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    Valter Pomar

    Historiador e integrante da Direção Nacional do PT

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    Venezuela: a declaração conjunta Brasil-Colômbia

    "Este tipo de ingerência descarada no processo eleitoral, praticada pelos Estados Unidos e Europa, precisaria ser denunciada sempre"

    Presidentes Lula e Maduro durante encontro da Unasul em Brasília 29/05/2023 (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)

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    Brasil e Colômbia divulgaram, no dia 24 de agosto, uma "Declaração conjunta".

    A íntegra pode ser conferida aqui: Declaração conjunta de Brasil e Colômbia — Planalto (www.gov.br)

    Segundo a Declaração, Petro e Lula "permanecem convencidos de que a credibilidade do processo eleitoral somente poderá ser restabelecida mediante a publicação transparente dos dados desagregados por seção eleitoral e verificáveis".

    No plano subjetivo, não há o que dizer: os dois presidentes informam que somente ficarão convencidos acerca da vitória de Maduro se os resultados forem publicados de forma desagregada "por seção eleitoral e verificáveis".

    No plano diplomático, entretanto, não é nada trivial o questionamento à credibilidade do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela. Afinal, uma coisa é uma pessoa ou um partido fazerem isto; mas quando um governo comete este gesto, trata-se em algum nível de ingerência, ainda que possa ser explicada pelo fato de sermos parte do Acordos de Barbados.

    No plano político, contudo, é improvável (para ser otimista) que a "publicação transparente dos dados desagregados" consiga mudar a postura da oposição de extrema-direita.

    Muito mais provável é o seguinte: aqueles que antes mesmo da eleição estavam seguros de que ganhariam, que no dia da votação já estimulavam um golpe militar, que no dia seguinte denunciaram fraude e seguem denunciando, vão dizer que publicar agora os "dados desagregados" se trata de uma nova etapa do que consideram ser uma fraude.

    Se isso for verdade, então a solicitada "publicação transparente" pode criar as condições para que Colômbia e Brasil reconheçam o resultado, mas não vai "normalizar" a situação da Venezuela. 

    Isto posto, a crítica e a solicitação feita pela Declaração não é inócua.

    Ao menos no curtíssimo prazo, mesmo que não seja esse o propósito, o texto da Declaração na prática contribui para prolongar a pressão da oposição da extrema direita. Uma oposição que não está interessada no "diálogo pacífico" e na "convivência democrática na diversidade". 

    Mais grave ainda, uma oposição que não respeita e quer subverter a Constituição venezuelana.

    Cabe perguntar por quais motivos os governos da Colômbia e do Brasil publicam uma Declaração cujo efeito prático imediato é prolongar a pressão de uma oposição que, além de todos os outros problemas, é aliada da extrema-direita brasileira e colombiana?

    Talvez um dos motivos, ao menos no caso brasileiro, seja o profundo apego à democracia, acima de tudo e de todos.

    Um apego tão grande que nos leva a questionar a justiça de lá, no mesmíssimo momento em que a extrema-direita questiona a justiça daqui.

    Mas se o apego à democracia for mesmo um dos motivos, vale registrar uma "curiosidade": ao fazer uma justa crítica às sanções unilaterais (embora sem citar quem as pratica), a Declaração cita que tais sanções são "contrárias ao direito internacional e prejudicam a população dos países sancionados, em especial as camadas mais vulneráveis".

    Verdade.

    Mas também é verdade que as sanções afetam a democracia

    Aliás, este é um dos objetivos centrais das sanções: fazer "a economia gemer", prejudicar a população mais vulnerável e reduzir o apoio ao governo, com o objetivo de favorecer a oposição.

    Este tipo de ingerência descarada no processo eleitoral, praticada pelos Estados Unidos e Europa, precisaria ser denunciada sempre, sob pena de reforçar uma interpretação parcial e enviesada dos problemas ocorridos no processo eleitoral. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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