a Eletrobras.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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