Venezuela: horas decisivas
Vitória política e eleitoral do chavismo é possível, necessária, e tem um sentido progressivo, reforçando a luta contra a extrema direita na América Latina
A Venezuela chama atenção do mundo neste fim de semana, ofuscando a coruscante Olimpíadas de 2024 realizada na França.
As eleições neste domingo (28) serão o maior teste de resistência do Chavismo, que conquistou a primeira eleição presidencial em 1998 e governa o país por mais de 25 anos.
É inegável as implicações geopolíticas do processo eleitoral venezuelano e também o caráter simbólico das eleições no continente, polarizado por uma dura disputa entre as forças políticas de esquerda e progressistas diante de uma escalada da extrema direita e da velha direita neoliberal, que triunfou na Argentina [com Milei], no Uruguai e no Paraguai e desestabilizou governos no Equador e Peru — e ainda tentou o recurso do golpe de estado no Brasil e na Bolívia
O processo eleitoral acontece com dez candidatos na disputa e aponta para um quadro de indefinição entre o atual presidente Nicolás Maduro Moro (Partido Socialista Unificado da Venezuela) e o ex-diplomata Edmundo González (Plataforma Unitária Democrática), aliado da ex-deputada extremista Maria Corina Machado. Não há pesquisas eleitorais confiáveis no país, todas estão contaminadas pela radicalização política em curso.
Após 2015, é a primeira eleição presidencial com a participação de todos os partidos oposicionistas. Uma informação adicional: o Partido Comunista da Venezuela (PCV) apoia um dos candidatos da direita.
Guerra econômica, hiperinflação e migração massiva
O governo bolivariano enfrentou ao longo de quase uma década uma brutal guerra econômica, impulsionada e dirigida pelo governo norte-americano, com sanções comerciais, confisco de recursos financeiros, confisco de ativos em ouro depositados na Inglaterra e apropriação ilegal e criminosa de empresas venezuelanas, como distribuidora e refinadora de petróleo Citgo, uma subsidiária da empresa estatal venezuelana PDVSA, com sede em Houston, no Texas.
Além disso, o governo de Maduro sofreu um profundo isolamento político e diplomático: Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e União Europeia passaram a não reconhecer a legitimidade do governo Maduro e tentaram impor um governo fantoche no país, nomeando um bisonho “presidente-encarregado”, Juan Guaidó, que foi esvaziado e desmoralizado, em pouco mais de dois anos.
A guerra econômica provocou a escassez de alimentos e de produtos básicos para a sobrevivência cotidiana da população, a inflação atingiu quatrocentos mil por cento, o PIB desabou quase 80%. os salários foram brutalmente desvalorizados e achatados e mais de 6 milhões de venezuelanos deixaram o país. Um crise severa, e sem precedentes na história da nação de Simón Bolívar.
No entanto, nos últimos três anos, a Venezuela iniciou um processo de recuperação econômica, com o controle da hiperinflação, o fim do desabastecimento generalizado e a abertura de empresas de pequeno e médio porte. A volta parcial ao mercado petroleiro mundial permitiu um fluxo de moeda forte e alenta a atividade econômica no país.
Turbulência política
Apesar das diversas tentativas de pactos políticos entre o governo bolivariano e as forças de oposição, como os Acordos de Barbados, a tensão política só aumentou nos últimos meses, com a proximidade das eleições presidenciais. E tudo indica que irá continuar independentemente do resultado eleitoral de domingo.
O principal candidato da oposição de extrema direita, Edmundo González, não firmou o pacto, assinado entre o governo e a oposição, para respeitar o resultado eleitoral, o que reforça o questionamento sobre o caráter antidemocrático da candidatura da coalizão liderada por Maria Corina Machado.
Horas decisivas…
Horas decisivas para a continuidade ou não processo bolivariano iniciado pelo comandante Hugo Chávez, que garantiu inúmeras conquistas econômicas e sociais para a classe trabalhadora da Venezuela e ajudou Cuba sobreviver as consequência do fim da União Soviética e dos efeitos devastadores do “Período Especial”, durante os meados dos anos 90. Um legado e feito extraordinário do governo bolivariano.
Apesar da fatiga e do cansaço de segmentos populares do eleitorado chavista [o governo da então Nicarágua Sandinista viveu um processo desse tipo nas eleições presidenciais de 1989, provocado pela guerra dos EUA e dos contras e pela sabotagem econômica] e do desgaste de Maduro com setores da classe trabalhadora, efeito da defasagem salarial e das restrições crescentes ao direito de greve, uma vitória política e eleitoral do chavismo é possível, necessária, e tem um sentido progressivo, reforçando a luta contra a extrema direita na América Latina e no Caribe.
**Jornalista e escritor. Pós-Graduação em Ciência Política e autor dos livros ‘Brasil Sem Máscara — o governo Bolsonaro e a destruição do país [kotter, 2022] e de ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil’ Kotter, [2021].
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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